
O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - CONCLUÍDO
- Tchory
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Atualizado neste domingo!
Tô adorando e não vejo a hora do desfecho do Diário e do lançamento (ou não...
) do livro.

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- Antonio Felipe
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Atualizado neste domingo!
56. Não se Pode Pintar Móveis na Vila
Uma coisa é certa nessa vila: seja o que for que você queira fazer, a chance de dar errado é enorme. Especialmente quando você convive com um bando de moleques atrevidos e loucos por uma encrenca. Daí, a mínima coisa que se faça pode ocasionar uma confusão sem tamanho. Se você tenta fazer carpintaria, é garantia de se martelar sozinho, ou de acabar martelando um, ou até serrar os dedos.
Algo banal como varrer o pátio, por exemplo, pode dar briga. A começar por que o fiz obrigado pela velhota do 14. Ela me mandou varrer o pátio e acabei cedendo. Logo, o bochechudo inventou de comer bananas e jogar a casca no chão. Chaves tentava levar umas latas para a Venda da Esquina e conseguir algum dinheiro. Já a Chiquinha fazia das suas. Resultado: uma briga generalizada entre mim e a Florinda, onde a sujeira foi o principal. Um varria para o outro lado, a outra varria para o lado contrário. Hoje, se limpo, amanhã, já está sujo. É chover no molhado.
Pior de tudo é quando tentei pintar algumas cadeiras no pátio. Meus móveis já estavam meio velhinhos e queria passar uma mão de tinta para melhorar sua aparência. Não deu muito certo. Além de ter que justificar isso para o Barriga (que não gostou de ver que o dinheiro do aluguel foi para a tinta), ainda tive que encarar a valentona, que ficou toda de chilique por que pingou tinta no chão do pátio (como se fosse dela [mas o pátio é todos, diria ela]). De todos, nada. É o senhor Barriga. Bem, o que aconteceu? Além de ver minha porta e toda a frente pintada de amarelo (por força do Chaves e suas interferências), tive que gastar uma grana extra para comprar solvente e tirar toda aquela tinta. E acabei com a mobília semipintada.
É...Não dá nem pra pintar móveis na vila.
Próximo capítulo: A Morte do Tio Jacinto
Uma coisa é certa nessa vila: seja o que for que você queira fazer, a chance de dar errado é enorme. Especialmente quando você convive com um bando de moleques atrevidos e loucos por uma encrenca. Daí, a mínima coisa que se faça pode ocasionar uma confusão sem tamanho. Se você tenta fazer carpintaria, é garantia de se martelar sozinho, ou de acabar martelando um, ou até serrar os dedos.
Algo banal como varrer o pátio, por exemplo, pode dar briga. A começar por que o fiz obrigado pela velhota do 14. Ela me mandou varrer o pátio e acabei cedendo. Logo, o bochechudo inventou de comer bananas e jogar a casca no chão. Chaves tentava levar umas latas para a Venda da Esquina e conseguir algum dinheiro. Já a Chiquinha fazia das suas. Resultado: uma briga generalizada entre mim e a Florinda, onde a sujeira foi o principal. Um varria para o outro lado, a outra varria para o lado contrário. Hoje, se limpo, amanhã, já está sujo. É chover no molhado.
Pior de tudo é quando tentei pintar algumas cadeiras no pátio. Meus móveis já estavam meio velhinhos e queria passar uma mão de tinta para melhorar sua aparência. Não deu muito certo. Além de ter que justificar isso para o Barriga (que não gostou de ver que o dinheiro do aluguel foi para a tinta), ainda tive que encarar a valentona, que ficou toda de chilique por que pingou tinta no chão do pátio (como se fosse dela [mas o pátio é todos, diria ela]). De todos, nada. É o senhor Barriga. Bem, o que aconteceu? Além de ver minha porta e toda a frente pintada de amarelo (por força do Chaves e suas interferências), tive que gastar uma grana extra para comprar solvente e tirar toda aquela tinta. E acabei com a mobília semipintada.
É...Não dá nem pra pintar móveis na vila.
Próximo capítulo: A Morte do Tio Jacinto
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Atualizado nesta terça, 13/04!
57. A Morte do Tio Jacinto
Fiquei tomado por uma confusão de sentimentos nas últimas horas. Isso por que não sei exatamente o que sinto, nem bem o que penso. Mas é o tipo de coisa que acontece quando pessoas da família se vão. Mesmo que pessoas afastadas, a gente fica meio abatido com mortes de parentes. É o que acontece agora comigo: descobri hoje que meu tio Jacinto morreu.
Eu mal conheci o tio Jacinto. Lembro-me de ter estado apenas uma vez em sua casa, há muitos e muitos anos. Ele era irmão de meu tio Herrera (de que sempre fui mais próximo), e por sua vez, irmão de minha mãe. Minha mãezinha pouco falava sobre meu tio Jacinto. Recordo-me de uma conversa que tivemos quando eu era garoto...Foi mais ou menos assim:
- Quem é esse? (perguntei, olhando para uma foto na parede)
- Esse é meu irmão, Jacinto. Ele é seu tio.
- Onde ele mora?
- Mora afastado...Faz muito tempo que não o vejo...
- Por quê?
- Meu irmão sempre foi meio distante de nós...Talvez por ser o mais velho de nós três, eu acho que ele ficou meio sentido por que mamãe acabou dando mais atenção por um tempo a mim e Herrera.
- O que aconteceu com ele?
- Saiu de casa quando fez 20, 21 anos. Foi para Guadalajara tentar a sorte lá.
- A gente já foi na casa dele?
- Sim, você não se lembra? Faz uns anos...Talvez você não se lembre direito por que era pequeno na época.
- Podemos visitá-lo?
- Acho melhor não. Ele tem seus problemas, nós temos os nossos.
E assim ficou. Nunca tive interesse em ver meu tio Jacinto (até por que nunca soube direito onde ele morava, se ainda estava em Guadalajara, ou para onde poderia ter ido). Bem, mas o que ocorre: ele morreu faz quase um mês, de um ataque cardíaco. Ele era gordo, bem gordo. Talvez até maior que o senhor Barriga. Disseram que ele não se cuidava e por isso acabou morrendo, por conta da gordura. Não morava mais em Guadalajara, e sim em Oaxaca, onde pelos últimos quinze anos cuidou de cabras. Ele se casou, mas a mulher o abandonou depois de um tempo. Teve filhos, mas estes foram embora com a mãe. Parece que ficou gordo pelo desgosto de ser abandonado. Por que foi abandonado, ninguém sabe. Permanece um mistério.
Quem me comunicou dessa notícia foi um homem que disse estar a cargo do inventário dos bens do tio Jacinto. Segundo ele, Jacinto tinha me deixado uma herança. Na hora, apesar do clima de tristeza, fiquei um pouco animado com a possibilidade de ganhar alguma coisa, algo que pelo menos melhorasse nem que fosse um pouquinho minha situação. Eis que a ganância foi derrotada. Quando vi, recebi um terno de herança! Com estas palavras no testamento:
(...) e para meu sobrinho Ramón, que pouco conheci, não por sua culpa, nem minha, mas da situação, deixo-lhe meu terno especial, com o qual casei meu amigo López, em linda cerimônia. Não sei se vai servir, mas espero que faça bom uso.
O tal terno é tão grande que cabem dois de mim dentro dele. Incrível como ele era gordo. Bom, justamente isso que provocou essa mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo me sinto triste por sua morte, mas também me sinto frustrado pelo fato de que não levei uma boa herança nisso tudo. Se bem que não me adianta chorar a morte dele agora, especialmente sendo alguém tão afastado, seja qual for a situação que ele quis ter dito. Já chorei demais por mortes nos últimos tempos. O momento exige alegria. E é assim que quero levar minha vida.
Próximo capítulo: Fígaro, Fígaro!
Fiquei tomado por uma confusão de sentimentos nas últimas horas. Isso por que não sei exatamente o que sinto, nem bem o que penso. Mas é o tipo de coisa que acontece quando pessoas da família se vão. Mesmo que pessoas afastadas, a gente fica meio abatido com mortes de parentes. É o que acontece agora comigo: descobri hoje que meu tio Jacinto morreu.
Eu mal conheci o tio Jacinto. Lembro-me de ter estado apenas uma vez em sua casa, há muitos e muitos anos. Ele era irmão de meu tio Herrera (de que sempre fui mais próximo), e por sua vez, irmão de minha mãe. Minha mãezinha pouco falava sobre meu tio Jacinto. Recordo-me de uma conversa que tivemos quando eu era garoto...Foi mais ou menos assim:
- Quem é esse? (perguntei, olhando para uma foto na parede)
- Esse é meu irmão, Jacinto. Ele é seu tio.
- Onde ele mora?
- Mora afastado...Faz muito tempo que não o vejo...
- Por quê?
- Meu irmão sempre foi meio distante de nós...Talvez por ser o mais velho de nós três, eu acho que ele ficou meio sentido por que mamãe acabou dando mais atenção por um tempo a mim e Herrera.
- O que aconteceu com ele?
- Saiu de casa quando fez 20, 21 anos. Foi para Guadalajara tentar a sorte lá.
- A gente já foi na casa dele?
- Sim, você não se lembra? Faz uns anos...Talvez você não se lembre direito por que era pequeno na época.
- Podemos visitá-lo?
- Acho melhor não. Ele tem seus problemas, nós temos os nossos.
E assim ficou. Nunca tive interesse em ver meu tio Jacinto (até por que nunca soube direito onde ele morava, se ainda estava em Guadalajara, ou para onde poderia ter ido). Bem, mas o que ocorre: ele morreu faz quase um mês, de um ataque cardíaco. Ele era gordo, bem gordo. Talvez até maior que o senhor Barriga. Disseram que ele não se cuidava e por isso acabou morrendo, por conta da gordura. Não morava mais em Guadalajara, e sim em Oaxaca, onde pelos últimos quinze anos cuidou de cabras. Ele se casou, mas a mulher o abandonou depois de um tempo. Teve filhos, mas estes foram embora com a mãe. Parece que ficou gordo pelo desgosto de ser abandonado. Por que foi abandonado, ninguém sabe. Permanece um mistério.
Quem me comunicou dessa notícia foi um homem que disse estar a cargo do inventário dos bens do tio Jacinto. Segundo ele, Jacinto tinha me deixado uma herança. Na hora, apesar do clima de tristeza, fiquei um pouco animado com a possibilidade de ganhar alguma coisa, algo que pelo menos melhorasse nem que fosse um pouquinho minha situação. Eis que a ganância foi derrotada. Quando vi, recebi um terno de herança! Com estas palavras no testamento:
(...) e para meu sobrinho Ramón, que pouco conheci, não por sua culpa, nem minha, mas da situação, deixo-lhe meu terno especial, com o qual casei meu amigo López, em linda cerimônia. Não sei se vai servir, mas espero que faça bom uso.
O tal terno é tão grande que cabem dois de mim dentro dele. Incrível como ele era gordo. Bom, justamente isso que provocou essa mistura de sentimentos. Ao mesmo tempo me sinto triste por sua morte, mas também me sinto frustrado pelo fato de que não levei uma boa herança nisso tudo. Se bem que não me adianta chorar a morte dele agora, especialmente sendo alguém tão afastado, seja qual for a situação que ele quis ter dito. Já chorei demais por mortes nos últimos tempos. O momento exige alegria. E é assim que quero levar minha vida.
Próximo capítulo: Fígaro, Fígaro!
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Dois capítulos nesta terça, 13/04!
Muito bom esses dois novos capítulos




- E.R
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Dois capítulos nesta terça, 13/04!
Muito bom esse capítulo do Tio Jacinto ! Um dos melhores já escritos ! 




- G@BR!&L
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Dois capítulos nesta terça, 13/04!
Vc é formado em que para fazer esses tipos de Texto?
Experiente em redação?
Experiente em redação?


- Antonio Felipe
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Dois capítulos nesta terça, 13/04!
Não sou formado em nada, a única coisa que terminei foi o Ensino Médio. 
Mas eu leio muito. Muito mesmo. Isso sim é o fundamental.

Mas eu leio muito. Muito mesmo. Isso sim é o fundamental.
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- Antonio Felipe
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Dois capítulos nesta terça, 13/04!
Aliás...
58. Fígaro! Fígaro!
Fígaro fi, fígaro fá, fígaro fi, fígaro fá. Não sei bem de onde tiraram essa música, parece que tem a ver com um barbeiro italiano, pelo que ouvi ou li por aí. Mas é o que geralmente se canta quando se é barbeiro. Pois bem, canto isso por que tive que voltar ao passado e rememorar algo que não fazia há muitíssimo tempo: cortar cabelo e barba. Bem, nunca fui barbeiro (ou cabeleireiro) de verdade. Muito longe disso. Tudo o que sei é conhecimento de amador. Nos tempos em que trabalhava de bicos, antes ainda de ser mestre-de-obras, eu geralmente cortava meu cabelo sozinho, por falta de tempo para ir a um barbeiro (ou falta de dinheiro, às vezes). Acabei praticando tanto comigo mesmo (para bem ou para mal), que resolvi acrescentar esta atividade a meu rol de saberes. Tanto que certo dia, vi-me cortando cabelo de alguns companheiros do serviço, como forma de lucrar mais algum. Não era grande coisa, nem o cabelo ficava exatamente do jeito que deveria ficar, mas todos ali eram homens não muito afeitos à detalhes estéticos e sim poliglotas que carregavam sacos e tijolos para lá e para cá. Daí veio minha experiência no corte de cabelo.
E isso me traz até aqui. O barbeiro da outra rua teve que se ausentar e na falta de alguém para cuidar do local, perguntou-me se eu não poderia tocar o serviço, pelo menos por dois dias, para assim manter a barbearia aberta e com movimento. Resolvi arriscar. Sabia que seria uma tarefa difícil. Mas não sabia o que me esperava.
Os primeiros dois ou três clientes saíram com um sorriso de satisfação. Não tive problemas com estes e assim levei uma graninha sem complicação. Depois é que surgiram os inconvenientes. A Dona Florinda resolveu levar Kiko para cortar o cabelo justamente nesse dia. O Senhor Barriga apareceu por lá também. Chaves se meteu a fazer serviços de engraxate. E até a Chiquinha resolveu se intrometer, só atrapalhando meu trabalho. O dia foi quase trágico. Além de perder vários clientes pelo tempo gasto por causa da valentona, além do Chaves ter me feito sujar o Barriga, além do Kiko ter ficado com a cabeça cheia de creme para barbear, acabei dando o que tinha no bolso ao gordo para compensar o que ocorreu. Perdi o dinheiro de um dia. Mas consegui limpar os estragos dentro da barbearia.
No outro dia, com tudo mais calmo, pude fazer o serviço direito e assim, faturei um pouco. Foi a legítima salvação da lavoura. O dono da barbearia voltou e me agradeceu pelos préstimos. Achei interessante voltar à labuta do corte de cabelo, mas por tudo o que ocorreu, prefiro botar o fígaro na gaveta. A gente nunca sabe o que pode acontecer.
Próximo capítulo: De Volta à Muleta
58. Fígaro! Fígaro!
Fígaro fi, fígaro fá, fígaro fi, fígaro fá. Não sei bem de onde tiraram essa música, parece que tem a ver com um barbeiro italiano, pelo que ouvi ou li por aí. Mas é o que geralmente se canta quando se é barbeiro. Pois bem, canto isso por que tive que voltar ao passado e rememorar algo que não fazia há muitíssimo tempo: cortar cabelo e barba. Bem, nunca fui barbeiro (ou cabeleireiro) de verdade. Muito longe disso. Tudo o que sei é conhecimento de amador. Nos tempos em que trabalhava de bicos, antes ainda de ser mestre-de-obras, eu geralmente cortava meu cabelo sozinho, por falta de tempo para ir a um barbeiro (ou falta de dinheiro, às vezes). Acabei praticando tanto comigo mesmo (para bem ou para mal), que resolvi acrescentar esta atividade a meu rol de saberes. Tanto que certo dia, vi-me cortando cabelo de alguns companheiros do serviço, como forma de lucrar mais algum. Não era grande coisa, nem o cabelo ficava exatamente do jeito que deveria ficar, mas todos ali eram homens não muito afeitos à detalhes estéticos e sim poliglotas que carregavam sacos e tijolos para lá e para cá. Daí veio minha experiência no corte de cabelo.
E isso me traz até aqui. O barbeiro da outra rua teve que se ausentar e na falta de alguém para cuidar do local, perguntou-me se eu não poderia tocar o serviço, pelo menos por dois dias, para assim manter a barbearia aberta e com movimento. Resolvi arriscar. Sabia que seria uma tarefa difícil. Mas não sabia o que me esperava.
Os primeiros dois ou três clientes saíram com um sorriso de satisfação. Não tive problemas com estes e assim levei uma graninha sem complicação. Depois é que surgiram os inconvenientes. A Dona Florinda resolveu levar Kiko para cortar o cabelo justamente nesse dia. O Senhor Barriga apareceu por lá também. Chaves se meteu a fazer serviços de engraxate. E até a Chiquinha resolveu se intrometer, só atrapalhando meu trabalho. O dia foi quase trágico. Além de perder vários clientes pelo tempo gasto por causa da valentona, além do Chaves ter me feito sujar o Barriga, além do Kiko ter ficado com a cabeça cheia de creme para barbear, acabei dando o que tinha no bolso ao gordo para compensar o que ocorreu. Perdi o dinheiro de um dia. Mas consegui limpar os estragos dentro da barbearia.
No outro dia, com tudo mais calmo, pude fazer o serviço direito e assim, faturei um pouco. Foi a legítima salvação da lavoura. O dono da barbearia voltou e me agradeceu pelos préstimos. Achei interessante voltar à labuta do corte de cabelo, mas por tudo o que ocorreu, prefiro botar o fígaro na gaveta. A gente nunca sabe o que pode acontecer.
Próximo capítulo: De Volta à Muleta
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Dois capítulos nesta terça, 13/04!
Muito bom esse capítulo "Fígaro ! Fígaro !" 




- Samuel Boitar
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Dois capítulos nesta terça, 13/04!
[2]²Antonio Felipe escreveu: Mas eu leio muito. Muito mesmo. Isso sim é o fundamental.
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Um capítulo nesta quinta, 15/04!
Na minha opinião, os capítulos pré-série foram muito melhores. Mas esse último chegou ao nível deles. Parabéns!
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Um capítulo nesta quinta, 15/04!
Bom, eu sou "obrigado" a seguir essa história das séries e quando surge a oportunidade, eu tento conectar com o passado.
Mas não demora muito, chegaremos ao capítulo 82 e daí em diante, tudo será diferente.
Mas não demora muito, chegaremos ao capítulo 82 e daí em diante, tudo será diferente.
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Um capítulo nesta quinta, 15/04!
59. De Volta à Muleta
Os últimos dias têm sido um verdadeiro retorno às minhas lembranças mais profundas, aos meus momentos mais saudosos. Especialmente agora, quando as crianças resolveram brincar de tourear. Quando vi Chaves, Kiko e Chiquinha brincando de toureiros e depois, com o touro falso que o Senhor Barriga lhes deu, senti um pouco de aperto no coração lembrando as histórias daquele tempo. Especialmente por que eu era alguém. Eu era conhecido. Eu era o “rei da muleta”.
Já se passam dez anos desde que comecei a tourear. Depois do fracasso no boxe, passei a enfrentar touros na Gran Arena do meu querido amigo Elisandro. Eu tinha uma espécie de talento nato para a coisa. Fiz fama e dinheiro derrotando ruminantes na arena, aparecia no jornal, era cobiçado pelas mulheres e vivia como eu queria.
Dez anos depois, onde estou? Morando em uma vila, sofrendo o diabo para poder sobreviver, perdi minha esposa tragicamente num hospital, tenho uma filha para cuidar e ainda agüento de tudo da parte das crianças e da Dona Florinda. Minha vida deu uma volta de 180 graus. Fui do topo ao chão com muita rapidez. Tudo pelo sofrimento de perder a mulher que eu amava. O tempo passou tão devagar... Quando fico com a muleta em minhas mãos, ocorre um turbilhão de sentimentos na cabeça. Ah, esta muleta vermelha... Já nem me lembrava dela, guardada no fundo deste armário. É a lembrança de um tempo que não volta mais.
Mais curioso de tudo foi ouvir do Professor Girafáles que ele próprio já toureou por um tempo. Ele começou com bem menos idade que eu, iniciou com terneiros para depois enfrentar os touros em si. Só que ele pouco fez na breve carreira. Perdia demais, acabava fugindo, fora que ele não tinha a melhor forma física para enfrentar esses animais. Largou essa vida e resolveu estudar, pra chegar aonde chegou hoje.
O máximo que ele faz hoje de esporte é a esgrima. E pensar que descobri isso da pior forma possível... Ele pensou que eu estava de coisas com a Dona Florinda – tudo por que a velha se assustou com o falso touro e se agarrou em mim. O girafão me chamou para um duelo e, sei lá se ia, mas fez que tentaria me matar. Fui salvo pelo Chaves, que literalmente chifrou o Girafáles com o falso touro. Menos mal. Melhor guardar a muleta agora. E com ela, todas essas lembranças de um tempo que não volta mais.
Próximo capítulo: O Último Exame
Os últimos dias têm sido um verdadeiro retorno às minhas lembranças mais profundas, aos meus momentos mais saudosos. Especialmente agora, quando as crianças resolveram brincar de tourear. Quando vi Chaves, Kiko e Chiquinha brincando de toureiros e depois, com o touro falso que o Senhor Barriga lhes deu, senti um pouco de aperto no coração lembrando as histórias daquele tempo. Especialmente por que eu era alguém. Eu era conhecido. Eu era o “rei da muleta”.
Já se passam dez anos desde que comecei a tourear. Depois do fracasso no boxe, passei a enfrentar touros na Gran Arena do meu querido amigo Elisandro. Eu tinha uma espécie de talento nato para a coisa. Fiz fama e dinheiro derrotando ruminantes na arena, aparecia no jornal, era cobiçado pelas mulheres e vivia como eu queria.
Dez anos depois, onde estou? Morando em uma vila, sofrendo o diabo para poder sobreviver, perdi minha esposa tragicamente num hospital, tenho uma filha para cuidar e ainda agüento de tudo da parte das crianças e da Dona Florinda. Minha vida deu uma volta de 180 graus. Fui do topo ao chão com muita rapidez. Tudo pelo sofrimento de perder a mulher que eu amava. O tempo passou tão devagar... Quando fico com a muleta em minhas mãos, ocorre um turbilhão de sentimentos na cabeça. Ah, esta muleta vermelha... Já nem me lembrava dela, guardada no fundo deste armário. É a lembrança de um tempo que não volta mais.
Mais curioso de tudo foi ouvir do Professor Girafáles que ele próprio já toureou por um tempo. Ele começou com bem menos idade que eu, iniciou com terneiros para depois enfrentar os touros em si. Só que ele pouco fez na breve carreira. Perdia demais, acabava fugindo, fora que ele não tinha a melhor forma física para enfrentar esses animais. Largou essa vida e resolveu estudar, pra chegar aonde chegou hoje.
O máximo que ele faz hoje de esporte é a esgrima. E pensar que descobri isso da pior forma possível... Ele pensou que eu estava de coisas com a Dona Florinda – tudo por que a velha se assustou com o falso touro e se agarrou em mim. O girafão me chamou para um duelo e, sei lá se ia, mas fez que tentaria me matar. Fui salvo pelo Chaves, que literalmente chifrou o Girafáles com o falso touro. Menos mal. Melhor guardar a muleta agora. E com ela, todas essas lembranças de um tempo que não volta mais.
Próximo capítulo: O Último Exame
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Um capítulo nesta quinta, 15/04!
60. O Último Exame
É um pouco frustrante ser pai às vezes. Não digo isso no sentido de que não gosto de ser pai. Ao contrário, a paternidade é uma das maiores dádivas que Deus me deu na vida. Mas é que fico frustrado em alguns momentos por que sinto que não consigo alcançar as expectativas que eu imagino para mim e, especialmente, para minha filha. Exemplo: a educação que queria que ela tivesse. Chiquinha tem sido uma menina um tanto arteira. Tento ser um pai carinhoso, mas em alguns momentos, sou obrigado a recorrer à medidas mais duras, como uma repressão física (ressalto o dia em que dei um livro sobre animais para a Chiquinha estudar, e ela usou-o só para pegar nomes de animais e fazer trocadilhos para enganar o Chaves).
Sinto que não estou indo no caminho certo quanto à educação da Chiquinha. E isso fica mais claro quando descubro que estou sendo chamado a ir à escola, para acompanhar minha filha no último exame, que definirá se ela será ou não aprovada e passará ao ano seguinte. Na hora, acabei brigando com a Chiquinha por causa disso. Depois, fiquei sentado à mesa, pensativo. Onde estou errando? Será que o fato de ter tido pouca educação na vida me torna incapaz de ao mesmo, tentar criar oportunidades para que minha filha não siga meu exemplo? São dúvidas difíceis e insolúveis.
O fato é que, até para minha alegria (aliás, nem sei se esta é a palavra certa...), minha filha não ficou sozinha naquele dia do último exame. Chaves e Kiko acabaram de recuperação também. E foi um dia complicado, com brigas, confusões e discórdia de todo lado. De uma forma quase milagrosa, Chiquinha passou de ano. Safou-se de repetir no último segundo, assim como Chaves e Kiko. Fico menos despreocupado. Agora, é tentar mudar o que está errado e evitar que isso se repita.
Próximo capítulo: Um Careca Compra a Vila?
É um pouco frustrante ser pai às vezes. Não digo isso no sentido de que não gosto de ser pai. Ao contrário, a paternidade é uma das maiores dádivas que Deus me deu na vida. Mas é que fico frustrado em alguns momentos por que sinto que não consigo alcançar as expectativas que eu imagino para mim e, especialmente, para minha filha. Exemplo: a educação que queria que ela tivesse. Chiquinha tem sido uma menina um tanto arteira. Tento ser um pai carinhoso, mas em alguns momentos, sou obrigado a recorrer à medidas mais duras, como uma repressão física (ressalto o dia em que dei um livro sobre animais para a Chiquinha estudar, e ela usou-o só para pegar nomes de animais e fazer trocadilhos para enganar o Chaves).
Sinto que não estou indo no caminho certo quanto à educação da Chiquinha. E isso fica mais claro quando descubro que estou sendo chamado a ir à escola, para acompanhar minha filha no último exame, que definirá se ela será ou não aprovada e passará ao ano seguinte. Na hora, acabei brigando com a Chiquinha por causa disso. Depois, fiquei sentado à mesa, pensativo. Onde estou errando? Será que o fato de ter tido pouca educação na vida me torna incapaz de ao mesmo, tentar criar oportunidades para que minha filha não siga meu exemplo? São dúvidas difíceis e insolúveis.
O fato é que, até para minha alegria (aliás, nem sei se esta é a palavra certa...), minha filha não ficou sozinha naquele dia do último exame. Chaves e Kiko acabaram de recuperação também. E foi um dia complicado, com brigas, confusões e discórdia de todo lado. De uma forma quase milagrosa, Chiquinha passou de ano. Safou-se de repetir no último segundo, assim como Chaves e Kiko. Fico menos despreocupado. Agora, é tentar mudar o que está errado e evitar que isso se repita.
Próximo capítulo: Um Careca Compra a Vila?
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- Antonio Felipe
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Re: O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - Vários capítulos hoje, 18/04!
61. Um Careca Compra a Vila?
Olha... Eu já presenciei cada coisa aqui nessa vila, que até Deus duvida. Mas o que eu nunca iria imaginar, com certeza, era que o Senhor Barriga cogitasse vender esta vila, como aconteceu agora. Foram momentos inacreditáveis, momentos de muita tensão para todos nós. Primeiro, pela estranheza da situação, já que o Barriga veio aqui sem mais nem menos acompanhado de um tal de Calvillo, um homem imponente, que queria comprar a vila. O Barriga ficou mostrando a vila aos poucos para aquele homem e todos nós ficamos numa mistura de espanto, indignação e sem saber o que fazer.
Eu pensei muito mais no próprio Senhor Barriga, já que ele disse que cresceu aqui, desde que a vila foi construída, lá pela década de 30, 40. Seus pais se mudaram para a vila e aqui ele cresceu, viu a chegada de Dona Clotilde, de Dona Florinda e Frederico, foi zelador por um tempo, até ganhar na loteria e acabar comprando a vila, para hoje viver dela e outros imóveis, dos quais cobra aluguel. Isso me deixou muito surpreso. O que ele iria fazer sem sua principal fonte de renda, sem este lugarejo onde por tanto tempo viveu?
O motivo apresentado era um tanto justificável: o Senhor Barriga fez um exame cardiológico e esse exame lhe dizia que seu coração estava mal. E por isso, teria que deixar Cidade do México e viver mais ao nível do mar, em Acapulco, onde poderia ter melhor qualidade de vida. Por isso, teria que se desfazer da vila. Foi um choque para mim. Afinal, ele sempre pareceu tão bem de saúde, apesar do peso. Era um homem ativo, apesar de tudo. Estar mal de saúde foi uma surpresa.
Mas a venda da vila para outra pessoa não era o maior dos problemas. O Senhor Calvillo não tinha nenhum plano de seguir com o cortiço e cobrar aluguéis. Ele queria era demolir o local para construir um edifício de luxo (essa área estava em plena evolução na cidade, já fazia tempo). Aquilo pra mim foi a gota d’água. Eu não queria de maneira alguma sair da vila. Para onde iria? Onde eu e minha filha poderíamos ir? Era um beco sem saída para mim e também para todos! Eu tinha que fazer alguma coisa.
Resolvi fazer uma proposta ousada: comprar a vila! Mas como? Propus o seguinte ao Senhor Barriga: em 14 anos, eu já estaria devendo a ele o valor exato da vila em aluguéis. Com o dinheiro dos aluguéis, em ficando com a vila, eu poderia pagá-lo em 14 anos! Foi uma proposta muito estranha, eu sei. Mas era o que eu podia fazer na hora. Mas não era o suficiente. Como convencer o gordo a fazer isso, quando o careca que queria comprar a vila já estava de cheque assinado? Tudo se encaminhava para o fim de uma longa história nessa vila.
Eis que ocorre uma surpresa! O Senhor Barriga descobre que tinha recebido do médico o exame errado! E que não havia nada de mal em seu coração, que sua saúde era de perfeito estado! Felicidade total para todos nós, que ficaríamos em nossas casas, sem risco de ter que procurar outro lugar para viver! Felicidade, menos para o careca, que não levou a vila, nem a Dona Clotilde, a quem ele cortejou por um tempo enquanto esteve circulando por ali.
Pois é... Apesar de tanta coisa ter acontecido nessa vila, é nela que quero viver o resto de minha vida.
Próximo capítulo: O Festival da Boa Vizinhança
Olha... Eu já presenciei cada coisa aqui nessa vila, que até Deus duvida. Mas o que eu nunca iria imaginar, com certeza, era que o Senhor Barriga cogitasse vender esta vila, como aconteceu agora. Foram momentos inacreditáveis, momentos de muita tensão para todos nós. Primeiro, pela estranheza da situação, já que o Barriga veio aqui sem mais nem menos acompanhado de um tal de Calvillo, um homem imponente, que queria comprar a vila. O Barriga ficou mostrando a vila aos poucos para aquele homem e todos nós ficamos numa mistura de espanto, indignação e sem saber o que fazer.
Eu pensei muito mais no próprio Senhor Barriga, já que ele disse que cresceu aqui, desde que a vila foi construída, lá pela década de 30, 40. Seus pais se mudaram para a vila e aqui ele cresceu, viu a chegada de Dona Clotilde, de Dona Florinda e Frederico, foi zelador por um tempo, até ganhar na loteria e acabar comprando a vila, para hoje viver dela e outros imóveis, dos quais cobra aluguel. Isso me deixou muito surpreso. O que ele iria fazer sem sua principal fonte de renda, sem este lugarejo onde por tanto tempo viveu?
O motivo apresentado era um tanto justificável: o Senhor Barriga fez um exame cardiológico e esse exame lhe dizia que seu coração estava mal. E por isso, teria que deixar Cidade do México e viver mais ao nível do mar, em Acapulco, onde poderia ter melhor qualidade de vida. Por isso, teria que se desfazer da vila. Foi um choque para mim. Afinal, ele sempre pareceu tão bem de saúde, apesar do peso. Era um homem ativo, apesar de tudo. Estar mal de saúde foi uma surpresa.
Mas a venda da vila para outra pessoa não era o maior dos problemas. O Senhor Calvillo não tinha nenhum plano de seguir com o cortiço e cobrar aluguéis. Ele queria era demolir o local para construir um edifício de luxo (essa área estava em plena evolução na cidade, já fazia tempo). Aquilo pra mim foi a gota d’água. Eu não queria de maneira alguma sair da vila. Para onde iria? Onde eu e minha filha poderíamos ir? Era um beco sem saída para mim e também para todos! Eu tinha que fazer alguma coisa.
Resolvi fazer uma proposta ousada: comprar a vila! Mas como? Propus o seguinte ao Senhor Barriga: em 14 anos, eu já estaria devendo a ele o valor exato da vila em aluguéis. Com o dinheiro dos aluguéis, em ficando com a vila, eu poderia pagá-lo em 14 anos! Foi uma proposta muito estranha, eu sei. Mas era o que eu podia fazer na hora. Mas não era o suficiente. Como convencer o gordo a fazer isso, quando o careca que queria comprar a vila já estava de cheque assinado? Tudo se encaminhava para o fim de uma longa história nessa vila.
Eis que ocorre uma surpresa! O Senhor Barriga descobre que tinha recebido do médico o exame errado! E que não havia nada de mal em seu coração, que sua saúde era de perfeito estado! Felicidade total para todos nós, que ficaríamos em nossas casas, sem risco de ter que procurar outro lugar para viver! Felicidade, menos para o careca, que não levou a vila, nem a Dona Clotilde, a quem ele cortejou por um tempo enquanto esteve circulando por ali.
Pois é... Apesar de tanta coisa ter acontecido nessa vila, é nela que quero viver o resto de minha vida.
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