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Para começar a economizar, organize melhor sua viagem.
Esse é o conselho da consultora de finanças pessoais Myrian Lund, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) :
— O ideal é embarcar com tudo já devidamente organizado. Passagens aéreas pagas, hotel reservado, bilhetes de trem comprados, carro alugado.
Quem compra com antecedência encontra preços mais baixos e evita surpresas de última hora.
Para a professora, o autocontrole financeiro tem que estar na bagagem de todo viajante hoje em dia:
— É preciso estabelecer um teto de gastos diários e conseguir que ele seja cumprido. Anotar num caderninho ajuda a não perdermos o controle durante a viagem. Se gastou um pouco mais em um dia, compense gastando menos no seguinte. Economizar dá trabalho. Tudo na zona de conforto custa mais caro.
Assim como dá mais trabalho viajar com dinheiro em espécie. Em época de dólar nas alturas, é preciso encher o bolso, literalmente. A melhor forma de economizar na conversão cambial é comprar o papel-moeda, que tem taxa de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 0,38%, bem abaixo de cartões de crédito, débito ou pré-pago, cujo imposto fica em 6,38%.
Buscar descontos em casas de câmbio é uma boa opção.
Se as taxas são menores, os riscos de carregar cash, no entanto, são maiores. Por isso o ideal é balancear a fonte de dólares. Entre o cartão de crédito e o pré-pago, a desvantagem do primeiro é a falta de controle sobre os gastos e a incerteza sobre o valor da conta a ser paga no fechamento da fatura. Em épocas de variações cambiais diárias, o valor do dólar se torna uma incógnita. Por isso o diretor comercial da Nascimento Turismo, Cleiton Feijó, sugere o uso do cartão pré-pago :
— Se o sentimento é de que o dólar subirá mais, você pode comprar a divisa, já, e guardá-la para a viagem. E você só terá o que está no cartão.
Além da escolha de como gastar é importante saber em que gastar. Fazer ajustes no roteiro original, dispensar os passeios mais supérfluos, priorizar o transporte mais barato e parcelar as compras em real podem deixar a viagem mais barata.
A alta do dólar tem feito o turista que ganha em real olhar com mais carinho para destinos fora dos EUA — esta semana, o Visit Orlando, escritório de turismo da cidade, informou que reduziu as expectativas de crescimento no número de visitantes brasileiros para 2015: de um aumento de 10% em 2014, prevê agora uma taxa de 7%. Independentemente do destino, entretanto, a alta da moeda americana influencia os preços das tarifas aéreas. Mas até isso é contornável.
— Para economizar, o consumidor tem que investir tempo em pesquisa — afirma Alessandro de Oliveira, que coordena o Núcleo de Estudos em Competição e Regulação do Transporte Aéreo (Nectar), do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).
Faro apurado também é pré-requisito para encontrar boas tarifas de hotéis. Descontos para reservas de última hora são para quem tem sangue frio. Mas é possível economizar trocando hotéis mais simples por hostels, cada vez mais confortáveis.
Uma das melhores formas de evitar o gasto excessivo é evitar o uso do cartão de crédito. Além da taxa dos 6,38% do IOF, a conversão dos gastos em dólares só acontecerá no dia do fechamento da fatura. E, em épocas de variações cambiais diárias, o valor da divisa americana se torna uma incógnita. Além disso, a diferença cambial entre os dias de fechamento e de pagamento do cartão (seja ela, para menos ou para mais) chegará para o usuário na fatura seguinte e, dependendo da cotação, pode gerar surpresas desagradáveis. Para Cleiton Feijó, diretor Comercial da Nascimento Turismo, o cartão de crédito ainda oferece outro perigo: como o gasto não é sentido na hora, já que não é preciso desembolsar dinheiro — e, em vários casos, o limite de compra é amplo —, muitos acabam perdendo controle das compras :
— O ideal é ir com um limite definido e usar ferramentas que ajudem a evitar o gasto além do planejado.
O especialista indica a utilização de cartões pré-pagos que, apesar dos 6,38% do IOF, disponibilizam dólares em cotação já contratada. Em caso de variação, não haverá surpresas. E, de quebra, os pré-pagos garantem o tão necessário limite nas compras :
— Se o sentimento é de que o dólar ficará mais caro, você pode comprar a divisa já e deixar guardado para o dia da viagem. E você só vai ter mesmo o que está no cartão.
O conselho de Alexandre Fialho, diretor da Cotação, é fazer aquisições do dólar aos poucos, um montante por mês, tanto no caso do papel-moeda como ao carregar o pré-pago.
— Fazendo isso, provavelmente, você não vai conseguir comprar o dólar no menor preço nem no maior preço, mas no fim vai ter uma boa média e não ficará tão refém, nem ansioso, em relação às oscilações.
Apesar de mais barato, levar todo o dinheiro da viagem em papel-moeda traz insegurança e, em caso de perda ou roubo, representa perda sem reposição. Sendo assim, a produtora Helena Dias, que viaja com frequência para o exterior, procura sempre levar diversas fontes de gastos :
— Costumo deixar uma parte do papel moeda no cofre do hotel, uso débito e cash e levo também o crédito, só para emergências de verdade.
Mesmo quem vai viajar para destinos onde a moeda americana não é usada no dia a dia, como a Europa, Ásia ou até mesmo América Latina, precisa ficar atento ao câmbio flutuante. Fialho alerta que, mesmo em locais com outras moedas, compras no cartão de crédito serão primeiro convertidas para o dólar para depois chegarem em real. Além disso, o ideal é comprar a divisa do destino diretamente, sempre que possível, tanto no caso do papel-moeda como do pré-pago, para evitar cobranças extras:
— Ir com dólar para depois converter coloca o turista em uma posição vulnerável em relação aos impostos de cada país e à variação da divisa.
Para o economista Fernando Sarti, da Unicamp, escolher destinos fora dos EUA é uma opção, já que não há previsão de queda da moeda no curto prazo, mas não exclui a influência do dólar no custo final da viagem.
Casas de câmbio costumam oferecer preços mais atrativos para a moeda americana, mas é preciso ficar atento quanto à certificação do local. Além disso, é possível conseguir bons descontos negociando compras maiores.
Vale também pesquisar agências de turismo que oferecem descontos. A CVC, por exemplo, tem operado com o dólar abaixo da cotação do mercado, por conseguir descontos com os seus fornecedores.
Boa parte dos gastos em uma viagem vem do consumo que é feito no dia a dia, que costuma ficar de fora da conta final. Para economizar, é preciso ficar atento a todos esses gastos, anotando, inclusive as pequenas despesas. Só assim você sabe onde o dinheiro está sendo gasto e o que é possível cortar.
Diferentes agências de turismo parcelam todo o pacote de viagem sem juros, com o valor já convertido para o real. Segundo Priscila Bures, gerente de Comunicação da CVC, dividir o pagamento gera tranquilidade e segurança, além de garantir economias extras na hora da conversão:
— Você compra o pacote, faz a conversão naquela hora e parcela em diversas vezes sem juros, podendo incluir neste parcelamento o custo de ingressos, passeios e demais atividades. O viajante sabe quanto vai pagar por mês, fica livre das flutuações de câmbio no futuro. E, em épocas de variação pra cima, isso pode significar até uma economia.
Muitas agências de turismo fazem acordos exclusivos, que garantem tarifas mais competitivas no mercado.
Viagens para os Estados Unidos, por exemplo, costumam render malas extras só de compras. O ideal, segundo especialistas, é economizar ao máximo já que, com a alta da divisa, muitos produtos não vão sair tão em conta como antes. Mas, se o impulso for incontrolável, buscar outlets (comuns no país) e promoções são fundamentais.