Por Vera Jardim, do Jornal do Brasil - 22/6/1997
Criança não tem querer, diziam os antigos. Já os contemporâneos dispensam tal tipo de radicalismo. Claro, e onde é que fica o conceito de educador moderno, para evitar traumas e visitas a psicólogos? A febre consumista faz a festa da garotada. Hoje, basta a criança ver um produto na TV e dizer: eu quero! Pronto. Lá está a mãe sacando o cartão de crédito para amontoar mais um brinquedinho no quarto do pimpolho. Com a programação televisiva dos moleques, a coisa não é diferente.
Proibir o filho de assistir a determinados programas pode até gerar uma crise familiar. Mas não é que às vezes a gente lamenta não ter o poder de desintegrar determinados programas em beneficio da inteligência e do bom gosto dos guris? Noite dessas, juro que pensei como os meus pais e avós: ''Criança não tem querer!" Eis que, passeando pelos canais, às 20h30, fiz um pit stop na CNT. Tomei um susto! Então é isso a tal série Chespirito? O programa mexicano que acaba de estrear é uma espécie de cópia malfeita (não que os originais sejam bem-feitos) de Chaves e Chapolin. Aliás, o idealizador e protagonista destes três infantis de visual e texto tão pobres é o mesmo: Roberto Gomez Bola¤o, uma espécie de doutor Frankenstein dos infantis forasteiros que, há anos, hipnotizam crianças em dezenas de países.
Mas a CNT - que promete uma aterrissagem em série destes extraterrenos cucarachos por aqui - não parece estar nem ai para a estética. Tanto que fechou um contrato de exclusividade com a Televisa, tirando o SBT da rota dos enlatados mexicanos. Voltando a Chespirito, o figurino das criaturas é de fazer brechó de quinta torcer o nariz. Os nomes dos personagens, então, não poderiam ser mais esdrúxulos: tem Jôpiras, Ximotrúfia e por aí vai. Que esculhambação!
A composição da tal Ximotrúfia (que é casada com o imenso Botijão) e da sua mãe beira o grotesco: as duas são desdentadas, têm sardas no rosto pintadas a lápis e usam perucas retalhadas. Ainda por cima, a série é não tem nada de educativa: os personagens, dublados por brasileiros, soltam palavras erradas a torto e a direito, como fia no lugar de filha. Enfim, tratam a criança como uma completa idiota. Mas enquanto o SBT não vem com a Carla Perez e o Sérgio Mallandro num novo infantil, nem tudo está perdido na programação da TV convencional. Que tal salvar a cria indicando atrações de qualidade, como o Castelo Rá-Tim-Bum, exibido na TVE e na Cultura, e o Sítio do Pica-Pau Amarelo, reprisado pela TVE, o Eliana e cia., do SBT, e a novelinha Caça talentos, da Globo? Muito bom também era o Agente G, que infelizmente a Record fez a besteira de tirar do ar recentemente.
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