Economia

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Eduardo Godinez
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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Eduardo Godinez » 24 Out 2010, 23:18

aí já é Titãs haha

tô indo nessa, boa continuação de tópico
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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Renata » 25 Out 2010, 03:26

Lula defende papel do Estado como regulador do sistema financeiro


Lula se colocou contrário aos que defendem o liberalismo econômico sem a interferência do poder público.
“Teve uma época, por muito tempo, em que os políticos andaram de cabeça baixa diante do neoliberalismo. O que estou defendendo não é o Estado se intrometer na economia, mas é o Estado que tenha força política para regular o sistema financeiro”, disse o presidente em um pronunciamento.
"Fomos eleitos, assumimos compromissos com o povo, e o Estado, diante de uma crise mundial, volta a ter papel extraordinário, porque todas essas instituições que negaram o papel do Estado na hora da crise procuram o Estado para socorrê-las da crise que elas mesmo criaram."

-

O Estado sempre atuou em conjunto com as forças de mercado, e assumiu um papel importante na promoção do desenvolvimento das nações. Na realidade, sistemas econômicos bem sucedidos são normalmente aqueles que combinam, de forma equilibrada e dinâmica, a participação do Estado e do mercado na coordenação da economia. Da mesma forma que o livre mercado é uma utopia.
Como bem destaca Starr (1987), os mercados não são criações naturais, pelo contrário, são organismos estruturados legal e politicamente. Por esta razão, a melhor resposta ao desafio da dicotomia público-privado é aquela que concebe uma estrutura mista.

A minha conclusão é que a última crise econômica veio para dar um choque de realidade nos Neoliberais.
Óbvio que a visão conservadora quanto à intervenção do Estado na economia política é ultrapassada. Mas será mesmo que o poder de auto-regulação dos mercados é sempre certeiro? É importante tratar os problemas econômicos não apenas como uma crise cíclica e sim de uma crise grave.
Existe um antes e um depois da crise mundial. Antes, existia um pensamento único de que qualquer intervenção do Estado seria de forma burocrática, com finalidade de aumentar imposto. Hoje há o entendimento de que é necessária a ação da política para construir essa nova ordem mundial econômica de uma globalização mais justa.
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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Scopel » 25 Out 2010, 11:33

A ofensiva do capital financeiro é cada vez mais agressiva, somos país periférico, acerca disso não apitamos nada, temos que aceitar a "onda" do mundo. Este sistema onde o Estado só aparece como regulador do mercado nada mais é do que o que eu chamei de "socialização das perdas", ou seja, deixa eles brincarem de especular, quando estourar, o Estado aparece e dá a "bolsa banqueiro" com o dinheiro público.

Sobre a catástrofe no Rio, Lula disse que as pessoas tinhas que rezar. Quando da crise, ele soltou uns bilhões para salvar esses sacanas especuladores.

Não existe globalização mais justa. O que se chama de globalização, na verdade é a mundialização do capital, fase do capitalismo inaugurada lá pela década de 70. O próprio conceito de "globalização" implica em não ser justo: é a imposição moral, cultural, política e econômica dos países centrais sobre os países periféricos, mas sobretudo a imposição e a invasão do capital financeiro internacional.

Pra ilustrar, postei aqui: viewtopic.php?f=53&t=1642&p=150204#p150204


E eu gostaria que os PSDBistas e PTistas aparecessem aqui para discutir isso.

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Re: Economia

Mensagem por Scopel » 25 Out 2010, 11:42

Entrada de dólar no país é a segunda maior do ano, apesar de IOF maior

A entrada de dólares no país já alcançou em outubro o segundo maior resultado do ano, apesar das medidas anunciadas pelo governo para taxar investimentos estrangeiros no país.

Dados parciais do Banco Central mostram uma entrada de US$ 3,8 bilhões até a última quinta-feira (21).

Gasto de brasileiros no exterior bate recorde pela 3ª vez no ano
Investimento estrangeiro cresce em setembro, mas no ano deficit externo é recorde
Balança comercial tem superavit de US$ 274 milhões na quarta semana

Somente em operações financeiras, foram US$ 3,35 bilhões. Esse resultado está atrás apenas dos US$ 13,7 bilhões registrados em setembro, que foi influenciado pela capitalização da Petrobras.

As compras do BC para retirar dólares do mercado somam US$ 6,3 bilhões, atrás apenas do registrado no mês anterior.

Na semana passada (dia 18), o governo anunciou que o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para investimento estrangeiro em renda fixa passou para 6%. O tributo já havia subido de 2% para 4% no começo do mês. O governo também aumentou o IOF (de 0,38% para 6%) sobre a margem de garantia para investimentos no mercado futuro para estrangeiros.

AÇÕES

Dados parciais do BC até esta segunda-feira (25) mostram que a entrada de dólares no país está sendo puxada por investimentos estrangeiros diretos, que não são tributados com IOF, e aplicações em ações, cuja alíquota foi mantida em 2%.

O investimento direto soma US$ 4,5 bilhões e deve terminar o mês em US$ 5 bilhões, segundo previsão do BC. Com isso, o acumulado no ano já chega a US$ 27 bilhões, próximo da previsão para todo o ano de 2010 (US$ 30 bilhões).

Esses investimentos serão mais que suficientes para financiar o deficit previsto pelo BC nas transações com o exterior em outubro, de US$ 3,8 bilhões.

As aplicações em ações no país em outubro somam US$ 4,3 bilhões, bem acima do US$ 1,7 bilhão verificado na renda fixa, cuja alíquota de IOF subiu para 6%.

Em setembro, o destaque foi a aplicação de US$ 8,2 bilhões em ações no país, por conta da oferta de ações da Petrobras. Boa parte do dinheiro veio da venda de ADRs (papéis para aplicações em ações de empresas brasileiras no exterior), que somou US$ 3,8 bilhões. As aplicações em renda fixa no país somaram apenas US$ 1 bilhão.

O BC também registrou aumento na dívida externa de curto prazo, o que reflete as operações de captação de recursos com juros mais baixos no exterior para aplicação no Brasil, onde a remuneração é maior.

Enquanto a dívida de médio e longo prazo (superior a um ano) cresceu 8,5%, a dívida de curto prazo avançou 49%.

GASTOS DE BRASILEIROS

Os gastos de brasileiros em viagens internacionais e no cartão de crédito em lojas no exterior bateram recorde pela terceira vez no ano. Essas despesas somaram US$ 1,58 bilhão em setembro, segundo dados do Banco Central.

No acumulado do ano, o valor já chega a US$ 11,5 bilhões, acima dos US$ 10,9 bilhões verificados em todo o ano de 2009.

Os gastos de estrangeiros no Brasil, por outro lado, se mantiveram estáveis mais uma vez, em US$ 490 milhões em setembro. No ano, a diferença gerou um deficit de US$ 1,1 bilhão.

A estabilização do câmbio em um patamar abaixo de R$ 2,00 e o crescimento da renda têm sido fatores importantes para aumentar esses gastos.

O gasto com viagens internacionais é um dos componentes das contas externas do país e tem contribuído para piorar as transações correntes. Isso porque o ritmo de aumento dos gastos dos brasileiros não foi acompanhado pelo crescimento do turismo estrangeiro no país.

INVESTIMENTOS

Os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 5,4 bilhões em setembro, mais que o dobro do verificado no mês anterior, segundo dados do BC.

Os recursos foram mais que suficientes para financiar o deficit nas transações correntes do Brasil com o externo, que cresceu para US$ 3,9 bilhões no mês passado.

Nos últimos 12 meses, o deficit chegou a US$ 2,4% do PIB (Produto Interno Bruto), patamar que não é verificado desde o final do governo FHC. Os investimentos diretos em 12 meses ficaram em 1,57% do PIB.

Os investimentos em ações e títulos públicos de médio e longo prazo somaram US$ 5,5 bilhões e chegam a US$ 32,2 bilhões no ano, próximo da previsão de US$ 36 bilhões feita pelo BC.
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/81 ... aior.shtml

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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Antonio Felipe » 25 Out 2010, 11:47

Eu defendo que o Estado aja como regulador da economia. Mesmo que sem um arreio forte, mas o suficiente para evitar colapsos...
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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Samuel Boitar » 25 Out 2010, 11:51

Também concordo com o Antônio, não sou a favor do "liberalismo exagerado", tem que ter um regulador.
Embora, como o Eduardo disse, isso torne alguns brasileiros mais miseráveis de espíritos e falta de garra.

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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Scopel » 25 Out 2010, 11:59

Miserável de espírito? E o monopólio da informação [que vende a ideologia das elites, ou melhor, impõe]? E a situação da Educação Pública? E as condições de existência das classes mais baixas?
Antonio Felipe escreveu:Eu defendo que o Estado aja como regulador da economia. Mesmo que sem um arreio forte, mas o suficiente para evitar colapsos...
O Serra eu não afirmo, apenas suspeito fortemente... mas você defende o FHC! Comofaz? Ou você não entende que ele pretendia um Estado mínimo afim de garantir que as forças misteriosas e corretas do mercado alocassem de forma mais eficiente o capital?

Pelo que conheço e li da obra dele [estou lendo agora em Desenvolvimento Sócio-Econômico], ele sabe muito bem a condição de dependência histórica do Brasil. E eu também sei bem a quais interesses ele atende.

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Re: Economia

Mensagem por Scopel » 25 Out 2010, 12:09

A polêmica atual sobre a desindustrialização
Parece evidente que qualquer proposta para evitar ou enfrentar tal tendência deve passar pela redução da taxa de juros e por medidas que contribuam para trazer o real a níveis realistas de taxa de câmbio, com algum tipo de desvalorização em relação às demais moedas do mundo.

Um dos inúmeros pontos de polêmica a respeito da estratégia a ser adotada pela equipe do novo governo, que deverá tomar posse em janeiro do ano que vem, refere-se à questão da assim chamada “desindustrialização”, processo pelo qual estaria atravessando a economia brasileira.

Atualmente, o tema tem aparecido com bastante freqüência no debate entre os candidatos a cargos importantes na área econômica na futura equipe, servindo muitas vezes apenas para “marcar posição” e estabelecer os limites e as fronteiras entre os diversos grupos de interesse no meio empresarial e mesmo no conjunto da sociedade.

Em primeiro lugar, faz-se necessário trazer um pouco de luz para melhor compreendermos o que se pretende com tal definição. O que viria a ser a tal desindustrialização? Uma das abordagens prioriza o foco na redução da perda relativa do processo industrial face aos estímulos oferecidos às atividades vinculadas a outros setores como o extrativista, o rural e o do agro-negócio. Outra visão, diz respeito ao processo de elevação das importações dos produtos industriais, com a conseqüente redução relativa da importância do parque industrial instalado no território nacional. Finalmente, o conceito surge em um contexto bastante distinto dos anteriores, ou seja, o caso de países que começam a superar a fase da produção industrial e avançam rumo à vanguarda da economia do conhecimento, especialmente graças aos avanços obtidos nos setores de ciência e tecnologia.

No primeiro caso, o fenômeno de referência passou a ser aquele que as analogias do economês começaram a tratar genericamente como a “doença holandesa”. O termo deriva da análise do processo experimentado pela Holanda, com o crescimento de suas explorações de petróleo a partir da década de 60 do século passado. Surfando na onda da dependência extrema de todo o mundo para com o chamado “ouro negro”, houve uma espécie de acomodação rentista da sociedade holandesa, que acabou optando por uma tranqüilidade derivada da exploração de suas reservas petrolíferas e dos ganhos derivados das exportações do mesmo. No entanto, pouco a pouco, percebeu-se que aquilo que inicialmente era visto como uma dádiva, acabou operando como uma espécie de maldição…

Ao invés de utilizar o potencial oferecido pela descoberta de uma riqueza natural para alavancar ainda mais sua economia, a Holanda rendeu-se a uma postura quase passiva de usufruir tranqüilamente das rendas oferecidas pelo petróleo. Atrasou-se na modernização de seu parque industrial e mais tarde deu-se conta de que as exportações de petróleo não conseguiam assegurar um salto à frente de forma sustentável em direção ao longo prazo. Processo semelhante foi experimentado por outros países menos desenvolvidos, cuja economia era dependente de um ou mais fatores de exploração natural, como os países da OPEP no Oriente Médio e a Venezuela aqui na América Latina.

O segundo caso não está diretamente relacionado a uma opção que um país faça por um setor em que consiga retirar maiores vantagens comparativas, como no exposto aqui acima. Na verdade, trata-se de um processo de desindustrialização provocado por decisões de política econômica, que terminam por estimular setores extrativistas e agrícolas, em detrimento da atividade industrial. Em geral, há alguns instrumentos que tendem a ser mais utilizados para a implementação de tal estratégia. Um deles é a política cambial. Com uma taxa de câmbio mais valorizada, os bens produzidos no exterior tornam-se mais baratos e com isso estimulam-se as importações de uma forma geral. No caso de países menos desenvolvidos e com pouca capacidade industrial instalada, o resultado tende a apresentar um aumento no volume de importação de produtos manufaturados. Outra hipótese refere-se à opção por favorecer as atividades de natureza extrativista, agrícola e pecuária, por meio de medidas de estímulos como a concessão subsídios, empréstimos a juros subvencionados, garantia de preços mínimos, etc.

Nesse caso, o conjunto da sociedade é chamada a “colaborar” com tal estratégia, por meio da alocação dos recursos orçamentários para tais setores não industriais e que oferecem o que o economês chama de bens de “baixo valor agregado”. O exemplo típico é o da cadeia que evolui da extração do minério-de-ferro, passa pela produção do aço na indústria siderúrgica e chega na fabricação de máquinas especializadas ou navios na indústria de bens de capital. A cada etapa ocorre agregação de uma porção mais elevada de valor e, obviamente, os países e sociedades que se concentram nas fases finais tendem a se apropriar de mais riqueza gerada em comparação com a simples operação no setor primário. De forma geral, os países que se especializam na oferta de produtos na escala mais “para trás” correm o risco de acabar criando estruturas políticas internas que se acomodam com tal sistema e impedem o avanço da industrialização de ponta.

Nesse ponto, cabe mencionar um caso meio híbrido, mas que chegou a ser considerado como uma espécie de panacéia para o atraso relativo dos países em desenvolvimento, um meio seguro para atingir níveis mais avançados de industrialização. Refiro-me à construção das chamadas “plataformas de exportação” ou “zonas de processamento de exportações” – ZPEs. Esse tipo de modelo estava na base da concepção da nossa Zona Franca de Manaus e vai entrar com mais ímpeto na nossa agenda interna no ano que vem, com o crescimento de propostas de criação de ZPEs pelo Brasil afora, todas em tramitação no Congresso Nacional.

O exemplo mais emblemático dos problemas derivados da adoção de tal estratégia é o caso do México. Combinado ao processo de ingresso no NAFTA (Área de Livre Comércio da América do Norte), o território mexicano foi utilizado para instalação de uma quantidade enorme de empresas multinacionais operando em vários setores, como automobilísticas e de eletro-eletrônica. Contando com facilidades concedidas pelo governo local e operando com remuneração de mão-de-obra a níveis mais baixos do que a média dos países desenvolvidos, o sistema prevê a possibilidade de importação de matéria-prima e equipamentos sem impostos e o estímulo para a exportação dos bens manifaturados. Ficou conhecido em espanhol como o modelo “de las maquiladoras”.

A analogia com a maquiagem refere-se justamente à essência do aspecto operacional: os componentes importados todos entram no México com isenção de impostos e a contribuição local é meramente a montagem numa linha industrial que opera com salários reduzidos e condições de trabalho degradantes. Em seguida os produtos são re-exportados, pois os mercados demandantes estão no exterior – EUA, Canadá e resto do mundo. Assim, o questionamento que fica é sobre a natureza e os benefícios de tal processo de industrialização para o país que o adota. Os balanços demonstram que a maioria da sociedade mexicana pouco se beneficia de tal mecanismo. Pelo contrário, elevou-se o nível das desigualdades regionais, sociais e econômicas. E mais de 90% da produção vai ser consumida no exterior, enquanto a população daquele país continua a viver em condições de extrema pobreza. Ou seja, que industrialização é essa? Quase uma desindustrialização…

Finalmente, há o caso de países que avançam tanto em direção aos setores de ponta da atividade produtiva que terminam por se afastar da própria produção… Trata-se de uma das grandes contradições experimentadas pela sociedade nos tempos atuais. Os processos de maior agregação de valor são altamente intensivos em conhecimento e estão bastante distantes do modelo clássico da produção capitalista do século anterior. Nesses casos, a desindustrialização significa o aumento relativo de participação do setor de serviços de alta complexidade e os setores de elevada tecnologia. Esse tipo de modelo implica a redução da presença das empresas industriais típicas de um processo produtivo que parece estar em processo de superação. Abandonam-se os chamados “processos sujos” e ganham relevância os processos de alta densidade tecnológica e resultados praticamente intangíveis ou de reduzido volume físico. Aqui a tendência à desindustrialização pode ser vista como a construção do caminho para a vanguarda.

No caso do Brasil, o debate atual está mais vinculado aos primeiros casos. Existe muita polêmica, os números e os argumentos são esgrimados em ambos os sentidos. Há economistas e pesquisadores que entendem que o nosso País corre um sério risco de desindustrailização no sentido de “perder o bonde da História”, em função da opção de fortalecimento de atividades ligadas ao chamado setor primário (extrativismo e agronegócio). De outro lado, há os que defendem o modelo, argumentando que o processo que o Brasil está experimentando é mais dinâmico e que não haveria tal risco de desindustrialização, uma vez que sobraria espaço suficiente para a convivência entre os setores “atrasados” acima mencionados e os setores mais modernos associados à indústria.

Como estamos vivendo esse processo que tem características de longo prazo, fica relativamente difícil encontrar respostas absolutas, assim à quente. A forma relativamente suave com que a crise internacional nos afetou entre 2008 e 2009 permitiu a recuperação da atividade econômica e os dados já apontam para um crescimento do PIB superior a 6% em 2010. Os dados relativos ao emprego também demonstram uma tendência à elevação da demanda por parte das empresas. As informações referentes à produção e às vendas no comércio também vão na mesma linha.

A grande dúvida que permanece é relativa ao tipo de modelo que está sendo forjado nessa saída pós-crise. Isso porque não restam dúvidas de que a opção colocada em marcha ao longo dos últimos anos tem contribuído fortemente para a tendência à desindustrialização. Senão, vejamos.

A política monetária de juros elevados praticada pela equipe econômica tem assegurado ao Brasil, de forma persistente, a faixa de campeão mundial da taxas de juros. Com esse patamar estratosférico da taxa SELIC do Banco Central e a prática criminosa dos elevados “spreads” pelas instituições do sistema financeiro, há um verdadeiro desestímulo ao investimento produtivo. A remuneração oferecida pelos que aplicam em títulos financeiros acaba se revelando como mais segura e mais atrativa até do que iniciar um novo empreendimento em nosso País.

A política de valorização da taxa de câmbio do real frente ao dólar, ao euro e demais moedas estrangeiras tem provocado a perda de competitividade da produção nacional, especialmente no setor industrial. Assim, não apenas as exportações brasileiras ficam mais difíceis no mercado externo, como tem se verificado um aumento significativo das importações de produtos industriais. Essa perda de competitividade da indústria brasileira reduz seu ritmo de crescimento e tem provocado um perigoso atraso nas decisões de investimento.

Por outro lado, os setores que mais têm contribuído para a retomada do crescimento tem sido os de baixo valor agregado. Construção civil e o agronegócios são os exemplos mais significativos. A iniciativa do governo com as obras do PAC foi importante para manter a demanda interna acrescida e para gerar novos empregos. Porém, os projetos não estão conseguindo dar conta dos enormes gargalos na infra-estrutura e, principalmente, não operam nessa inflexão da desindustralização. Sobre a dependência do atual modelo face às atividades vinculadas ao “agribusinness”, nem há necessidade de comentar. O próprio nome é explicativo.

Os que não temem pela desindustrialização tentam nos tranqüilizar apontando dados sobre a retomada dos investimentos, os empréstimos do BNDES, as medidas do governo de política industrial, o estímulo ao desenvolvimento na área de ciência, tecnologia e inovação. É verdade! Tudo isso está em ocorrendo, mas os resultados ainda não surgiram, até porque o tempo de maturação é mais longo.

No entanto, o fato é que a política de juros altos continua. E a política de valorização cambial também. Nada mudou, pelo contrário. Comenta-se até que o COPOM poderia aumentar ainda mais a taxa SELIC em sua próxima reunião! Ou seja, o risco de desindustrialização é um dado inescapável da equação a ser enfrentada.

Para finalizar, avanço aqui alguns dados relativos ao encerramento do primeiro semestre desse ano na área de comércio exterior. E a situação não melhorou em quase nada. Verifica-se uma acentuação da perda relativa de posição dos produtos manufaturados no total de exportações. Ou seja, há um crescimento do peso dos produtos primários, de baixo valor agregado. Por exemplo: entre os 25 anos de 1982 e 2007, a média havia sido de 58% de industrializados no total das exportações. Nos últimos 3 anos, essa participação baixou para 49%, 43% e 41%. Quando se analisam algumas informações do lado das importações, a situação também merece preocupação. A participação dos bens manufaturados no total das importações brasileiras ficou na média de 12% ao longo dos últimos 20 anos – com exceção dos anos de câmbio valorizado sob FHC. Já em 2009 e 2010, houve um crescimento significativo dessa participação, saltando para 16% e 17%. Ou seja, algo como se a demanda interna em expansão estivesse sendo atendida por produtos industriais importados. Em síntese: continuamos a exportar bens com baixo valor agregado e a importar cada vez mais produtos manufaturados de maior valor agregado para nosso consumo. A velha estória de nos vangloriarmos de exportar soja, minério de ferro, suco de laranja e carne, ao passo que importamos produtos eletrônicos, computadores, celulares e outros bens de alto valor agregado.

Como se percebe, a questão é complexa e não se pode afirmar com segurança que o processo de desindustrialização seja efetivo. No entanto, parece evidente que qualquer proposta para evitar ou enfrentar tal tendência deve passar pela redução da taxa de juros e por medidas que contribuam para trazer o real a níveis realistas de taxa de câmbio, com algum tipo de desvalorização em relação às demais moedas do mundo.
http://outrapolitica.wordpress.com/2010 ... ializacao/



É, a coisa está ficando séria.

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Re: Economia

Mensagem por Antonio Felipe » 25 Out 2010, 12:18

Até pelo que cita o texto a respeito do petróleo e a Holanda, aqui está apostando-se demais no petróleo do Pré-Sal como forma de "salvar" o Brasil, de fazê-lo crescer mais...

Ficar oleodependente é um grande risco, não só pela durabilidade desse produto, como também pela sanha que o petróleo provoca, além de sua valoração muito variável...
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Re: Economia

Mensagem por Scopel » 25 Out 2010, 12:22

Já somos dependentes do mercado externo, tanto para comprar bens de capital [máquinas e equipamentos de produção] quanto para comprar bens de consumo [classes médias] e o pior: para que eles comprem a nossa produção, uma vez que somos um país agro-exportador.

Se dependemos principalmente da demanda externa, o que acontece quando há uma contração brusca na demanda, como numa crise destas? Temos que repensar essa questão, temos não, eles tem...

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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Eduardo Godinez » 26 Out 2010, 22:07

então conte mais sobre os interesses que o FHC era servidor
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Re: O papel do Estado na Economia

Mensagem por Scopel » 26 Out 2010, 22:09

Está no enunciado do tópico como uma tendência mundial.

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Re: Economia

Mensagem por E.R » 03 Nov 2010, 18:12

G1

. No encontro do G-20, presidentes de 20 nações devem discutir meios de aplacar o que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou de "guerra cambial". O Brasil já tomou medidas para conter a desvalorização do dólar, como o aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimento estrangeiro em renda fixa.

Segundo Dilma, o problema de câmbio é internacional e deve ser resolvido em conjunto com os demais países. "Todos os países e não só a China e os Estados Unidos percebem que há uma guerra cambial. E numa situação dessas não há solução individual."
O que os países europeus e os Estados Unidos fazem mal à economia mundial com seus subsídios, e o que a China (com sua política cambial + mão de obra escrava) tá fazendo, realmente precisa ser discutido.

O Brasil também tem que ter uma relação comercial mais generosa com os países vizinhos (em especial, Argentina, Paraguai e Bolívia). Reconheço que devemos ajudar mais a economia do Paraguai e da Bolívia, mas desde que haja respeito dos dois lados.
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Re: Economia

Mensagem por Scopel » 03 Nov 2010, 21:52

Generosidade? Em economia? Ah tá, senta lá, Cláudia!

Ninguém vai se meter com a China, esqueça. De todo modo, dizem que algo do investimento estrangeiro já tem sido transferido para o Vietname, devido ao encarecimento da mão-de-obra na China. E qual o seu problema com o câmbio da China? Já não te foi explicado que é vantajoso para mercado e industria interna que um país exportador tenha câmbio desvalorizado?

O Brasil está sofrendo horrores com o câmbio valorizado. Quem ganha são os multimilionários [não-industriais] e os abastados senhores do agronegócio que tem maior poder de compra no exterior*. Acontece coisinha do tipo: desindustrialização ou reprimarização da economia, a balança de pagamentos fica deficitária, aumenta a taxa de desemprego, cai o nível de renda da classe assalariada, cai o consumo, cai as inversões de capital nacional, exacerbação da dependência e falta de autonomia de nossa economia...

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Re: Economia

Mensagem por Aolynthon » 04 Nov 2010, 21:44

G1

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O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, disse nesta quinta-feira (4), em São Paulo, que o salário mínimo em 2011 deve ficar entre R$ 560 e R$ 570, informou a assessoria de imprensa do ministério. Lupi participou nesta tarde da inauguração de um busto do ex-presidente Getúlio Vargas no Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados e Tecnologia da Informação do Estado de São Paulo (Sindpd).

De acordo com a assessoria, o ministro afirmou ser possível um reajuste que se aproxime dos R$ 580 reivindicados pelos sindicatos porque o aumento real de 74% do salário mínimo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva impulsionou a economia brasileira e gerou renda para a população. Nesta quarta (3), o relator do Orçamento de 2011, senador Gim Argello (PTB-DF), anunciou que vai pelo menos arredondar de R$ 538,15 para R$ 540 o salário mínimo para o próximo ano. Centrais sindicais iniciaram nesta quinta negociações para que o valor alcance R$ 580.

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