“Nunca foi tão difícil vender um carro usado !” É o que mais tenho ouvido de amigos, familiares e conhecidos nos últimos meses. Aqueles que pretendiam vender o seu usado por um preço bom para completar o valor de um novo e aproveitar o desconto no IPI tiveram uma grande decepção.
Um conhecido, dono de uma Peugeot Escapade 2007, viu seu carro despencar de R$ 25 mil para R$ 21 mil enquanto o desconto do IPI para o modelo Peugeot novo que pretendia comprar era de R$ 2,9 mil. Claro, desistiu. Entregar na concessionária ? Pagariam R$ 16 mil. E para um carro com pneus novos Pirelli e manutenção carimbada recentemente seria algo insano. E chegou o fim de agosto e nenhuma proposta razoável foi feita. E olha que ele anunciou em sites e jornais da região. Alguns se interessaram, porém não tiveram a ficha cadastral aprovada para conseguir financiamento.
Aliás, parece estar estourando agora a “bolha do financiamento”. Pelo menos é o que se vê no noticiário : inadimplência em alta e centenas de carros retomados por bancos e financeiras para irem a leilão.
Se por um lado, para quem está vendendo nunca foi tão difícil, creio que para quem quer comprar e tem dinheiro vivo ou acesso a crédito, nunca foi tão fácil. Afinal são centenas de milhares de carros usados sendo oferecidos por particulares, bancos, financeiras e até locadoras que estão renovando sua frota.
Tudo depende de seu nível de exigência e do seu propósito para o carro. No entanto, escolher uma loja, ou “garagem” como alguns chamam as lojas de usados em algumas partes do país, tem requerido um cuidado extremo, tamanho o número de empresas deste tipo sendo fechadas diariamente. Segundo a Fenabrave, 10% das lojas de carros usados legalizadas fecharam as portas desde o início do ano.
Na minha cidade mesmo, lojas fortes e confiáveis, com décadas no mercado, tornaram-se arapucas do dia para a noite, lesando clientes que compraram um carro ou que deixaram um para consignação. O mais comum é o carro não ter sido quitado, ter sido bloqueado judicialmente por ser garantia de dívida trabalhista, por exemplo, e, no caso dos consignados, o veículo ter sido financiado sem o conhecimento do dono. E, como muita coisa ainda acontece na base da confiança, principalmente em cidades de menos de 100 mil habitantes como a minha, está aí o cenário perfeito para se levar prejuízo.
E por falar em prejuízo, vender um carro também exige cuidados. Alguns golpistas disfarçados de clientes, ao verem a placa de “Vende-se” ou o anúncio entram em contato com o vendedor, marcam hora para ver e experimentar o veículo, pedem para dar uma voltinha. E desaparecem com o automóvel.
A intenção é levá-lo para o Paraguai, para um desmanche ou para uma oficina, onde irão cloná-lo e transformá-lo em um dublê. Levando-se em conta tudo isso que abordei acima, cheguei a conclusão que :
1. É sempre melhor comprar o melhor carro possível para poder ficar com ele mais tempo, já que é nos primeiros 3 anos que a desvalorização é maior. Além disso, muitos carros ainda estarão na garantia, o que faz com que as despesas com manutenção sejam baixas compensando permanecer com o bem.
E à medida em que o Brasil se torna um grande mercado de automóveis e a renda da população aumenta, o desejo por novidades cresce na mesma proporção. Assim, carro usado tende a ser cada vez mais um bem de consumo ao invés de patrimônio, como nos EUA, Japão e Europa, onde carros dormem no sereno, enfrentam neve e calor intenso, rodam muito e ficam defasados logo.
E como consequência, após 5 anos valem 20% do que o dono pagou e após 10 anos, 10% – ainda que custem menos do que no Brasil. Isso significa que ao comprar um Cruze por R$ 70 mil, daqui a 20 anos valeria em torno de R$ 14 mil e daqui a 10 anos, R$ 7 mil. No Brasil, a agência AutoInforme realiza pesquisas sobre os modelos mais e menos desvalorizados, o que pode influenciar numa decisão.
2. O raciocínio acima, de se comprar o melhor carro possível, vale para os usados também, pois há custos com serviços de checagem de histórico, laudos técnicos, vistorias para transferências, transferência propriamente dita etc etc, cada vez que se troca de carro.
3. O mercado está tão confuso que mesmo as tabelas estão se tornando parâmetros um pouco distantes. Conversando com revendedores de carros usados recentemente, ouvi muito que com estoque cheio e dificuldade do cliente na aprovação de crédito, o que vale no final mesmo é vender pela melhor proposta.
Assim, carros com preços de R$ 20 mil na tabela, não raro estão sendo vendidos no máximo a R$ 16 mil. E muitas vezes a loja pagou R$ 14 ou R$ 15 mil. Por isso pesquise muito e faça as contas e não compre por empolgação antes de ter certeza que encontrou exatamente o que procurava ou o mais próximo disso!
E, caso consiga comprar carro usado após o mês de abril, melhor será, pois já o comprará com IPVA quitado.
4. Com esta onda de aumenta IPI, baixa IPI, tenha sangue frio e não feche negócio por impulso, mas porque realmente já tinha esta intenção. Além disso, se seu dinheiro está bem aplicado, se seu carro atual atende as suas necessidades ou se há perspectivas de aumento de salário, investir no seu negócio, compra de imóvel entre outros investimentos que gerem receita, deixe para comprar carro mais tarde. Quem sabe um consórcio ?
E mai s: a economia está desacelerada e outras medidas de incentivo com relação ao IPI (que acaba de ser prorrogado até 31 de outubro) tendem a ocorrer dentro de dois anos novamente.
É isso aí, meu caro leitor, se você está vendendo, eu lhe desejo boa sorte. E se você está comprando, torço para que fique feliz com sua aquisição ! E se pretende esperar, aproveite seu carro atual e trate-o com carinho enquanto ele ainda é patrimônio, coisa que não acontece em muitos países. Em qual desses três casos você se encaixa ?

















