https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2 ... -vez.shtml
A Volkswagen está considerando fechar fábricas na Alemanha pela primeira vez em seus 87 anos de história, enquanto o CEO, Oliver Blume, alertou que a indústria automotiva europeia está em uma "situação muito séria".
A medida vem após um programa de redução de custos lançado em 2023 ter ficado vários bilhões de euros abaixo do esperado, já que a empresa só conseguiu reduzir custos gerais oferecendo aposentadoria antecipada e pacotes de demissão voluntária aos funcionários devido a acordos com seu conselho de trabalhadores.
"O ambiente econômico ficou ainda mais difícil, e novos concorrentes estão entrando no mercado europeu. Nesse ambiente, nós, como empresa, devemos agora agir de forma decisiva", disse Oliver Blume.
A demanda menor do que o esperado por veículos elétricos na Europa atingiu os fabricantes de automóveis da região, incluindo a Volkswagen, que também está lutando com uma participação de mercado em queda na China, seu mercado mais lucrativo.
Na segunda-feira, a Volkswagen disse que a "reestruturação foi insuficiente para alcançar os ajustes estruturais urgentemente necessários para maior competitividade a curto prazo".
A Volkswagen emprega cerca de 300 mil pessoas na Alemanha.
Manter empregos é uma prioridade máxima para o estado alemão da Baixa Saxônia, que possui 20 % da empresa, e frequentemente se alinha com o conselho de trabalhadores, que detém metade dos assentos no conselho de supervisão da Volkswagen.
O primeiro-ministro da Baixa Saxônia, Stephan Weil, disse nesta segunda que era "indiscutível que a Volkswagen precisa agir", mas acrescentou que o fechamento de fábricas era apenas uma das opções disponíveis.
"Esperamos que o fechamento de fábricas não aconteça", enfatizou, acrescentando que o estado "prestará atenção especial a isso".
Daniela Cavallo, presidente do conselho de trabalhadores da Volkswagen — que, segundo as regras alemãs, representa os interesses dos trabalhadores no nível do conselho de supervisão — emitiu uma nota aos funcionários, alertando que a administração estava considerando fechar fábricas alemãs, já que a marca principal da Volkswagen corria o risco de entrar no vermelho.
"Como resultado, o conselho executivo está agora questionando as fábricas alemãs, os acordos salariais coletivos internos da Volkswagen e o programa de segurança de emprego que vai até o final de 2029", disse Daniela Cavallo.
A Volkswagen disse que sua situação financeira "extremamente tensa" significava que "mesmo o fechamento de fábricas de produção de veículos e componentes não pode mais ser descartado", acrescentando que começaria negociações com os representantes dos trabalhadores.
A batalha iminente sobre a reestruturação do maior fabricante de automóveis da Europa ocorre enquanto a Volkswagen enfrenta menor demanda tanto domesticamente quanto na China, além de novos concorrentes entrando no mercado europeu.
Vários fabricantes chineses de veículos elétricos, como a BYD, planejam entrar na Europa, enquanto a Volkswagen e outras marcas tradicionais correm para desenvolver veículos elétricos mais baratos.
Analistas há muito tempo instam a Volkswagen a realizar cortes de empregos para que as reduções de custos funcionem em um momento em que são necessários grandes investimentos para fazer a transição para os elétricos.
"Está ocorrendo uma grande mudança cultural na Volkswagen", disse Matthias Schmidt, analista automotivo independente. "Acho que os sindicatos provavelmente estão vendo a realidade e provavelmente serão mais compreensivos desta vez".