
Eu nunca havia entendido a lógica de ordenação das páginas internas de revistas e gibis. Em cada folha inteira, são impressas quatro páginas de gibis, frente e verso. Porém, a ordenação destas páginas dentro de cada folha varia conforme o total de páginas de cada publicação. No dia 22, o Fabão esclareceu tudo a partir de uma fórmula matemática:
Frente:
Esquerda: p + 2 - 2x
Direita: 2x - 1
Verso:
Esquerda: 2x
Direita: p + 1 - 2x
Onde "p" é o número de páginas da revista e "x" é o número da folha.
A partir da fórmula, fiz os cálculos para um gibi de 32 páginas (p = 32), ou seja, 8 folhas frente e verso (8x2 = 16; 16x2 = 32). A ordenação de cada folha e de cada página dentro da folha ficou assim:
x = 1 (capa e contracapa)
frente 32; 1
verso 2; 31
x = 2
frente 30; 3
verso 4; 29
x = 3
frente 28; 5
verso 6; 27
x = 4
frente 26; 7
verso 8; 25
x = 5
frente 24; 9
verso 10; 23
x = 6
frente 22; 11
verso 12; 21
x = 7
frente 20; 13
verso 14; 19
x = 8
frente 18; 15
verso 16; 17
Olhando este exemplo com os cálculos já feitos vemos que não há tanto segredo por trás da ordenação. Simplesmente a capa é impressa na mesma folha que a contracapa, com as outras folhas dobradas vindo em seguida. As páginas centrais, exatamente no meio, tem numeração contínua. Para este total de páginas, isto aconteceu na página 16-17, pois 32/2 = 16. A partir dela, a primeira metade da numeração vai decrescendo (15, 14...) e a segunda metade da numeração crescendo (18, 19...). O grande lance é fazer as combinações corretamente, e seguindo a fórmula não há erro.
Ao descobrir que a página 32 deve ser impressa ao lado da 1 na primeira folha, com a página 2 ao lado da 31 no inverso desta mesma folha e assim por diante, baixei um gibi que nunca havia lido, a Cartilha de Civismo e Saúde distribuída pelo Lions Clube em 1967. Este especial foi digitalizado pelos Esquiloscans e tratado digitalmente por Luiz Dias, do site Chutinosaco.
Inicialmente, salvei cada página separadamente. Depois, montei um arquivo do Word com as páginas aparecendo na ordem acima. Padronizei a altura das imagens e coloquei uma fina borda nas laterais para recortar os excessos. Se outro maluco quiser imprimir, envio o arquivo já no jeito.

Imprimi uns testes em preto e branco e vi que a impressão não ficava centralizada quando eu imprimia no verso de uma folha já impressa. Então ajustei as margens e centralizei as imagens no documento. Pronto. Imprimi todas as oito folhas já na ordenação e tamanho correto.
Decidi imprimir a capa em um papel diferente, para que ela ficasse mais consistente. Tinha em mãos um papel "fotográfico" e um outro aqui. Infelizmente a impressão da capa/contracapa ficou ótima num papel que saiu de tamanho errado, então tive que reimprimi-la em outro papel, no qual o tamanho ficou ajustado mas acabou vazando tinta da impressora. Quis caprichar na capa, imprimindo-a na qualidade "Normal". Não deu certo: a impressão saiu melhor no "Rascunho rápido", método que gasta menos tinta e foi usado em todas as páginas internas (papel sulfite comum). Apesar de imprimir com cores mais fracas, esse método de impressão foi melhor pois nele não houve vazamento de tinta, além de ser mais econômico. Por outro lado, talvez o vazamento na capa decorreu de alguma especificidade do tipo de papel.

Depois, bastou recortar as laterais e dobrar as páginas. "Magicamente", o gibi estava montado como numa gráfica, com a capa, página 2, 3, 4, 5, 6 e assim por diante. Faltava só grampear. Consegui grampear certinho na lombada, mas de nada adiantou. As páginas do meio ficaram todas soltas. Tive que grampear mais afastado da lombada, o que enfeia a capa mas era a única forma de prender "artesanalmente" todas as páginas de uma vez. Aliás, uma boa dica é imprimir a capa com um tamanho ligeiramente maior na horizontal, para que ela "abarque" todas as páginas internas mesmo com a curvatura da lombada.
Evidentemente, trata-se de uma impressão caseira, portanto muito inferior à qualidade de impressão de uma gráfica/editora. Tampouco passei a ter este gibi em minha coleção, uma vez que ele não é original, apenas uma impressão. Apesar disso, fiz questão de ordenar as páginas e imprimir para ver se eu conseguiria montá-lo corretamente em casa a partir da fórmula. O resultado final ficou muito legal.

Quanto ao conteúdo da edição, ela traz uma história "promocional" desenhada por Waldyr Igayara de Souza. Produzida na época da ditadura militar, a história exalta o patriotismo, o amor à bandeira e valores morais. No roteiro, Primavera, Fauna e Flora querem transformar o Reino das Fadas, "monótono e insuportável" em um país, que abrigará "os povos refugiados do mundo todo e o os homens de boa vontade que queiram viver em paz". Diante disto, elas resolvem vir ao Brasil, "um país jovem e em franco progresso", para aprender diversos valores com... Zé Carioca (!).

Zé apresenta a "esperança num futuro promissor, onde novas conquistas da ciência e da indústria tornarão o Brasil cada vez mais grandioso". "Vejam! Quando um país é democrático, cada cidadão poderá alcançar seus objetivos!", diz o papagaio em plena ditadura.

A história explica detalhadamente as regras específicas para o uso da bandeira nacional. Num quadro onde dizem o que não deve ser feito com ela, tomaram o cuidado de desenhar uma bandeira aleatória somente para não "profanar" a bandeira brasileira. É explicado ainda que "Numa conferência, ela deve estar atrás e acima da altura da cabeça do conferencista, nunca baixo deste". Contudo, na página 14 desenharam uma pessoa palestrando com a bandeira do Brasil bem atrás dela, abaixo da altura da cabeça.

Não sabia que "arma" é um termo usado para se referir a escudos e brasões. "Heráldica é a ciência ou arte que trata dos escudos e dos brasões representativos", explica um personagem. O gibi traz ainda as definições de Estado, governo (essa parte é bem legal), Constituição e civismo. Por outro lado, o Zé Carioca não costuma cumprir muito a lei pra ficar exaltando-a, não?

Não entendi o motivo desta repreensão, que contradiz o conteúdo da história (que defende que as mães devem cuidar bem de seus filhos).

Depois da HQ, foi publicada uma cartilha dirigida às mães, com cuidados que estas devem tomar na criação dos filhos. São dadas diversas orientações, sobretudo de saúde. Pesquisei algumas coisas, como "puericultura" e "água vegeto-mineral". Só não consigo imaginar que maluco daria bebidas alcoólicas para uma pessoa vítima de afogamento, a ponto de ser necessário o livro recomendar que isso não seja feito.






































