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Quem tem medo dos e-books ?
Se pequenas e grandes editoras temem como nunca a concorrência com publicações digitais em geral — a quem atribuem boa parte de suas agruras financeiras — a ameaça mais imediata pode ter nome.
A Amazon, gigante americana de comércio eletrônico de livros, confirmou-se um dos vilões do mercado editorial, ou pelo menos seu bode expiatório, para muitos especialistas.
Prova disso é que o papel da companhia no comportamento do setor virou tema de um dos primeiros grandes debates realizados hoje na Feira do Livro de Londres 2013.
— Concorrência é bom, mas até certo ponto. A Amazon cresceu tanto que deixou de competir para destruir — destacou o diretor executivo da Associação de Livreiros do Reino Unido, Tim Godfray, durante o fórum “Amazon : amiga ou oponente ?”
O especialista garante que a empresa ganhou tamanho e poder para tirar os concorrentes do mercado.
Não se trata apenas da capacidade de negociar preços menores, segundo ele, mas do uso de uma política extremamente agressiva e predatória.
Tim Godfray acusa a Amazon de instalar parte de suas operações em Luxemburgo, onde regras de tributação são mais baratas, como artifício para entrar com vantagens, por exemplo, em um mercado conhecidamente caro e tributado como o britânico.
— Empresas menores não têm como fazer isso, pois não têm tantas ramificações. Nos últimos anos, houve uma queda de 18% nas vendas das livrarias independentes e atribui-se a esse fenômeno a concorrência com a Amazon, que teria se tornado seu inimimo número um — completou.
Para Eoin Purcell, editor da News Island Books e da Irish Publishing News, os rivais da Amazon ainda não entenderam o que está acontecendo de fato com o mercado, e tampouco estão preparados para uma concorrência mais ferrenha. A empresa americana, segundo ele, simplesmente saiu na frente e ocupou um nicho de mercado que poucos teriam se arriscado a explorar nos últimos anos.
— Agora lamentam que perderam o momento. Mas não descarto que outra empresa venha dividir ou tomar o lugar da Amazon no futuro. Ela não é invencível. O fato é que ela apenas um sintoma das mudanças no mercado e não a mudança em si — afirmou.
Outra defensora do papel da companhia americana, Jennifer 8. Lee, uma das mais jovens jornalistas contratadas pelo “New York Times” e hoje editora da “The Daily Lit-Plympton”, ressalta a importância da Amazon ao transformar a chamada e-leitura em um canal global.
— Também conseguiram experimentar novos formatos, o que foi uma grande coisa para o mercado e para os próprios leitores — disse ela.
Para o especialista Robert Levine, autor do best-seller “Free ride”, considerado um dos principais livros a debater o futuro da cultura, a Amazon é um “falso amigo”. Ele acusa a empresa de vender livros para o Kindle por preços muito baixos para “aprisionar” os leitores e torná-los dependentes. Por mais que destaque a queda dos preços para o consumidor como vantagem nos últimos anos, ele observa que a relação com os escritores ficou muito desigual.
— Quando aumentarem os preços, dificilmente perderão clientes. Isso acontece não só com a Amazon, mas com o Google ou com a Apple. O fato é que os escritores também querem viver do que escrevem e sua margem é mínima — lembrou Levine.
Os organizadores do debate resolveram medir a temperatura da plateia, majoritariamente formada por editores, e convidou-os a se manifestar a favor ou contra a influência da Amazon no futuro da indústria em votações simbólicas em dois momentos diferentes. Foram 61 votos favoráveis à americana contra 88 negativos no início do evento, e 59 a 117, no encerramento.