Durante um tempo, isso pareceu uma lenda. Invenção de fãs chatos da internet que ficavam enchendo as caixas de e-mail do SBT para reclamar do tratamento dado às séries. Mas depois de muito tempo, a própria emissora admitiu a existência desses episódios e os exibiu com pompa e circunstância em sua programação, entre 2011 e 2015.
Mas há muito mais do que se pode imaginar. Pense na seguinte situação: dezenas de episódios que não vão ao ar há décadas em nenhum país do mundo. Alguns deles, por pura sorte, somente aqui no Brasil. Um mistério que os próprios fãs têm tentado desvendar há mais de uma década - e que ganha novas e estranhas camadas a cada ano.
Ao longo desse texto, você vai descobrir o que são o que chamamos de episódios perdidos mundiais - e porque eles são tão relevantes para a história de CH na América Latina.
Cena de "Os farofeiros - parte 2", do Chaves, de 1977
Bom, agora veja as imagens abaixo:
Episódio “O Encontro do Século”, do Chapolin, de 1975
Episódio “O Vampiro”, do Chapolin Colorado, de 1974.
Antes de discorrermos sobre esse assunto, é importante voltarmos para 1970 para entender como isso começou.
"Os Supergênios da Mesa Quadrada", em sua formação original, com Aníbal del Mar. Os episódios dessa fase estão perdidos.
Já tendo criado personagens como o Doutor Chapatin, em 1970 nasce o herói Chapolin Colorado, que então protagonizava um quadro em Supergenios. Pouco tempo depois, Bolaños ganha um programa próprio, com o nome de Supergenios — posteriormente, Chespirito. Nele, já atuavam Ramón Valdés, Maria Antonieta de las Nieves e Rubén Aguirre, que mais tarde se tornariam Seu Madruga, Chiquinha e Professor Girafales. Logo depois, os demais atores foram entrando para o elenco do programa, como Carlos Villagrán (Quico) e Florinda Meza (Dona Florinda).
Em 1972, Aguirre deixa o Canal 8 para ir trabalhar no Canal 2. Para suprir o espaço vago em seu programa — Rubén protagonizava com Bolaños o quadro Los Chifladitos — é criado um novo personagem: Chaves. Este se junta aos demais, como Chapolin e Dr. Chapatin.
No ano seguinte, em 1973, os canais 2 e 8 se fundem, formando o que hoje é o conglomerado Televisa. O programa Chespirito deixa de existir e Chaves e Chapolin se tornam séries independentes. Aqui, então, começava de fato a trajetória de sucesso dos personagens de Bolaños.
Carlos Villagrán deixa as séries em 1978 e Ramón Valdés, em 1979 — voltando em 1981 para um único ano de atuação. Chapolin sai do ar em 1979 e Chaves, em 1980, para serem esquetes do novo Programa Chespirito, que unia ainda os personagens Dr. Chapatin, Chaparrón Bonaparte e Chompiras. A série foi produzida por mais quinze anos. Chaves e Chapolin ficaram até 1992 no ar e os demais quadros, até 25 de setembro de 1995, quando foi exibida a última edição do Programa Chespirito.
Assim, a imensa maioria dos episódios só pode ser vista, à época, apenas uma vez pelos espectadores mexicanos. Entretanto, a cada ano os fãs eram brindados com muitas “reprises” dos episódios: as regravações.
Uma mesma história, três versões diferentes: a saga das novas vizinhas.
O mesmo ocorreu a dezenas de histórias. Na maioria dos casos, essas regravações contavam com atores diferentes. É o que aconteceu com boa parte das tramas produzidas em 1974 em Chaves, as quais não contavam com Maria Antonieta de las Nieves, a Chiquinha, que nesse ano foi atuar em um canal concorrente. Após a sua volta, em 1975, Chespirito regravou diversos episódios, como O Disco Voador, O Calo do Senhor Barriga e Os Espíritos Zombeteiros, já com a participação da Chiquinha. Essa rotina de regravações seguiu até o último ano, 1995.
A quantidade exata de episódios comercializados é desconhecida. Porém, alguns deles foram desaparecendo dos canais estrangeiros — assim como das reprises no México — a partir da década de 1990. Como o catálogo de episódios era renovado pelos canais junto à Televisa, alguns capítulos simplesmente pararam de ser exibidos — à exceção do Brasil, onde nenhum episódio desapareceu dessa maneira (os perdidos brasileiros serão abordados logo mais).
O exemplo mais claro desse “sumiço” é de Um Astro Cai na Vila, a famosa história com o ator Hector Bonilla, de 1979.
Originalmente, esse episódio tem duas partes. Ambas eram distribuídas normalmente pela Televisa durante um bom tempo, até que, subitamente, a primeira parte desapareceu. Por aqui, até onde se sabe, apenas a segunda parte foi exibida pelo SBT.
Em 2011, o porto-riquenho Reniet Ramirez, autor do site Chespirito.org, vasculhou seus arquivos de VHSs, gravados durante a década de 1990. Ele, então, encontrou a gravação da primeira parte do episódio, a qual foi disponibilizada no Youtube:
Outro caso muito famoso nas redes é a terceira parte de Os Piratas, do Chapolin Colorado, de 1975. Ele foi exibido na íntegra duas vezes, na década de 1970. Depois disso, a parte final deixou de ser distribuída. Até o começo dos anos 2000, a segunda parte da história era exibida com o final onde Florinda Meza anunciava a sequência do episódio, além dos créditos finais. A partir dos anos de 2000, a Televisa passou a distribuir o episódio sem o anúncio e com créditos diferentes, que provavelmente são da terceira parte. Veja:
Em nenhum outro país esses capítulos são exibidos, quer seja no México, na Argentina, Colômbia, Brasil, onde for. E o mesmo aconteceu a outras dezenas de episódios.
Através de antigos exemplares da revista Tele Guía, do México, que publicava as sinopses dos episódios, os fãs encontraram evidências de muitos capítulos então desconhecidos.
É o exemplo de histórias tão curiosas quanto surpreendentes, como O Papagaio do Quico (1975), Goteiras na Casa do Seu Madruga (1973) e O Encontro do Século (1975).
Reprodução de uma revista Tele Guía, de 1974, que anuncia a sinopse do episódio perdido “Aristocratas vemos, gatunos não sabemos” (a versão exibida normalmente pela Televisa é de 1978). (reprodução/Blog La Chicharra)
A esses capítulos, os fãs deram o nome de “episódios perdidos mundiais”, por não serem transmitidos em nenhuma parte do mundo.
Além dessa caçada por capítulos, os fãs ordenaram as exibições das séries de acordo com suas temporadas, em um trabalho iniciado pelo fã Thomas Henrique Velloso, já falecido, na “Lista de Episódios CH”, hoje alimentada pelo Fórum Chaves.
Entre 1984 e 1992, o SBT foi adquirindo diversos lotes de episódios — as séries nunca foram compradas em sua totalidade. Ao longo desse período, vários episódios foram indo e voltando na programação, o que originou a história dos episódios perdidos — que serão abordados logo mais.
Ao contrário do que fizeram as emissoras estrangeiras, o SBT nunca renovou seu acervo com a Televisa. Ou seja, não parou de exibir certos episódios que a cadeia mexicana não distribuía mais. Dessa forma, o Brasil é o único país que ainda assiste a alguns capítulos das séries.
Chaves recita o poema do “cão arrependido” em “Um Festival de Vizinhos” (1976) - episódio que vai ao ar hoje apenas no SBT.
Assim como ocorre aos capítulos Ser pintor é uma questão de talento (1976), Errar é humano (1978) e Muitas Marteladas — parte 2 (1974), do Chaves, e O contrabando/As pulgas amestradas (1978), do Chapolin. Apesar de serem transmitidos normalmente no Brasil, nenhum outro país possui tais episódios atualmente. Isso porque o SBT não renovou seu catálogo, o que acabou por “salvar” esses episódios do arquivo.
Como citado anteriormente, o canal paulista foi adquirindo as séries em lotes, datados de 1984, 1988, 1990 e 1992. Os anos marcam as estreias de um novo lote de episódios no Brasil — e a consequente saída de vários outros.
"A volta dos espíritos zombeteiros" (1974): clássico que ficou por muitos anos fora do ar no SBT.
Com o advento da internet, os fãs começaram a se reunir em comunidades virtuais e a compartilhar seus conhecimentos e anotações. Graças às gravações de vários fãs, alguns capítulos que foram exibidos entre 1984 e 1992, mas que não eram mais transmitidos, foram sendo compartilhados por download, por venda de fitas e, posteriormente, no Youtube.
Pelo meio virtual, também começaram os movimentos de fãs pela volta dos “episódios perdidos” de Chaves e Chapolin. Quando questionado, o SBT dizia não haver nada escondido. Eventualmente, alegava que alguns capítulos se perderam por deterioração ou falhas na imagem e áudio. Justificativas que nunca foram engolidas pelos fãs. E isso piorou quando, em 2003, o programa Falando Francamente, apresentado por Sônia Abrão, começou a exibir trechos de episódios “raros” das séries.
Nesse mesmo ano, o canal realizou uma remasterização de seu conteúdo de Chaves e Chapolin. E a partir de então, foram surgindo algumas novidades. Em setembro, a emissora exibiu oito episódios de Chaves, que estavam perdidos há mais de dez anos.
Além disso, o Chapolin trouxe boas notícias a partir de 2006. Depois de um longo período fora do ar, o “Polegar Vermelho” voltou a ser exibido, apenas aos sábados. E com surpresas: entre aquele ano e 2008, 43 episódios da série foram transmitidos pela primeira vez no canal, ou então voltaram ao ar. Casos de Cyrano de Bergerac (1978), Nós e os Fantasmas (1978) e Buffalo Bill (1976). Praticamente um lote inteiro estreava no SBT, o que fez com que os fãs ficassem grudados à TV a cada sábado, ansiosos pelas novidades. Mas havia muito mais por aparecer.
E nesses canais, os fãs tiveram uma grande surpresa. Começou no dia 31 de outubro, quando a TLN transmitiu o episódio Dando Sorte com Muito Azar, do Chaves, de 1979, que não era exibido no SBT desde 1992. No Cartoon Network, os “chavesmaníacos” foram surpreendidos já na estreia, em 1º de novembro, quando o canal exibiu a compilação As Apostas/Ladrões Espertos/Brincando de Escolinha (1973), que era então inédita no SBT.
E muito mais veio depois disso. Clássicos como Os Espíritos Zombeteiros, A Pichorra, Assistindo ao Jogo e Chapolin vemos, cérebro não sabemos foram exibidos pelos canais pagos. Ou seja: um conteúdo que o SBT tinha, mas não transmitia, estava indo ao ar em outro canal. Um movimento que gerou grande repercussão entre os fãs. E fez o SBT se mexer.
Murilo Fraga, o homem por trás das decisões sobre Chaves no SBT, durante o Festival SBT 30 Anos.
Ou seja: apenas uma versão de cada episódio estava autorizada a ir ao ar, o que reduziu em muito o número de capítulos transmitidos pela emissora. Dos cerca de 280 episódios que o SBT havia recebido, 40% deles eram “semelhantes”, segundo Fraga. Até aquele dia 2 de julho, o canal exibia apenas 153 episódios de Chaves, enquanto outros 52 capítulos conhecidos estavam simplesmente arquivados.
Poucos dias depois do especial, o SBT anunciava que havia encontrado episódios perdidos em seu catálogo. E em agosto, nove capítulos da série foram exibidos, dos quais sete eram perdidos e dois inéditos. Dos nove, apenas um não tinha sido transmitido pelo Cartoon Network: Panquecas pra Dentro, Barriga pra Fora, de 1977.
Com a grande divulgação feita pelo canal, a audiência foi satisfatória. Mas era pouco. Onde estavam as outras dezenas de episódios? A resposta veio em janeiro de 2012. O SBT tirou Chaves do horário noturno, substituindo-o por um especial infantil com os palhaços Patati e Patatá. O resultado foi queda no Ibope. Em poucos dias, o canal anunciava a volta da série, dessa vez com os episódios semelhantes.
“Remédio Duro de Engolir” (1972). O episódio mais antigo do Chaves que o SBT possui, e que voltou ao ar em 2012.
Chapolin também teve seus semelhantes. É o caso de “Um Bairro Muito Tranquilo”, de 1976.
Por fim, em 2014 o SBT transmitiu 14 episódios inéditos de Chaves, os quais foram dublados em 2012, com novas vozes para Chaves, Seu Madruga, Quico, entre outros personagens. Entre esses episódios, estão partes de sagas que, até então, estavam incompletas por aqui, como a quarta parte de O Festival da Boa Vizinhança ou o final de A Venda da Vila.
Entre o final de 2014 e o começo de 2015, o SBT exibiu os últimos episódios do Chaves que ainda restavam no arquivo: Natal, Noite de Paz, Oras, Bolas e as duas primeiras partes da versão de 1972 das novas vizinhas.
Mas nem tudo são flores. Ainda há episódios que não dão as caras no SBT há muitos anos, como Pintores Amadores (1973) e Como Pegar um Touro à Unha (1973). O primeiro voltou em maio no Multishow. O último, além de estar “perdido” no SBT, também não é mais distribuído pela Televisa. O mesmo ocorre com Gente Sim, Animal Não, de 1977. Sem contar que outros episódios que os fãs sequer conhecem podem estar nos arquivos do canal.
O mesmo acontece com o Chapolin. O “Polegar” tem vários episódios que há muito tempo não aparecem na programação — o que inclui um “perdido mundial”, O Planeta Vênus (1973), que tampouco é exibido pela Televisa.
Um dos motivos possíveis seria a perda definitiva de algumas das fitas originais nos arquivos da Televisa. A hipótese foi aventada em 2011 pelo ator Rubén Aguirre, o Professor Girafales, quando questionado por um fã durante uma twitcam. Aguirre alegou que, no começo, não se imaginava que as séries teriam um sucesso tão grande e, portanto, alguns episódios eram simplesmente gravados por cima de outros. Em 2015, durante o Programa do Ratinho, a atriz Florinda Meza contou que boa parte da novela que protagonizou, Milagro y Magía, perdeu-se ao longo do tempo.
Outra razão para a perda dos arquivos seria o grande terremoto de 1985, que arrasou a Cidade do México. Um dos edifícios que sofreram danos foi uma sede da Televisa, onde estaria seu acervo histórico. Essa justificativa já foi dada ao Fórum Chaves por uma pessoa ligada à Televisa e, também, a um usuário de um fórum estrangeiro sobre Chaves, que teria conversado há vários anos com um funcionário da Protele (unidade da Televisa responsável pelo arquivo de mídias):
(...) ele me disse que sabia dos famosos "episódios perdidos". Disse que se encontram no "limbo" da restauração. As fitas originais se encontram danificadas, pois durante o terremoto de 85, muitas fitas (não só do Chaves) sofreram danos muito severos. As partes em bom estado foram usadas para homenagens, por exemplo. Mas elas não são mais transmitidas porque os direitos das emissoras da América Latina já venceram e, quando foram renovados, não incluíram os episódios antes mencionados. Então, as emissoras latinas têm esses episódios como acervo histórico, mas não podem exibi-los a menos que paguem à Televisa para voltar a transmiti-los. Ironicamente, Televisa teria que pagar às mesmas para recuperar os episódios (coisa que não fazem por orgulho, acredito). Se a emissora x quiser voltar a transmiti-los em determinado momento, teria que pagar à Televisa um valor elevado. E na verdade, é complicado que qualquer emissora pague tanto por poucos episódios. Pode ser que cheguemos a vê-los pela Televisa em vários anos, quando as fitas sejam restauradas, mas o funcionário não foi nada otimista. Ele me comentou que estão na lista de espera - e vão na ordem dos mais antigos aos mais recentes. Alguns episódios dos Polivoces, da década de 1960, estão [à época] há mais de 26 anos em restauração!
Não confirmamos a veracidade das declarações anteriores - mas é algo plausível, sabendo-se da enorme bagunça que é hoje a Televisa no tratamento dos episódios de Chaves e Chapolin. Vários capítulos são transmitidos hoje em dia fora de ordem pela emissora - de tal maneira que, este ano, os fãs conseguiram que o Multishow exibisse as séries na ordem realmente cronológica.
Um exemplo disso são os episódios do Chaves em Acapulco. A Televisa os distribui na posição de sua reprise, que ocorreu entre o final de 1978 e o começo de 1979. Esses capítulos, na verdade, foram exibidos em maio de 1977.
Cena de “A Troca de Cérebros”, de 1971, exibida no especial sobre Bolaños no Biography Channel.
Outra alegação seria a censura, o que poderia explicar o desaparecimento do episódio O Encontro do Século, de 1975, onde Chespirito interpreta Adolf Hitler. Todavia, uma mesma versão é distribuída normalmente pela Televisa, esta datando de 1980. De acordo com teorias dos fãs, essa é uma possibilidade mais plausível para A bela adormecida era um senhor muito feio, do Chapolin Colorado. O episódio teve três versões, em 1974, 1976 e 1982. E nas três, a primeira parte não é distribuída pela Televisa, sendo o único caso do tipo conhecido até então.
Para o caso dos episódios mais antigos, produzidos entre 1971 e 1973, vários destes fazem parte do programa Chespirito que, como explicado antes, deu origem às séries Chaves e Chapolin. Quando se tornaram programas independentes, a Televisa organizou compilações de algumas esquetes realizadas no antigo programa Chespirito, formando episódios de meia hora. É o exemplo de O Mendigo Ladrão/Remédio Duro de Engolir/A Moeda Perdida, do Chaves, e Arruaceiros/Jantar Executivo 2/Os Prisioneiros, do Chapolin. Como essa série não é mais comercializada pela Televisa, seus quadros seguem em arquivo.
O Multishow, canal pago de propriedade da Globosat, que em maio começou a exibir Chaves e Chapolin, também tem encontrado dificuldades para conseguir esses episódios. A desorganização da emissora prejudicou, por exemplo, que o canal brasileiro conseguisse a dublagem clássica de alguns capítulos de Chaves, que precisaram ser redublados - caso, por exemplo, de O Vendedor de Refrescos, de 1974.
Em reportagem do UOL, a diretora de programação do Multishow, Tatiana Costa, disse que há esforços para conseguir os perdidos.
"A Televisa não tem tudo muito organizado. Alguns episódios vieram só com o áudio original. Sabíamos que existiam dublagens clássicas da Maga [estúdio que dublou 'Chaves' nos anos 80] e cobramos constantemente para ter todo o acervo. (...) Todos [os episódios com dublagem Maga] que faltavam conseguimos alinhar. Nós queremos agora os perdidos que não são mais distribuídos pela Televisa, mas que nós lutamos com eles semanalmente para conseguirmos adicionar ao nosso catálogo".
A emissora e fãs de todo o mundo fizeram esforços incríveis para recuperar o máximo possível de episódios, por meio de gravações conservadas em TVs de outros país, ou mesmo com gravações feitas pelos telespectadores. O artigo da Wikipédia sobre o assunto traz boas informações a respeito.
Já os fãs de Chaves e Chapolin têm alimentado poucas esperanças. A Televisa demonstrou zero interesse no assunto até então. O que fica pior considerando-se o que o canal tem feito com os episódios já em exibição: a emissora, na tentativa de melhorar a qualidade dos capítulos, realiza edições absurdas no material, cortando sequências inteiras, inserindo trechinhos aleatórios em algumas cenas dos episódios - tudo isso para mascarar falhas na imagem. Isso sem contar problemas como cropamento (corte) das extremidades da imagem, zoom e o tão falado noise reduction, efeito para “tentar” melhorar o áudio dos episódios, que na verdade só tem prejudicado a qualidade do som, que em alguns momentos fica quase inaudível.
Na recente pesquisa O perfil do fã de Chaves, realizada pelo Fórum Chaves, questionamos os fãs sobre os episódios perdidos mundiais. Dos 3.436 fãs que participaram, 85,1% disseram já ter ouvido falar desses capítulos. Além disso, 75,9% afirmaram que a Televisa deveria disponibilizar esses episódios em algum serviço de streaming, como Netflix e Youtube. Para 62,8%, eles deveriam voltar à televisão.
São inúmeras histórias que estamos perdendo. O final da terceira parte de Os Piratas, do Chapolin. O episódio em que o Chapolin enfrenta Hitler. O primeiro episódio do Chaves. O famoso episódio do “revolvinho do Chaves”. Um episódio em que surgem goteiras na casa do Seu Madruga. O episódio do papagaio do Quico. O final de histórias como Sem pichorra não tem festa (1976) e Tudo sobe, até os aviões (1977).
Inúmeras pérolas que o público latino não teve a oportunidade de assistir em pelo menos 30 anos. Um capítulo que falta ser escrito na história das séries CH, que em pouco tempo completarão 50 anos de existência.
Talvez a única emissora que mostrou interesse de fato nesses episódios seja o Multishow. Em 30 de janeiro de 2018, durante reunião com fãs das séries, no Rio de Janeiro, eles nos questionaram a respeito dos perdidos mundiais. De lá para cá, têm manifestado um esforço para buscar esses capítulos.
O canal, que já tem feito um esforço monumental para exibir a obra completa de Chaves e Chapolin, dublando episódios nunca antes transmitidos aqui no Brasil, pode dar um passo ainda maior se conseguir esses perdidos. Seria um feito incomparável e que colocaria a emissora na história não só de CH no Brasil, mas de todo o mundo.
Só que isso precisa da colaboração também da Televisa e do Grupo Chespirito. De um real esforço para que essa parte tão importante da história CH possa voltar a ver a luz. Produtos e ações de marketing envolvendo as séries são importantes e fundamentais para manter vivos esses personagens. Mas nenhuma dessas ações mercadológicas seria possível sem o trabalho desenvolvido lá atrás por Roberto Gómez Bolaños. Sem todas essas centenas de episódios que foram ao ar.
Por que não fazer um investimento nesse conteúdo tão raro? Por que não lançá-lo em streaming, pelo menos? Por que não lançá-lo em DVD? A Televisa e o Grupo Chespirito precisam ter a real noção da importância desse material que está hoje escondido. E o Multishow precisa ser enfático para buscar esse conteúdo. Quando o canal decidiu não exibir três capítulos por problemas de imagem, eles perceberam o quanto ansiamos por ver esse material raro e hilário de verdade. Dezenas de manifestações nas redes sociais que surtiram efeito e fizeram a emissora voltar atrás, colocando esses três episódios do Chapolin na TV, mesmo com todas as falhas de imagem.
Não é apenas pelos fãs. É pela preservação do próprio material histórico da Televisa e do produto de maior sucesso da emissora em todos os tempos. Que outras produções da emissora seguem tão fortes e presentes na América Latina? Que outras séries, novelas e humorísticos se tornaram referência com tal magnitude, colocando seus realizadores e seu elenco no panteão da arte latina? Somente Chaves e Chapolin chegaram tão longe. A Televisa, ao recuperar e dar o digno valor a esse conteúdo raro, estará cuidando de sua própria história.
É o mesmo que tem feito a BBC, na recuperação de Doctor Who. É o que tem feito a Disney na busca dos primeiros desenhos do Coelho Osvaldo. É o que outras empresas têm feito para recuperar seu acervo histórico.
Esse é um apelo que fazemos hoje. Que Multishow, Televisa e Grupo Chespirito tomem iniciativas de fato para encontrar esses episódios e exibi-los, encerrando de uma vez por todas esse capítulo em aberto na história CH.
Pedimos que todos os fãs estejam conosco nessa luta. Manifestem-se no grupo e nas redes sociais do Multishow e nas redes sociais oficiais das séries (El Chavo del Ocho e Chapulín Colorado). Já passou da hora de vermos essas histórias. Depois de ver todos os episódios disponíveis dublados, como está acontecendo agora, temos de vencer mais essa batalha, para conquistar os episódios perdidos mundiais.
Pela volta dos episódios perdidos!
Para mais detalhes sobre cada série e episódio, acesse a nossa Lista CH: listach
CHAVES
1973
1. Os ladrões/A marca do Chaves (05/03)
2. Os ladrões/Troca de bilhetes (19/03)
3. As bombinhas (30/04)
4. Episódio desconhecido (06/08)
5. Episódio desconhecido (13/08)
6. Como pegar um touro à unha (10/09)
7. Os ladrões/A caixa de madeira (08/10)
8. É proibido animais! (15/10)
9. Tortinhas de merengue (22/10)
10. Goteiras na casa do Seu Madruga (29/10)
11. Seu Madruga sapateiro - parte 2 (26/11)
1974
12. Vendendo balões (18/03)
13. Episódio desconhecido (13/05)
14. Os chifrinhos de nozes (17/06)
15. O curto circuito (24/06)
16. Muitas marteladas - parte 2 (15/07)
17. Professor Girafales apaixonado (02/09)
18. Enchendo balões (09/09)
19. A vendedora de flores/A loucura do Chaves (21/10)
1975
20. O dinheiro perdido (17/02)
21. Confusão de bilhetes (03/03)
22. O papagaio do Quico (17/03)
23. Regando plantas (27/10)
1976
24. Matando aula (05/01)
25. Ser pintor é uma questão de talento (02/02)
26. Seu Madruga apaixonado (01/03)
27. Os toureiros - parte 1 (05/04)
28. Brincando de escolinha (26/04)
29. Os exames - parte 1 (21/06)
30. Um festival de vizinhos - parte 2 (25/10)
31. Sem pichorra não tem festa - parte 2 (20/12)
1977
32. As crianças assistem à aula (31/01)
33. Quem não tem cão, caça com rato (28/02)
34. O jogo de beisebol (21/03)
1978
35. Episódio desconhecido (19/06)
36. A fonte dos desejos (17/07)
37. Errar é humano (02/10)
1979
38. Um astro cai na vila - parte 1 (26/03)
CHAPOLIN
1973
1. Dr. Chapatin/R.S.E. (14/03)
2. Episódio desconhecido (09/05)
3. Episódio desconhecido (20/06)
4. Dr. Chapatin/As caricaturas me fazem chorar (27/06)
5. Aventuras em Vênus (11/07)
6. Episódio desconhecido (18/07)
7. Conto de bruxas (24/08)
8. Em guerras médicas, a baioneta se chama bisturi (14/09)
9. Episódio desconhecido (07/12)
1974
10. A bela adormecida era um senhor muito feio - parte 1 (18/01)
11. Mais vale cem fantasmas voando que um na mão (15/02)
12. Dr. Chapatin/Os mortos são obedientes (22/03)
13. Mais vale uma mulher jovem, rica e bonita, do que uma velha, pobre e feia (05/04)
14. O bandido do hospital (12/04)
15. Salvem o meu bebê! (10/05)
16. Coleção de ladrões (17/05)
17. O cleptomaníaco (29/06)
18. O vampiro (28/09)
1975
19. A mansão dos fantasmas (16/01)
20. Episódio desconhecido (23/01)
21. Episódio desconhecido (30/01)
22. Episódio desconhecido (13/02)
23. O encontro do século (13/03)
24. Os piratas - parte 3 (10/04)
25. A forca (24/04)
26. R.S.E. (24/07)
27. O aprendiz de super-herói (14/08)
1976
28. Episódio desconhecido (05/02)
29. O caso de dois homens que eram tão parecidos, sobretudo um deles (22/04)
30. Bebê de carne sem osso (24/06)
31. O robô (12/08)
32. O bandido disfarçado (16/09)
33. A bela adormecida era um senhor muito feio - parte 1 (25/09)
34. O homem invisível (11/12)
35. Dr. Chapatin/O necrotério (18/12)
1977
36. Conferência sobre um Chapolin (01/01)
37. O matador de ratos - parte 1 (19/02)
38. Tudo sobe, até os aviões - parte 2 (14/09)
39. Os fantasmas do Velho Oeste (16/11)
1978
40. Dr. Chapatin e o contrabando/As pulgas amestradas (31/05)