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. É hora de tratar da relação entre despesas e receitas do Flamengo, tanto do futebol quanto das outras atividades do clube.
Só pra lembrar : estes números são todos relativos ao ano de 2009, o último da gestão Márcio Braga / Delair Dumbrosck. Não pegam nada da gestão Patrícia Amorim. Dito isto, vamos em frente.
No futebol, as despesas do Flamengo se reduziram de 2008 para 2009 em cerca de R$3 milhões. A redução não foi na folha salarial - que na verdade aumentou de R$63,6 milhões para R$66,6 milhões -, e sim nas "despesas gerais": houve uma economia de R$6 milhões, que não se consegue perceber como aconteceu apenas olhando o balanço.
Como o nível das receitas se manteve estável - já falei disso em texto anterior -, o resultado do futebol do Flamengo em 2009 foi um belo superávit de R$15,4 milhões. E mesmo que o clube não tivesse arrecadado nada com vendas de jogadores (foram R$14,8 milhões ganhos assim), o futebol ainda teria gerado dinheiro o bastante para pagar seus compromissos relativos àquele ano.
Mas então, como é que está faltando dinheiro na Gávea ?
A primeira resposta, claro, é a dívida passada. O Flamengo entrou em 2009 com uma dívida de curto prazo de R$149 milhões, que encerrou o ano R$2 milhões maior. São credores batendo à porta que vão comendo grandes fatias do dinheiro que entra, prejudicando o fluxo de caixa e obrigando a diretoria a pedir empréstimos, adiantar receitas, apertar os cintos. Porém, se o futebol gastou tanto a menos do que arrecadou, como é que esta dívida aumentou ?
A resposta está, em parte, nos juros sobre a dívida não paga. Não dá pra simplesmente empurrar os compromissos com a barriga sem que seus valores aumentem, e a dificuldade de continuar adiando os problemas nos anos seguintes vai aumentando. Mas a explicação também está no resultado das atividades do clube social e dos esportes olímpicos.
De 2008 para 2009, as receitas destas outras áreas do Flamengo até aumentaram, de R$13,8 milhões para R$15,9 milhões (o maior aumento foi nas mensalidades dos sócios, que geraram R$5,6 milhões, R$1 milhão a mais do que em 2009); só que as despesas também cresceram no mesmo valor, de R$23,1 milhões para R$25,4 milhões, divididos mais ou menos igualmente entre "pessoal" e "despesas gerais". Assim, os esportes olímpicos e o clube social deram um prejuízo de quase R$9,5 milhões que comeu boa parte da folga de grana que o futebol gerou.
Um grande problema de imagem que Patrícia Amorim tem que enfrentar desde sua campanha para a presidência é a fama de que, por ser ex-nadadora, priorizaria os esportes olímpicos e a sede social em detrimento do futebol. E, vendo estes números, de cara pareceria um absurdo se gastar mais dinheiro ainda com estas áreas.
Porém, a verdade é que, com o dinheiro que já era investido, a situação até o fim do ano passado era de uma sede se deteriorando por falta de manutenção e, com isso, atraindo cada vez menos gente; e, no geral, resultados inexpressivos, abaixo da história rubro-negra, nos esportes olímpicos - com a exceção do basquete e da ginástica, que andaram conseguindo títulos ao mesmo tempo em que queimavam o filme do clube na mídia com seus atletas protestando contra a falta de pagamentos.
Ou seja: se já se gasta muito mais do que se arrecada e a situação é tão ruim, talvez a questão não seja tanto gastar menos, mas sim gastar bem, escolhendo no que investir para que haja retorno e a parte social e olímpica do clube possa ao menos se sustentar minimamente - para ser modesto. Não é razoável que o Flamengo tenha uma área como a Gávea, numa das regiões com metro quadrado mais caro do país, e faça dela não uma fonte de lucro, mas sim de dívidas; não é razoável lançar no balanço um prédio no valor de R$65 milhões e ver ele gerando praticamente nada de receita e acumulando dívidas de IPTU e coisas do gênero; não é razoável ter uma história esportiva e uma marca como a que o Flamengo tem e não conseguir atrair parceiros que ao menos sustentem as atividades de suas equipes. E não dá pra reverter tudo isso de uma hora pra outra, com uma canetada e sem nenhum investimento.
Mas ainda é cedo pra afirmar se a nova diretoria do Flamengo está sabendo escolher um caminho que mude esta situação. É mais uma das grandes missões neste mandato.
- A dívida total do Flamengo hoje é de R$344 milhões. No fim de 2008, era de R$333 milhões. Ou seja: houve um crescimento de 3% no ano passado.
- O passivo a descoberto do clube é de R$79 milhões. Traduzindo: se o Flamengo pudesse vender tudo o que possui apenas para pagar as dívidas, continuaria devendo R$79 milhões.
- Desta dívida, R$193,6 milhões são de longo prazo. O valor é alto, mas esta é a parte menos preocupante da dívida, pois está toda negociada para ser paga parceladamente. A enorme maioria disso se refere aos débitos com o governo que foram incluídos no acordo da Timemania, mas também entram na conta as dívidas com Romário (R$10 milhões) e Petkovic (R$7 milhões).
Agora a parte mais complicada: o passivo circulante - ou seja: dívidas que devem ser pagas até o final deste ano - é de R$151 milhões, R$2 milhões a mais do que era no final de 2008.
As receitas totais do Flamengo no ano passado foram de R$120 milhões. Isso quer dizer o seguinte: se o Flamengo mantivesse este número em 2010 e usasse todo o dinheiro pra pagar estes compromissos, ainda faltariam R$30 milhões - isso sem nem começar a pagar todas as despesas deste ano.
Como se administra nesta situação ? O que a diretoria faz ao longo dos anos é pegar empréstimos e pedir adiantamentos de receitas para ir jogando estas dívidas cada vez mais pra frente. É por isso que o Flamengo está preso a perder de vista no contrato de venda de ingressos com a BWA, por exemplo. E é por isso que Kléber Leite dizia que a crise mundial tinha prejudicado tanto a vida do Flamengo: com o crédito ficando escasso no mercado pra todo mundo, ficou ainda mais difícil para o clube pegar novos empréstimos na praça - ainda mais com o nível de endividamento que ele já tem.
Pra seguir sua vida normalmente, o Flamengo não precisa zerar toda a sua dívida - mas precisa encontrar uma maneira de lidar com ela. Tem que negociar com os credores, saber quanto tem que pagar da dívida no ano e colocar isso no orçamento, para não ficar sujeito a penhoras, ações na Justiça, dificuldades de crédito e outras dificuldades.
Mas afinal, o que é esta dívida gigantesca do Flamengo ?
- R$34 milhões de impostos e contribuições sociais. Depois que parou de precisar das certidões negativas do Estado para receber da Petrobras, este tipo de dívida estourou - cresceu R$11 milhões em relação a 2008. Hoje o Flamengo deve R$19 milhões em imposto de renda na fonte sobre os salários, fora dívidas de IPTU, ISS, FGTS, PIS, INSS e outros. É isso: em 2009, o Flamengo não deu nenhuma prioridade ao pagamento de seus impostos.
- R$ 26,3 milhões de "contas a pagar". Aí entram dívidas de curto prazo referentes a compras de jogadores (R$9,4 milhões); prêmios, direitos de imagem e luvas para os jogadores (R$10,5 milhões); comissões a agentes (R$1,5 milhão); e outras contas não especificadas, que chegam a R$6,5 milhões.
- R$13,8 milhões de obrigações trabalhistas e sociais. Aí entram rescisões contratuais, salários, férias, 13o salário e outros. No final de 2008, a situação era pior - o clube tinha R$18,2 milhões de dívidas deste tipo.
- R$23,4 milhões de empréstimos bancários. Este número cresceu mais de R$5 milhões em relação a 2008. R$19,4 milhões são com o Banco Industrial - até 2008, a dívida com este banco era de menos de R$4 milhões). Trata-se de um banco de crédito, sem rede de agências, especializado no que eles chamam de middle market (empresas com faturamento anual de R$12 a R$100 milhões por ano). Seu controlador é Carlos Alberto Mansur, dono da Vigor - que chegou a ser especulada como possível patrocinador do time ano passado.
- R$9,5 milhões de empréstimos de outras instituições - basicamente CBF, FERJ e Clube dos Treze.
- R$ 21,5 milhões de receitas a realizar - ou seja: adiantamentos. O Flamengo pegou adiantados R$8,2 milhões dos contratos com a Olympikus (no fim de 2008, eram R$9,5 milhões, mesmo sem o contrato ainda em vigor), R$1 milhão de direitos de TV (eram R$1,4 milhões em 2008) e R$12 milhões da Ingresso Fácil, relativos à bilheteria dos jogos (em 2008, eram R$15 milhões).
- Entra ainda nesta conta R$21 milhões de provisão para contingências - ou seja: dinheiro reservado para pagar ações em andamento na Justiça. São R$4 milhões de ações trabalhistas e R$17,2 milhões de ações cíveis. Em 2008, o valor desta provisão era maior : R$36,5 milhões.
De 2008 para 2009, a dívida de curto prazo do Flamengo, aquela realmente mais complicada de lidar, pulou de R$149 milhões para R$151 milhões. Ou seja: ficou quase estável, em um ano complicado para as finanças do clube. É bom lembrar que o Flamengo passou seis meses sem patrocinador na camisa, e que o contrato da Olympikus – apesar do clube já ter pego adiantamentos em 2008 – só começou também a valer a partir da metade do ano. Em relação a 2008, também não houve uma grande venda como a de Renato Augusto, que serviu pra maquiar o grande déficit operacional que o clube teve naquele ano (e que ainda foi muito grande em 2009).
Ou seja: em 2010, com mais dinheiro da Olympikus, o aumento de mais de 20 milhões de receita apenas com o patrocínio da camisa do time de futebol e os outros contratos que vão sendo assinados, a perspectiva é que a receita cresça bastante. Se conseguirem manter o nível de despesas do clube ao menos parecido, a tendência é que a dívida de curto prazo possa diminuir e o Flamengo se torne um clube um pouquinho mais fácil de administrar.
As receitas totais do futebol do Flamengo em 2008 e 2009 foram iguais: R$104 milhões. Mas como isso é possível, se caíram as receitas de marketing em R$6 milhões e as de venda de jogadores em R$13 milhões ?
A resposta: o Flamengo ganhou R$28 milhões da TV em 2008 e, com a renegociação do contrato, pulou para R$44 milhões em 2009. Para comparar: o Grêmio, ano passado, recebeu R$27,5 milhões, segundo seu balanço – e esta é a ordem de grandeza do que também recebem Atlético-MG, Cruzeiro, Internacional, Botafogo e Fluminense. O Flamengo está no grupo dos que mais ganham, junto com Corinthians, São Paulo, Vasco e Palmeiras. É bom lembrar ainda que, hoje, parte do dinheiro é dividido de acordo com as vendas de pay-per-view, com os clubes ganhando de acordo com o número de seus torcedores comprando pacotes – e o Flamengo, claro, é o líder em vendas. O São Paulo, por exemplo, que está no mesmo grupo de elite que o Flamengo, recebeu R$7 milhões a menos.
A TV, assim, tornou-se a maior fonte de receitas do Flamengo, e vai se manter basicamente igual em 2010 – e é bom saber que o Flamengo só adiantou R$1 milhão da TV em 2009, o que quer dizer que quase todo este dinheiro vai mesmo entrar. São também importantes como geradores de dinheiro os já citados marketing (com todos os contratos de patrocínio e licenciamento, que vão crescer muito este ano - em 2009 foram R$15 milhões) e venda de jogadores (que não dá pra saber bem, mas eu chutaria que vai diminuir - em 2009, R$14,8 milhões). Houve ainda R$10 milhões de “receitas diversas” – dos quais R$6,2 milhões foram de premiações, em um ano em que o time foi campeão estadual e brasileiro.
Mas o grande risco de diminuição de receita que o clube corre em 2010 é na bilheteria. Desde 2007 que a renda dos jogos está entre as mais importantes receitas do Flamengo (apenas no ano passado a TV realmente rendeu muito mais), sempre na casa dos R$20 milhões anuais. Mas isto ocorreu graças a três anos seguidos de boas campanhas no Brasileiro, gerando uma média de público de 40 mil pessoas por jogo. Para 2010 – e para os próximos anos -, não só não sabemos como vai ser a campanha como ainda há a grande dúvida de onde o time irá jogar enquanto o Maracanã estiver fechado. Decidir isso é uma tarefa das mais importantes, que fará grande diferença para o desempenho do time em campo e das contas do clube fora dele.
Já que citei o Grêmio e São Paulo : o clube gaúcho teve a receita total de R$104 milhões, contra R$120 milhões do Flamengo. Se falarmos apenas do futebol, o Flamengo teve R$104 milhões, contra R$95 milhões do Grêmio. Já o São Paulo faturou R$172 milhões, sendo R$123 milhões só com o futebol, R$14 milhões com venda de jogadores.
Continuando a comparação: o Inter teve receita total (não só do futebol) de R$164 milhões. - sendo R$40 milhões só com a venda de Nilmar, mais R$14 milhões com Alex.
Chamei a atenção para a importância do dinheiro de bilheteria para o clube nos anos anteriores, e como esta grana é uma incógnita para este ano - devido à incerteza sobre o nível da campanha do time e até mesmo sobre onde ele irá jogar até o fim do ano. E como andam estes números no Brasileiro até agora?
Nas últimas três temporadas, a média de público do Flamengo no Brasileiro foi de cerca de 40 mil pessoas por jogo, graças às boas campanhas que o time fez. Este ano, o campeonato começou em marcha lenta, pois havia a Libertadores sendo disputada simultaneamente no início e sabia-se que logo tudo iria parar para a Copa do Mundo. Na volta, ninguém ainda está conseguindo apostar pra valer no time de Rogério. Enfim: é claro que os números estão bem abaixo dos anos anteriores.
Até agora, a média de público nas seis partidas que o Flamengo jogou no Maracanã é de 13.899 pagantes. O maior público aconteceu contra o Botafogo - 19.313. Mas não foi naquela partida que o clube mais arrecadou, pois a renda foi dividida com o adversário. O jogo em que o Flamengo voltou com mais dinheiro pra casa foi o de ontem, contra o Avaí - com 18.366 pagantes, sobraram para o Flamengo R$131.651,00 da renda total de R$364.165,00. Ou seja: o Flamengo ficou com apenas 36% da renda total.
Todo mundo sabe que não é barato jogar no Maracanã. De todos os descontos em cima da renda bruta, o maior foi mesmo o da Suderj (R$56 mil, ou 15% da renda). A confecção dos ingressos pela BWA também comeu uma boa grana: R$36 mil. A Federação ficou com R$18 mil, valor quase igual ao do desconto de INSS. E há uma infinidade de taxas menores, das quais não tem como fugir: arbitragem, antidoping, quadro movel, aluguel de grades e de carro forte e por aí vai.
Depois de todos estes descontos, aí vêm as famosas penhoras - a grana que sai dali direto pra pagar dívidas, sem nem passar pela conta do clube. Comparando com anos anteriores, em que acontecia de não sobrar nada mesmo em jogos de casa cheia, até que as mordidas estão comportadas: são apenas dois descontos que somam cerca de 25% das rendas líquidas, percentual que foi parecido em todas as partidas pelo Brasileiro até agora - ao menos as que deram algum lucro.
Na verdade, em apenas uma partida houve mesmo prejuízo: foi contra o Grêmio Prudente, em que o público pagante de 7.330 pessoas foi insuficiente para cobrir os custos - no fim, o Flamengo teve que pagar R$6.694 pra jogar. Na média, o clube está conseguindo lucrar em cada partida no Maracanã cerca de R$70 mil; o lucro total com as rendas de jogos em casa no Brasileiro até agora foi de R$415 mil.
A situação poderia ser bem pior. O Botafogo, por exemplo, no jogo com o Flamengo, deveria ter ficado com metade da renda líquida do jogo. Mas suas penhoras andam mais complicadas e levaram embora tudo o que o alvinegro deveria ter arrecadado.
Por isso que eu falo que se o Flamengo terminar entre os 10 primeiros colocados do Campeonato Brasileiro 2010 já é um bom negócio. Aí, em 2011, terá (caso continue na Série A, se Deus quiser !) mais receita para contratações.
De qualquer forma, dos 4 clubes mais importantes do Rio de Janeiro, o Flamengo é o que tem a menor dívida.

















