FOLHA DE S.PAULO
James Bond (Daniel Craig) teve o seu encontro mais próximo com a morte em "
007 - Operação Skyfall", que estreia hoje nos cinemas.
Após retornar debilitado dessa experiência dramática, James Bond perdeu a confiança irrestrita no MI6, o serviço secreto britânico, onde trabalha como espião. Ele restabeleceu a fé quando fez uma jornada ao passado, com uma visita ao casarão onde cresceu, na Escócia.
Apesar do apreço por recursos tecnológicos, James Bond aposta no seu jeito tradicional de ser no 23º filme da franquia iniciada há 50 anos.
Segundo o diretor Sam Mendes, o que está em jogo para o agente são valores como honra, coragem e respeito.
"Embora seja capaz de incorporar novidades, James Bond permanece um herói clássico que luta contra o mal", diz Barbara Broccoli, produtora do longa-metragem e filha de Albert R. Broccoli, dono dos direitos da série para o cinema. "Agora, por conta da natureza da sua nova missão, ele não é tão mulherengo."
Daniel Craig representa, de acordo com Barbara Broccoli, um agente mais fiel às características do personagem inventado pelo escritor Ian Fleming (1908-1964). "Os conflitos importantes ocorrem na cabeça dele", afirma.
Tal como nos 22 filmes anteriores, James Bond visita lugares exóticos (Istambul, Xangai e Macau). Passa, porém, mais tempo em Londres.
(spoiler : Dudu, Antonio Felipe e outros que ficam chateados com spoiler, não abram)
O agente 007 se envolve em uma missão pessoal : evitar que M (Judi Dench), a diretora do MI6, seja assombrada por erros do passado.
M é perseguida por Raoul Silva (Javier Bardem), o novo antagonista do agente 007. Silva foi um espião tão brilhante quanto Bond. Ele se ressente de decisões da sua antiga chefe que o afastaram da profissão.
"Silva é um indivíduo em busca de vingança", afirma Javier Bardem. O ator espanhol diz procurar a humanidade dos personagens que encarna.
Silva usa roupas chamativas e pinta o cabelo de loiro por sugestão de Javier Bardem. "Não foi apenas para ser divertido. Há um motivo para Silva ter uma relação extravagante com a própria imagem", explica o ator, referindo-se à deformação física do personagem.
No primeiro encontro com James Bond, Silva exibe um comportamento efeminado. Ele assedia o agente, imobilizado em uma cadeira. A resposta do espião é desconcertante.
Em 50 anos de história, a série 007 se impôs graças a uma receita eficiente : muita ação, lugares exóticos, vilões carismáticos, tema musical marcante, gadgets tecnológicos mirabolantes a serviço do poderoso e elegante agente secreto e "Bond girls" idem.
"007 - Operação Skyfall" retoma boa parte destas características, mas o resultado não está à altura das melhores aventuras da série.
Daniel Craig é muito convincente nas cenas de ação, mas não tem metade do sex appeal de Sean Connery. Para completar, ele enfrenta momentos de crise e revela uma surpreendente dimensão humana. Mas volta para se redimir.
Sempre engenhosos, surpreendentes e muito aguardados pelos fãs, os gadgets estão simplesmente ausentes.
E o mesmo quase acontece com as "Bond girls", resumidas em Bérénice Marlohe - atriz de televisão, com pouca experiência no cinema - com uma breve aparição.
A principal figura feminina é a septuagenária M. (Judi Dench), chefe de Bond no MI6, o serviço secreto inglês, cuja sede sofre um atentado.
O melhor do filme é o vilão Raul Silva, muito bem interpretado por Javier Bardem. Maquiavélico, cínico e pernóstico, ele encara James Bond para se vingar de M. Ele rouba a cena assim que surge na tela, quando dirige uma série de subentendidos homossexuais a Bond, algo bem distante dos cânones da série.
O ritmo também não tem a trepidação dos melhores 007. As cenas mais movimentadas são a primeira e a última, contrastando com o tom intimista que domina o resto da história do agente secreto.