O trabalho pode ajudar a entendermos a dimensão política da obra de Chespirito, que insistia em se proclamar apolítico, e esse trabalho deixa bem claro o quanto isso não existe.
Vocês podem ler o trabalho completo aqui: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/179193
Vou resumir alguns pontos:
A imaginação do autor no momento da criação do personagem é limitada pelas suas experiências sociais, por sua memória, pelo o que o autor chama de seu universo inicial
Chapolin como obra saítirca
Ao analisarmos a forma como Bolaños trata determinadas questões sociais em sua obra, podemos considerar que o autor faz uso da sátira como um recurso linguístico para apresentá-las sob a ótica de um juízo negativo. Ora apresentando os indígenas de forma estereotipada, como uma civilização ‘atrasada’ que não conhece as ‘benesses’ do progresso, ora satirizando a intervenção estadunidense no México na figura do ganancioso herói Super Sam, a sátira é um elemento que perpassa a obra de Bolaños, sendo o próprio personagem Chapolin uma visão satiríaca do que seria um modelo de herói latino-americano: tonto, estúpido, atrapalhado, sem recursos, medroso, porém com um bom coração e rígidos valores morais.
Bufallo Bill, resistência armada e indígenas
Entretanto, a moral que esta cena busca construir mediante a fala de Chapolin é de que mesmo que muitos crimes tenham sido cometidos contra as populações indígenas ao longo da história, estas não somente despossuem o direito de usar da violência como um instrumento de luta, como a solução apontada é a da conciliação e da institucionalidade democrática – pois subentende-se que Bufallo Bill é preso por Chapolin no final do episódio. Acreditamos que esta concepção de moral em Bolaños possa estar intimamente relacionada com a sua forte devoção ao catolicismo e sua descrença na luta
revolucionária.
Episódio Limosnero y Con Garrote: relações de trabalho, mendigos e criminalidade
Em um prezado momento, este rouba o dinheiro de sua própria filha que recém havia pedido uma esmola para comprar comida. Abalada por ter sido roubada por seu próprio pai, ela pede pelo auxílio de Chapolin. Podemos perceber na construção do personagem do pai, uma representação deturpada daqueles que se encontram em situação de rua, os apresentando como indivíduos perigosos, oportunistas e que tendem facilmente a criminalidade.
Assim que Chapolin chega ao local, começamos a perceber os limites da caridade do herói na forma com a qual este se relaciona com a moradora de rua. Chapolin logo faz piadas com o gênero desta e com sua aparência, primeiro colocando que gostaria de conversar “de homem para homem” com esta, para depois afirmar que gostaria de falar “de homem para espantalho”. A personagem como uma moradora de rua é assim negada de sua identidade feminina por Chapolin ao momento em que para este ela ‘parece homem’, ou mesmo um objeto inanimado e não-humano como um espantalho
Em seguida, Chapolin entrega a pedinte uma pequena quantia em dinheiro e diz que se era para isso que ela o chamou, a situação estava resolvida. Entretanto, a moradora de rua insiste que o herói precisa lhe ajudar a recuperar o dinheiro que o seu próprio pai roubou dela. Chapolin concorda com uma condição que o herói coloca nos seguintes termos: “você vai me prometer que esta foi a última esmola que você pegou. E que de hoje em diante vai procurar trabalho honrado”
Coloquei o título do tópico como uma pergunta pra que vocês pudessem acrescentar mais exemplos. Quem leu a autobiografia do Chespirito, tipo o @James Revolti, pode colocar mais exemplos aqui, pelo que sei ele termina seu livro falando da eleição do Vicente Fox.
Quem é jovem e tem a pretensão de iniciar uma graduação pode ter nesse tópico um primeiro contato com a vida acadêmica e quem sabe servir de inspiração para futuros trabalhos.