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Campineiro produziu dublagem da versão brasileira de Chaves

José Salathiel teve acesso em primeira mão ao seriado e o adaptou para a realidade brasileira

Situada numa humilde vila da Cidade do México, a série narra através da comédia o dia a dia de uma série de personagens liderados por Chaves
Os brasileiros passaram o final de semana na frente da televisão, vendo a cerimônia de adeus ao ator mexicano Roberto Bolaños, que por aqui conquistou uma legião de fãs com o personagem Chaves. Em um canto da telinha, aparecia o carro fúnebre transportando o corpo para o Estádio Asteca, onde uma massa de cem mil pessoas o aguardava. No outro, o SBT mostrava cenas dos episódios inesquecíveis da série, que mostrava o cotidiano dos moradores em uma vila modesta da periferia.

Por 30 anos, muita gente se emocionou e se divertiu com as histórias do menino pobre que morava em um barril e aprontava as estripulias das crianças inocentes. Seo Madruga, Chiquinha, Kiko, dona Florinha, professor Girafales, seo Barriga.. e, lógico, Chaves. Personagens que fizeram parte da infância de três gerações de telespectadores.

Pouca gente sabe, mas em Campinas vive um cidadão que teve papel fundamental para o sucesso da série na TV brasileira. José Salathiel Lage, hoje com 64 anos, comandava o núcleo de dublagem da emissora fundada por Silvio Santos no começo dos anos 80. Foi ele quem teve acesso às primeiras fitas da produção mexicana, e produziu a versão brasileira dos episódios. Detalhe: a filha dele, Roberta, garotinha de tudo, foi a primeira criança a assistir (e a se entusiasmar), com a produção dublada.

Na época, o empreendedor Silvio Santos investia para se firmar no mercado. E teve a ideia de importar novelas, seriados e desenhos animados da mexicana Televisa. "Ele viu como a programação fazia sucesso junto à comunidade de língua espanhola nos Estados Unidos, e resolveu arriscar. No começo da emissora, não havia recursos disponíveis para a produção local. O Chaves, no caso, apareceu como alternativa de atração para o público infantil" , fala.

O irônico, no entanto, é que a cúpula da emissora reunida desprezou a produção barata, de cenário medíocre e piadinhas inocentes. Não havia a menor possibilidade de que o público brasileiro se identificasse com temas, diálogos e valores que não tinham relação com nossa cultura. O grupo comandado por Lage, no entanto, criou frases adaptadas ao movimento dos lábios dos artistas, e criou expressões e frases que caíram na graça do público: "Gentalha, gentalha..." ; "Foi sem querer querendo" ; "Ninguém tem paciência comigo..."

O próprio Salathiel, por sinal, convenceu o patrão de que a produção ia fazer sucesso. "Era um produto de humor inocente que avós, pais, filhos e netinhos podiam assistir juntos. Não havia agressividade ou piadas baixas. Era uma série que despertava lembranças de gente que, um dia, morou na periferia, brincou na rua, enfrentou fome e desemprego" , fala. "A gente fez com que os brasileiros passassem a se enxergar nos episódios, com suas alegrias e tristezas" , conta.

E o Silvio, lembra, decidiu investir em equipamentos modernos, na época, para a dublagem dos videotapes. Salathiel foi autorizado a produzir 12 episódios, que o patrão levou ao ar. Se notou, então, que a audiência crescia sem parar. "Aí o Silvio teve uma grande sacada. Depois de cada exibição, o episódio era reprisado. A qualquer hora que o cidadão sentasse diante da TV, ele ia ver o Chaves. O personagem ficou popular, e os pontos do Ibope não pararam de crescer. O Chaves está há 30 anos no ar" , fala.

Salathiel, aliás, faz questão de citar outros nomes importantíssimos para o sucesso da série. Fala do maestro Mário Lúcio de Freitas, autor da trilha sonora superpopular. Fala do saudoso Marcelo Gastaldi, já falecido, diretor de núcleo que deu a voz brasileira ao personagem interpretado por Roberto Bolaños. "Aquela equipe de produção é inesquecível. Eram profissionais que transformaram uma produção mexicana inexpressiva, pobrezinha, em um fenômeno de audiência" , fala.

O coordenador do núcleo de dublagem passou três vezes pelo SBT, e se transferiu para Campinas há 21 anos, quando trabalhou na instalação de emissoras locais de TV. Hoje, Salathiel é dono da Lage, uma produtora de vídeo e peças publicitárias para a televisão e rádio. Sua filha Roberta, hoje, tem 35 anos, é jornalista e trabalha na assessoria de comunicação da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati).