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O jornalismo esportivo do Brasil é “quadrado, formal e extremamente conservador”.
A constatação não é de IMPRENSA, mas de Antônio Serpa, secretário de redação do jornal argentino Olé.
O jornalista argentino, que, em 2010, morou no Rio de Janeiro para observar como o brasileiro vivia o clima de Copa do Mundo, critica o jeito “apagado” do jornalismo esportivo verde e amarelo. “É impressionante como vocês não conseguem levar essa alegria conhecida no mundo todo para o jornalismo. Aqui, pelo contrário, nós temos um estilo mais contido e durão, mas nossa cobertura é bem mais viva que a de vocês.”
O jornalista argentino se arrisca até mesmo a dizer o tipo de apresentador de que o Brasil precisa : “Falta para vocês mais Tiago Leifert e menos Galvão Bueno”.
Na constatação de Antônio Serpa, se o brasileiro é contido no jeito de fazer jornalismo televisivo, nas páginas impressas a situação é pior.
Tomando o Olé como exemplo, com frequência leem-se títulos como “Boca Caralho” ou “A puta que o pariu”. Ele explica que a utilização de palavrões não gera polêmica.
Lá o problema é fazer outros tipos de ironia que podem ferir a honra de um ou outro torcedor ou jogador. Aqui no Brasil, um título do Lance! que fazia trocadilhos como “PQPaulinho” foi motivo de grande polêmica no ano passado.
Em tom provocativo, Antônio Serpa explica à IMPRENSA que o Lance! até tenta ousar e ter a irreverência do Olé, mas não consegue. “Sem nenhuma soberba, o Lance! tenta ser como nós, um veículo popular e que fale com as grandes massas de torcedores, mas eles não conseguem chegar a esse ponto”, destaca.
De forma política e sem provocações, o editor-chefe do Lance!, Luiz Fernando Gomes, explica que não vê uma tentativa de um jornal copiar o outro, mas, sim, diferenças culturais que fazem com que cada um tenha seu estilo próprio. “A cultura argentina é menos moralista. Aqui, se cobra muita coisa e gera-se bastante polêmica.”
Luiz Fernando Gomes admite que o jornal do país vizinho tem um estilo mais picante do que o Lance!. “Eles publicam capas mais provocativas, mas vivem realidades distintas. Possuem apenas dois clubes. Nós temos mais ! Com isso, aumentam as reações.”
Outro ponto caro aos jornalistas brasileiros, mas que na Argentina é tratado com normalidade, é tornar público para qual time se torce. “Aqui, declaramos nossos times e não existe nenhum problema nisso. Somos humanos, também torcemos, não podemos ficar omitindo isso do torcedor”, diz Antônio Serpa. O simples fato de assumir o time é algo comum no ambiente jornalístico do país. Nada que leve jornalista a ser perseguido por torcidas.
Pelo menos em dois pontos existe concordância entre o estilo das duas redações: não gerar violência. Luiz Fernando Gomes explica que este assunto é levado às últimas consequências na redação do Lance!. “A gente tem um código interno. São regras de atuação que dão o limite das coisas que podemos fazer. Devemos ser criativos, podemos gerar polêmica, mas o que não pode é passar dos limites e agredir um clube ou fomentar a rivalidade exacerbada.”
Luiz Fernando Gomes explica que, atualmente, com as redes sociais, não existe maior número de polêmicas, o que acontece é que elas estão mais expostas. “Elas são o que são. O que sempre foram. Isso faz parte do mundo em que vivemos, temos de nos acostumar.” Luiz Fernando Gomes admite que nunca pediu desculpas por alguma capa que tenha gerado polêmica. O jornalista reconhece que as polêmicas fazem parte do jogo, mas que a confiança e a tradição conquistadas não podem ser manchadas.
Luiz Fernando Gomes explica que a alma do Lance! é produzir conteúdo para torcedores. “Não lidamos com leitores ou internautas, estamos nos relacionando com torcedores, e isso faz toda a diferença.”
O Olé se considera também o jornal das torcidas, e seu principal foco é lidar com paixões. “Isso não muda, nosso foco é o torcedor, falar para ele em uma linguagem popular e que desperte a paixão que ele tem pelo esporte”, conclui Antônio Serpa.