Não sei.
Mas definitivamente merece que eu saia do personagem e fale seriamente pela primeira vez em meses. Notem que vou até escrever feito gente.
Eu acabei de assistir ao segundo episódio da biosérie do Chespirito e fiquei estupidamente emocionado com o quão relatable alguns momentos e cenas foram pra mim.
Vou falar delas, mas antes preciso dar o background:
Nesses 3 anos em que eu morei em São Paulo (2022-2024), eu tinha um propósito: criar algo foda. Foram 3 anos que passei longe de qualquer parente, sozinho, em um ambiente totalmente novo, onde minha única motivação era o meu trabalho (comecei a trabalhar com a Brasil Paralelo, inicialmente como editor do programa Rasta News). Com o sucesso do programa e da minha contribuição humorística na edição, me foi concedida a possibilidade de também colaborar escrevendo os roteiros.
Ainda em 2022, na metade do ano, a BP fez uma rodada de ideias e eu apresentei a ideia de um programa de comédia, totalmente ficcional, para toda a família, com fantoches. Algo que saísse do padrão de documentários e não fosse tão politizado; um humor livre como o das comédias dos anos 80-90, um entretenimento como não se faz mais hoje em dia.
E, por mais que a diretoria da empresa tivesse gostado da ideia, ela foi inicialmente negada.
Aí chega o início de 2023. Já estou consolidado como "o editor do Rasta News" e as pessoas gostam do meu trabalho tanto na edição quanto nos ocasionais roteiros que eu escrevia. Então decido me reunir com o Rasta (o apresentador do programa) e contar a ideia pra ele. O Jopa (roteirista principal do Rasta News) se juntou ao projeto também. O olhar artístico deles confirmou o meu: aquele projeto realmente tinha muito potencial, tal qual a química humorística que havia na nossa dinâmica de trabalho. Nos decidimos de uma coisa: iríamos fazer esse programa COM ou SEM a Brasil Paralelo. De um jeito ou de outro, aquilo precisava acontecer. A essa altura, os roteiros já estavam escritos e eu já havia encomendado a manufatura dos fantoches com meu próprio dinheiro.
Então eu e o Rasta nos juntamos e propomos a ideia novamente para a diretoria da BP. Dessa vez, o projeto foi aceito.
Gravamos o piloto em julho de 2023. Ele foi exibido em agosto e, para nossa surpresa, a audição não teve boas reações.
Ouvi comentários como "isso tá sem pé nem cabeça", "eu jamais deixaria minha filha assistir isso" e "você não serve para ser diretor".
O que eu fiz? Reeditei o piloto. Redublei cenas. Criei cenas novas com colagens.
Convocamos uma segunda audição. E, para nossa surpresa novamente, as reações dessa vez foram super positivas.
O programa havia sido aprovado e iríamos começar 2024 oficialmente filmando a primeira temporada.
Chegam as férias de verão e tudo parece uma alegria.
Até que, passadas as férias, vimos que o projeto não estava realmente indo pra frente. Era reunião atrás de reunião, reunião pra marcar reunião, reunião semanal de sala de roteirista pra cada episódio, parecia tudo muito travado na burocracia interna, até finalmente em abril chegar a reunião dizendo que o projeto iria ser colocado no congelador por haverem outras prioridades no momento.
Então, eu, o Rasta e o Jopa tivemos que nos reagrupar novamente. A ideia agora era de fazer o projeto na guerrilha mesmo, low-budget, por fora da BP (até porque, a essa altura, eu já tinha praticamente todos os fantoches e props). Mas decidimos dar uma última tentativa e falar novamente com a diretoria da BP. Eles gostavam da ideia e queriam que acontecesse, mas percebemos que ainda não havia muita confiança. Nisso, foram dias fazendo reunião atrás de reunião, plano de filmagem, planilha de orçamento, tudo da nossa própria boa vontade pra mostrar que podíamos fazer aquilo acontecer. Pra piorar, ainda houve a enchente no RS e a BP estava realocando todos seus recursos para fazer ações de ajuda.
E nesses dias, houve uma situação que foi bizarramente semelhante a uma cena da biosérie do Chespirito, no episódio 2 que saiu hoje. Trata-se da cena em que o Bolaños anda pra cima e pra baixo tentando convencer o diretor de produção do Canal 8 a acreditar no seu programa; sobretudo a cena em que o dono está andando apressado e Bolaños está (literalmente) correndo atrás dele pra contar suas ideias, até descendo o elevador junto com ele e indo até o limite.

Foi exatamente a cena que eu vivi. Sem tirar nem por. Igualzinho. Até na parte de descer o elevador junto com o diretor de produção da BP só pra poder ficar contando as ideias pra ele.
Fiquei espantado com o quão igual essa cena foi com esse momento que vivi. Até o Rubén na cena foi semelhante à presença que tive do Rasta: um artista veterano "intermediando" a conversa entre o artista sonhador e o diretor de produção.
Fora outros momentos desse episódio, como quando o Bolaños diz estar cansado de fazer uma comédia que sua família não entende. Foi exatamente o sentimento que me fez querer criar algo novo, diferente do padrão do conteúdo com o qual eu estava acostumado a trabalhar.
Enfim, após várias apresentações com orçamentos realistas e detalhados, planos de filmagem completos com cronogramas, design dos cenários e até os planos das câmeras, nos deram um produtor que comprou a briga e conseguimos gravar. Foram 7 diárias no estúdio da BP em São Paulo e 8 diárias nas montanhas Adirondack no interior do estado de Nova York, nos EUA. Um prazo bem apertado pra gravar toda a primeira temporada, e com uma equipe bem reduzida.
Mas posso falar?
Conseguimos gravar tudo com tempo de sobra, e ainda nos divertimos muito. Foram dias incríveis. O esforço e a dedicação de algo feito com carinho não tem preço.

Agora a série está nas últimas etapas de pós-produção e será lançada ainda esse ano.
E ver os pontos de semelhança entre essa minha jornada e a jornada do Bolaños, que sempre foi meu grande mestre, me deixou realmente emocionado de um jeito que eu não ficava há muito tempo.
Obviamente não tenho a mais ínfima pretensão de que essa série chegue aos pés da obra de Chespirito. Mas se, assim como ele, eu conseguir fazer adultos e crianças rirem juntos em suas casas e unir famílias, sinto que o conselho da mãe dele serviu pra mim também: valeu a pena.

E eu estou contando minha história porque espero que, assim como a história do Bolaños, ela sirva de inspiração para muitos outros jovens sonhadores que existem por aí. Acreditem nos seus sonhos e, acima de tudo, lutem por eles.
Se eu estiver sendo mala demais em fazer um tópico próprio pra falar disso, podem mesclar com o tópico principal da série. Mas, de todo modo, quero que essa mensagem seja ouvida e sirva de inspiração; e todavia acho que é um tópico legal para os usuários falarem sobre o impacto emocional dessa série (ou até do universo CH em geral) e compartilharem experiências do tipo.