O que trouxe você para o mundo dos mangás e para a franquia Pokémon?
Kusaka: Eu amo mangás desde que eu era criança, então eu sempre quis ser um mangaka. Eu entrei na franquia Pokémon por estar no lugar certo e no momento certo. Eu tinha 26 e os primeiros jogos de Pokémon estavam começando a ficar famosos, então a Nintendo queria fazer um mangá de Pokémon. Nesta época a Pokémon Company ainda não existia. Eu estava disponível naquele momento, então eles me ofereceram a chance de começar a trabalhar na série.
Yamamoto: Para mim, isso foi uma coisa de família. Todo mundo era fã de mangá: minha avó, meus pais, meus tios, todo mundo era otaku. Então em casa, havia muitos mangás. Meu pai também gostava de desenhar, e ele e meu avô sempre me diziam que eu deveria me tornar um mangaka. Eu recebi a proposta de Pokémon Special quando eu tinha terminado o meu último trabalho, e estava sendo rejeitado para novas ideias de mangás.
Kusaka foi o escritor da série desde o começo em 1997, mas não é a mesma situação de Yamamoto, que começou desenhando Pokémon Special quatro anos após o primeiro lançamento em 2001. Como foi continuar após a artista inicial sair?
Yamamoto: Eu tive um tempo tão ruim, que cheguei a ficar depressivo. Os leitores eram completamente contra a mudança de desenhista. Naquele tempo, a internet já exista, e eu cometi o erro de ler o que as pessoas estavam dizendo sobre mim. Eram muitas pessoas contra mim, dizendo que meus desenhos eram horríveis. Toda vez que eu abria um volume do mangá de Pokémon desenhado pela Mato, meu coração afundava. Então comecei a fazer o meu melhor para mudar a mentalidade dos leitores com a minha arte. Após dez anos, havia mais mensagens positivas do que negativas, e eu finalmente pude me sentir aliviado. Eu ouvi dizer que quando você está sob muita rejeição, você fica motivado para fazer o melhor. Já ouvi dizer que meus melhores momentos como artista do mangá Pokémon foram no início. Algumas pessoas me pedem para voltar ao meu estilo antigo de desenho.
Kusaka: Se eu tivesse que dizer qual o momento mais difícil dos últimos vinte anos, diria sem dúvidas que foi o momento quando a Mato resolveu nos deixar. Mas, se eu tivesse que dizer qual foi o melhor momento, diria que foi a oportunidade de conhecer o Yamamoto. Quando Mato ficou doente, recebi duas propostas: cancelar a série ou conseguir um novo desenhista. Eu insisti para procurarmos por um novo desenhista para continuar o mangá. Quase ninguém estava do meu lado, mas esse era o meu objetivo, e me sinto responsável for tornar isso realidade.
O quão complexo é trabalhar para colocar suas próprias ideias em franquia "estática" como Pokémon?
Kusaka: Trabalhar em Pokémon é difícil. Talvez a parte mais difícil é que temos que seguir a história de um outro produto, que é um video game. Nós não podemos criar um mangá que as pessoas que jogam os jogos não gostem. Por outro lado, se tudo for exatamente igual entre os jogos e a adaptação, o mangá seria chato. Quando você está jogando Pokémon, você se coloca no personagem, enquanto que um personagem estabelecido tem de conduzir a história em um mangá. Nós temos que criar bons personagens e surpreender as pessoas quando elas lerem. Este balanço entre o que deve ser mudado e o que deve ser mantido é provavelmente a parte mais difícil.
Yamamoto: Toda vez que sai um novo jogo, há uma equipe responsável por criar novos Pokémon e novos personagens humanos. Eu recebo este trabalho e tenho que seguir e respeitar algumas diretrizes, então eu tento anexar minha própria criatividade em tudo isso. Mas também há partes onde eu tenho mais liberdade, então eu solto a minha imaginação. Por exemplo, há uma ideia original no mangá feita por mim, que é a forma como cada personagem tem sua própria maneira de capturar Pokémon.
Pokémon Sun e Pokémon Moon foram lançados recentemente. Como vocês lidam com um novo jogo? Existe alguma coordenação para a adaptação do mangá?
Kusaka: Não. A única vantagem que temos é pegar o jogo dois meses antes do lançamento, para que possamos nos familiarizar com a história e criar novos roteiros. Isso é tudo. Depois, enquanto jogo, posso perguntar caso tenha alguma dúvida, mas na maioria das vezes não pergunto, porque posso receber uma resposta que me faça perder parte da minha liberdade criativa. Então, às vezes, apenas passo o meu feedback.
É difícil? Quero dizer, o primeiro passo antes de começar a trabalhar no mangá?
Kusaka: Durante o processo criativo, há sempre algumas partes que são mais difíceis do que as outras. Agora mesmo nós estamos jogando Pokémon Sun e Pokemon Moon, mas ainda não começamos a trabalhar na adaptação para o mangá. O que eu já vi é que se eu criar um roteiro exatamente igual ao do jogo, ele vai ser um roteiro bastante frio. Esta é provavelmente a adaptação de jogo mais difícil que já encaramos.
Yamamoto: Cada nova saga de Pokémon é difícil em termos de transformar o conteúdo do jogo em mangá. No meu caso, eu tenho que enfrentar situações de "estou com muito sono, mas não posso dormir agora, porque tenho que entregar esse trabalho em breve." Esta é a minha força criativa. Eu amo desenhar, mas algumas vezes eu não coloco tudo o que eu quero no papel por causa do curto espaço de tempo, e isso pode me fazer sofrer.
Falando sobre video games do ponto de vista da adaptação, qual é o tipo de coisa que vocês acham que são mais atraentes para o público?
Yamamoto: Cada novo jogo é uma evolução do anterior, cada um mais atraente e mais fácil de jogar. Isso é o que eu acho como jogador, não como alguém envolvido no projeto. Também gosto do fato de que os desenhos dos personagens não são extravagantes, eles não são perturbadores e nem muito elaborados, mas algo atraente para crianças e adultos. Eles nunca são muito arriscados do ponto de vista do design, mas são bastante nostálgicos. Um jogador experiente pode sempre se sentir familiarizado com eles.
Vocês fazem parte de uma das maiores franquias do mundo. Como se sentem?
Kusaka: É maravilhoso. Você pode encontrar toneladas de diferentes opiniões sobre o sucesso dos jogos de Pokémon, mas eu acho que é porque eles são jogos realmente bons e divertidos. Também é um jogo agradável para todos: dos meninos às meninas, das crianças aos adultos. Cada pessoa pode se divertir de uma maneira diferente. Isso é ótimo para o mangá também. Pessoas que começaram a ler quando crianças e agora são adultas, nós tentamos adicionar alguns elementos maduros ao roteiro, para que essa parte de leitores também possam desfrutar da história de uma perspectiva diferente dos leitores mais jovens.
Yamamoto: Para mim, é uma sensação maravilhosa. Eu me sinto grato. Ser responsável por um mangá que é uma adaptação de Pokémon pode parecer cansativo, mas tenho bastante liberdade e geralmente tenho permissão para adicionar alguns sentimentos que estou realmente experimentando na minha vida à história, como raiva ou angústia. Me considero muito sortudo e calmo, e eu acho que é porque as pessoas têm se acostumado ao fato de que o mangá reflete o que você pode ver nos jogos, enquanto ainda descobre algumas novas "loucas" reviravoltas no roteiro.
E sobre o futuro? Vocês se veem fazendo alguma coisa diferente de Pokémon?
Kusaka: Se alguma coisa terrível acontecer e o mangá de Pokémon for cancelado, o que parece improvável, eu obviamente irei procurar por um novo projeto e continuarei a criar mangás. Mas agora meu objetivo é continuar trabalhando em Pokémon com o Yamamoto e fazendo o meu melhor. Ainda acho que temos espaço para melhorias. Algumas pessoas me perguntam se estou cansado de Pokémon e a minha resposta é não. É uma honra para mim poder trabalhar em um título como Pokémon, me sinto realmente bem com esse trabalho.
Yamamoto: Eu tenho tudo o que sempre quis na minha vida graças à Pokémon. Eu tenho liberdade criativa para colocar no mangá, então eu não diria que sinto qualquer desejo criativo. Quando eu era criança, eu amava monstros kaiju*. E eu sonhei com um amigo sobre a criação de um mangá sobre eles. Se você parar para pensar, Pokémon é um tipo de mangá kaiju, então eu tenho mesmo que agradecer à Pokémon.
* kaiju seria como "bestas estranhas", como por exemplo o Godzilla.
Link para a entrevista em inglês: http://www.animenewsnetwork.com/feature ... es/.109300