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Capitão América : Guerra Civil não é só o começo da terceira fase da Marvel no cinema.
É o novo modelo de tudo que o público quer ver quando assiste a um filme de super-heróis.
Até porque a aventura dirigida por Joe e Anthony Russo não se encaixa neste “gênero”.
É um thriller político e psicológico. É um drama sobre violência e vigilantismo. É um filmaço de ação que alterna momentos explosivos com respiros que se ocupam em desenvolver cada personagem e dar fluxo à narrativa.
É o melhor filme com super-heróis desde que Richard Donner e Christoper Reeve, em 1978, mostraram ao mundo que o homem podia voar.
A “fórmula” dos diretores, que desenvolveram o filme ao lado dos roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, é irritante de tão simples :
apreço pelos personagens, atenção à história, cuidado com a moldura. Embora pareça um “Vingadores 2.5” por conta da quantidade de gente em cena, Guerra Civil ainda
é uma aventura do Capitão América por continuar os eventos de O Soldado Invernal, segundo filme-solo do herói fora do tempo, no qual os irmãos Russo já deixaram claro que seu interesse ia muito além de polarizar o mundo sem áreas cinzentas.
Ainda assim, o novo filme aprende com tudo que o antecedeu dentro do Universo Cinematográfico Marvel – Era de Ultron, Homem-Formiga – sem nunca ser hermético demais, confuso demais. O objetivo foi criar uma trama que funcione por causa dessa continuidade traçada pela Marvel, e não apesar dela.
Abraçar o plano que a Marvel iniciou lá atrás, com Homem de Ferro em 2008 pode soar fácil, mas é tarefa complicada. A escolha por Guerra Civil como mote é, ao mesmo tempo, um pesadelo logístico para tirar o filme da gaveta e a decisão mais esperta possível. Na série em quadrinhos, escrita por Mark Millar e publicada em 2006, Capitão América e Homem de Ferro ficam em lados ideológicos opostos quando um vilão de quinta explode uma cidadezinha, matando mais de 600 civis. A solução encontrada pelos governos do mundo é obrigar os heróis fantasiados a revelar sua identidade, treinar como qualquer outro agente da lei e operar sob a sombra da SHIELD. Tony Stark acha a solução mais lógica; Steve Rogers não é muito fã de testemunhar a perda de liberdades individuais. Segue o quebra-pau.
Para os fãs mais xiitas, Guerra Civil no cinema pode até incomodar, já que passa ao largo do que acontece nos gibis – ainda bem, diga-se! O gatilho para a cisão da equipe é uma missão na África, quando
a equipe dos Vingadores comandada pelo Capitão América (Feiticeira Escarlate, Falcão, Máquina de Combate, Viuva Negra e Visão)
entra em combate com as forças de Ossos Cruzados (Frank Grillo), identidade do ex-agente da SHIELD Brock Rumlow, desfigurado em O Soldado Invernal. A ação termina com vitimando civis, o que, somado às tragédias que seguem os Vingadores ao redor do globo, impele a ONU a responsabilizar a equipe. Eles precisam assinar um documento que os coloca sob supervisão de um comitê das Nações Unidas. Stark é ok com isso; o Capitão, não.
Claro que, nas mãos dos irmãos Russo, as coisas não são tão simples. O modo como as motivações de cada personagem são colocadas na mesa torna impossível seguir a orientação da equipe de marketing do estúdio que pede para o público escolher um lado: ambos estão certos, os dois estão errados. É pessoal tanto para Stark quanto para Rogers, principalmente quando seu ex-parceiro, Bucky, o próprio
Soldado Invernal, entra em cena.
Fugindo de crimes que garante não ter cometido, ele coloca-se entre os dois Vingadores, resultando numa aventura que mistura paranóia, revelações bombásticas e um vilão totalmente inesperado.
Até porque, apesar do escopo da produção,
Guerra Civil é o filme mais intimista que a Marvel já lançou.
A ameaça aqui não vem de déspotas querendo destruir cidades inteiras, ou deuses comandando uma invasão alienígena.
O plano de Helmut Zemo (Daniel Brühl)
é tão simples quanto assustador, e é também uma linha narrativa que, principalmente nestes tempos de Brasil dividido, vai deixar muita gente imaginando se ele não tem razão. É uma mudança de ritmo e de tom que nunca deixa o filme se desviar de seu verdadeiro centro :
o combate entre dois heróis que acreditam defender a coisa certa.
E quando a coisa pega, pode acreditar que o que é colocado em cena é a sequência de ação mais eletrizante que o cinema moderno já produziu. Os Russo mostram que sabem exatamente como orquestrar uma combate entre seres super-poderosos, respeitando não só a personalidade de cada um como também o modo como eles usar seus poderes e a maneira como eles combinam suas habilidades em campo.
É aqui que o mundo é apresentado ao Pantera Negra e ao Homem-Aranha, é aqui que o Homem-Formiga mostra ser tão capaz quanto heróis mais calejados. E é aqui que o filme continua a surpreender.
Chris Evans, por sinal, encontrou o tom perfeito para representar seu Steve Rogers. Ele é o soldado supremo, o homem fora do seu tempo, a pessoa que sempre vai fazer a coisa certa, mesmo que ela tenha um preço.
Do outro lado,
Robert Downey Jr. mostra facetas de Tony Stark que, mesmo em seu sexto rodeio como o personagem, ainda
surpreende. É impressionante, de verdade, como os Russo conseguem achar espaço para todo mundo ter seu momento,
cada personagem ter um arco completo. Mais impressionante ainda é, em pouco mais de meia hora, eles entregarem
o Homem-Aranha mais perfeito que o cinema já mostrou. Tom Holland traz um bem vindo entusiasmo juvenil ao herói, e uma matraca que dá leveza a praticamente toda cena com o Homem-Aranha.
É impossível a essa altura não pensar no desastre que foi Batman vs Superman. Zack Snyder e a turma da DC deviam ser amarrados em uma poltrona e assistir a Guerra Civil continuamente para aprender a) como dar continuidade a um universo compartilhado sem ter de b) jogar elementos que não fazem sentido em cena, c) conferir peso dramático e um contexto bacana para armar o conflito entre seus protagonistas e d) aprender que, mesmo com riscos altos e temas sérios,
é possível se divertir fazendo um filme com super-heróis. Capitão América: Guerra Civil é um padrão alto, até para a própria Marvel seguir. Algo me diz que, com os Russo ainda no comando (eles filmam dois Vingadores para 2018 e 2019), eles vão conseguir.
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Estamos vivendo numa época em que os grandes produtos da cultura pop quase sempre acertam exatamente onde devem acertar. As melhores séries de TV, filmes, quadrinhos, livros, discos e videogames deste início de século têm construído narrativas épicas e universos complexos que tiram o fôlego só por sua envergadura e a expectativa é quase sempre – milimetricamente – alcançada. E é impossível ignorar o feito do estúdio Marvel nos últimos 10 anos ao erguer seu império no cinema. Mais do que lançar filmes, a versão cinematográfica da editora de quadrinhos é um meticuloso castelo de cartas erguido com grandes nomes de seu universo. Personagens menores ganharam um protagonismo inesperado e o sucesso de cada um dos doze filmes que o estúdio lançou até 2015, quando encerrou seu segundo capítulo no cinema, é apenas o resultado de uma estratégia genial que combina marketing, exercício de narrativas, carisma e muito planejamento.
E aí vem Capitão América: Guerra Civil e muda as regras do jogo. Esqueça aquilo que você está esperando ver. Neste décimo terceiro filme da Marvel, o estúdio resolve aumentar a exigência em si mesmo, tornando mais difícil o trabalho para os super-heróis concorrentes. O novo filme não apenas faz como os anteriores: ele
supera as expectativas nos mostrando o universo Marvel com outros olhos, com um frescor inacreditável, ao mesmo tempo em que começa a provocar uma discussão mais adulta que mexe levemente no humor da saga sem deixar tudo sombrio.
Para começar, Guerra Civil não é exatamente um Vingadores 2 e 1/2, como a escalação de diversos heróis fez parecer. Há sim a incrível cena em que os times do Capitão América e do Homem de Ferro se enfrentam, mas ela não é o grande momento do filme. É uma cena de tirar o fôlego, o sonho materializado de todo mundo que cresceu lendo os gibis da Marvel, o confronto épico entre super-heróis que toda criança realizou com seus brinquedos. Mas não é nem a conclusão da história, nem seu maior momento, nem sua grande surpresa. É tudo o que a Marvel poderia ter feito em Vingadores: A Era de Ultron, mas preferiu repetir a fórmula para gastá-la de ver, guardando este grande momento com inúmeros super-heróis para o terceiro filme do Capitão América.
Porque não custa lembrar disso:
é um filme do Capitão América. É a conclusão da trilogia iniciada em Capitão América: O Primeiro Vingador, de 2011, quando Steve Rogers nos foi apresentado como um herói de época. Na continuação deste, Capitão América: Soldado Invernal, de 2014, vemos este herói se situando em uma nova era ao mesmo tempo em que os irmãos Joe e Anthony Russo entregavam o melhor filme da Marvel. Os dois repetem o feito ao segurar as rédeas deste terceiro volume sobre o velho capitão, que ao mesmo tempo em que amplia seu dilema moral sobre o fato de pertencer a outra época também aprofunda-se nos próprios sentimentos. Não por acaso
Chris Evans, o ator que vive o herói, tem um tapete estendido para sua melhor atuação.
O Homem de Ferro de Robert Downey Jr. também tem grandes momentos, principalmente por parecer está despedindo-se do personagem. A premissa básica do filme está diretamente ligada à adolescência de Tony Stark e por isso ele é o único herói que se envolve diretamente na trama central do protagonista, funcionando como contraponto para a ausência de um vilão mais forte.
O Barão Zemo vivido por Daniel Bruhl é apenas apresentado como arquiteto da trama principal, mas não tem seu grande confronto contra ninguém e apenas deixa que o filme termine com o duelo entre Steve Rogers e Tony Stark, que vai crescendo em diálogos cada vez menos engraçadinhos à medida em que o filme anda.
Todos os outros heróis também têm seus grandes momentos, uns mais humanizados que outros, uns mais pesados que outros, e assim a Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário.
O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis.
Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.
A entrada de Peter Parker (vivido pelo moleque Tom Holland) no Universo Cinematográfico Marvel é um acontecimento por si só – e v
ale mais do que a história principal do filme. É o mesmo personagem que conhecemos há décadas (inclusive no cinema),
mas há um frescor, uma novidade, uma juventude em tudo relacionado à sua presença que muda todas as nossas expectativas em relação aos próximos filmes. Você se lembra quando viu os primeiros filmes do Homem Aranha de Sam Raimi, os primeiros X-Men de Bryan Singer, os primeiros filmes do estúdio Marvel funcionando melhor do que você imaginava, o brilho épico do primeiro Vingadores? Ou, se estamos falando de super-heróis em geral, o Super-Homem de Christopher Reeve ou o Batman de Christian Bale? É muito difícil repetir a sensação de novidade depois que assistimos a tantos filmes de super-herói.
E ao apresentar novamente o Homem Aranha, a Marvel se supera.
Sim, ainda há o espetacular T'Challa, o drama pessoal de Wanda Maximoff, o destino de James Rhodes, o que acontece com Bucky, a aparição de Ossos Cruzados, o momento Stan Lee, a cena escondida no final,a Hydra e um drama pessoal de Tony Stark. Mas tudo isso fica em segundo plano com a forma que a Marvel nos reapresenta o Homem Aranha. E, claro, das cenas de ação – os irmãos Russo talvez sejam os melhores diretores do gênero em atividade. E mostra que tudo que o estúdio fez até agora era só rascunho para uma fase 3 que promete.