O GLOBO
Em todos os países nos quais foram publicados, os livros da saga criada pela britânica J.K. Rowling conquistaram crianças e adolescentes (e de lambuja, muitos adultos), e abriram caminho para o surgimento de novos autores e séries juvenis de fôlego.
Por aqui, tudo começou em 1998, quando Paulo Rocco, fundador da editora que leva seu sobrenome, foi à Feira do Livro de Frankfurt à caça de títulos infanto juvenis para incrementar o catálogo.
Um agente literário britânico recomendou a série que uma cliente sua, que atendia pelas iniciais J.K., estava escrevendo.
O primeiro volume havia sido lançado no ano anterior no Reino Unido, e a autora, que já havia recebido negativas de várias casas editoriais, prometia outros seis.
— Comprei os livros por um preço bem razoável e corremos para traduzir, porque o primeiro tinha acabado de sair nos Estados Unidos e começava a fazer sucesso — recorda Paulo Rocco.
O primeiro título, “Harry Potter e a pedra filosofal”, chegou às livrarias em 7 de abril de 2000.
O Brasil ocupa o sétimo lugar no ranking da pottermania, com mais de cinco milhões de livros vendidos.
Hoje, a Rocco lança edições comemorativas e um box para colecionadores. As capas são assinadas por Brian Selznick, criador de outro best-seller juvenil, “A invenção de Hugo Cabret”.
Para o segundo semestre, quando passar a epidemia de Covid-19, a editora promete eventos para celebrar 20 anos de bruxaria pelo país.
Após o sucesso de J.K. Rowling — ampliado pelos filmes estrelados por Daniel Radcliffe no papel principal —, editores passaram a apostar em séries capazes de manter o interesse dos jovens leitores por vários volumes.
Ao cair no gosto dos adolescentes, “Harry Potter” ajudou a formar o público leitor que depois impulsionou também as vendas de outras séries.
— “Harry Potter” criou uma geração de leitores de best sellers — afirma a agente literária Alessandra Ruiz, da Authoria.
Alessandra Ruiz lembra ainda que os jovens descobriram em “Harry Potter” uma fonte de entretenimento que não competia com internet, mas era reforçada pelas comunidades virtuais. Eram os primórdios do “fandom”, as legiões de leitores que ocuparam a internet com seus fã-clubes.
“Harry Potter” não se limitou a formar leitores. Não são poucos os jovens autores que começaram escrevendo fanfics (ficções de fã), que tomavam emprestado personagens da série.
Editores também passaram a investir em autores nacionais que pudessem cair no gosto dos jovens, frequentar as listas de mais vendidos e a lotar eventos.
— Antes, o mercado achava que livro juvenil era para biblioteca de escola — afirma Ana Lima, editora-executiva da Rocco. — “Harry Potter” provou que esses livros podiam ter vendas espetaculares.
Passados 20 anos, o desafio das editoras é descobrir o feitiço que vai fazer a criançada que nasceu colada às telas gostar de livros.
— Estou otimista. Essas crianças são filhas da geração “Harry Potter” e vão crescer em casas cheias de livros — acredita Alessandra Ruiz, da Authoria.