O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - CONCLUÍDO

[Antonio Felipe]

ATENÇÃO: como já disse antes, esta é uma obra ficcional e não leva totalmente à letra as criações de Chespirito. Para uma melhor construção da história, crio novos personagens e subtraio outros. Caso deste capítulo.

52. Desjejum Difícil e a Nova Vizinha

Fome. A fome é algo que te corroi, que te faz sofrer, que te desanima, que te mata. E nesses dias, vi dois tipos de fome. Primeiro, a fome em si, na figura do Chavinho. Depois do fatídico episódio do meu aniversário, prometi a ele que lhe convidaria para desjejuar em minha casa. Acordei cedo, ás dez, e tratei de providenciar o desjejum, com alguns ovos (faz bem no café da manhã). Só que o dia não poderia ser mais difícil. O gordo veio aqui cobrar o aluguel, Nhonho e Quico brincavam de pingue-pongue e acabaram quebrando os ovos do desjejum, o Barriga chegou a financiar o desjejum, mas no final das contas, tudo deu errado. E o Chaves ficou sem desjejuar. Na manhã seguinte, ainda mais cedo, consegui dar um jeito. Eu mesmo fui comprar os ovos e preparei um belo café da manhã para mim, Chaves e Chiquinha. Matei a fome do garoto. Essa foi a primeira fome que vi.

A segunda me atingiu diretamente. Não sei bem se é uma fome em si, mas dá pra dizer que seja, por que ela também te afeta fisicamente, te faz sofrer, te corroi e acaba até matando. É a fome de amor. Desde meu aniversário, fiquei um pouco deprimido por pensar na Maribel e especialmente, por ter ficado sozinho todos esses anos, sem um companheira por perto. Nunca fui tão feliz como ao lado de Maribel. Terrível que tudo tenha acabado de maneira trágica, com sua morte em pleno parto da Chiquinha. Pois nesta mesma manhã, a tal fome de amor foi despertada, com uma presença iluminada que surgiu aqui na vila: uma nova vizinha, chamada Olívia. Uma mulher magnífica, com belos cabelos castanhos, postura ereta, um corpo formoso. Enfim, uma mulher como nunca se vê aqui neste cortiço. Ela se mudou pra cá junto com a sobrinha, Rosita, uma pequena muito bonitinha. Elas me lembraram Glória e Paty, que aqui estiveram por um tempo.

Fiquei totalmente encantado pela figura de Olívia. Procurei conversar com ela, me aproximar de alguma maneira. Ela foi receptiva. Conversamos bastante sobre ela, sobre a vida, sobre a vila, sobre tudo. Ela hoje trabalha em uma grande loja de departamentos e vive com a sobrinha, cujos pais estão morando na Inglaterra e não puderam levá-la junto. Estou enamorado por Olívia. Não sinto que com ela vá suprir a falta que Maribel me faz, mas apenas quero tentar matar essa fome de amor que tem me corroído nos últimos dias. Que tudo dê certo.

Próximo capítulo: O Rádio e a Casa da Bruxa

[Antonio Felipe]

53. O Rádio e a Casa da Bruxa

Foi bom enquanto durou. Como eu esperava, a presença de Olivia nesta vila não ia durar muito. Ela foi mais uma que se espantou com as insanidades que aqui acontecem, especialmente de parte das crianças. Por isso, acabou indo embora. O que tenho a tirar de bom é que pude sanar minha fome de amor, pelo menos momentaneamente. Levei Olivia ao cinema, fomos jantar e nesse dia, ficamos a sós em sua casa. Experimentei sensações como há muitos anos não sentia. Fui tomado de uma felicidade extrema, algo que a gente sente vez por outra na vida. Foi o amor em sua plenitude. Pena que isso tudo já ficou para trás. E me resta apenas continuar vivendo nessa vila louca, com esses vizinhos loucos e essas crianças loucas. E nos últimos dias, coisas das mais bizarras têm acontecido.

A começar pelo carro do senhor Barriga, que deu para estragar bem em frente à vila. Na verdade, não foi bem um estrago. O carro não funcionava por que o Chaves escondeu um carrinho de brinquedo do Kiko bem no motor do veículo. Pelo menos com isso eu ganhei dois meses de aluguel por conta do conserto do carro do Barriga (apesar de que ele não sabe que tinha um carrinho dentro e que por isso, o motor não funcionava...). Mas deixemos isso para lá, é passado também.

No outro dia, tentei ver uma partida de futebol pela televisão. Só que a minha televisão estava quebrada. Ou melhor, pensei estar quebrada. Logo depois vi que eu é que não tinha ligado ela na tomada, que coisa. Mas na confusão, quando vi, já estava na casa da Dona Florinda com as crianças vendo o jogo de futebol. Isso até ela nos expulsar. O pior de tudo foi depois, quando o Kiko resolveu ouvir o jogo por um radinho. O Chaves se irritou com ele e tacou o radinho no Kiko, que acabou o engolindo. Ele foi levado ao médico e teve o rádio tirado da garganta. Cada uma, viu...

E ontem, pedi à Chiquinha para levar até a casa da Dona Clotilde um jornal que ela tinha me emprestado. As crianças já ficaram apavoradas com a casa, achando que nela tinha alguma coisa maligna. Muito imaginativas essas crianças...

Próximo capítulo: De Volta à Escola!

[E.R]

Esse capítulo do Seu Madruga na escola vai ser demais ! Tô ansioso pra ler !

[Antonio Felipe]

54. De Volta à Escola!

Tive muito pouca educação na minha vida. Muito do que aprendi foi pela experiência do dia-a-dia, do trabalho e pela própria necessidade de sobreviver. Fiquei apenas cinco anos na escola. Tive que sair dela para poder trabalhar e assim levar mais dinheiro para casa. A educação me fez falta na vida. Minha situação poderia ser outra hoje. Talvez nunca mais passasse fome, nem tivesse que dever quatorze meses de aluguel. Mas não adianta agora se lamentar pelo que se passou há trinta, quarenta anos. O passado está morto e enterrado. Ou não. Vez por outra, somos obrigados a recorrer a ele como forma de escapar de algumas situações difíceis. Como esses dias, em que tive fugir da Dona Florinda pra não tomar uns tabefes. Estava perto da escolinha e não tive escolha: entrei na sala da Chiquinha e lá me abriguei, dando o pretexto de que queria voltar a estudar.

Naquele pouco tempo dentro da sala de aula, como "aluno", realmente me bateu a vontade de recomeçar, de buscar uma educação e tentar novas oportunidades. Mas de que me valeria isso agora? Sou um homem de 50 anos, não tenho muito mais o que fazer a não ser trabalhos que requerem pouca experiência. Quem daria emprego pra este velho agora? Creio que poucos. As chances são cada vez menores e não vai fazer a mínima diferença saber mais ou menos da matemática ou saber que a França é a capital de Paris.

Entretanto, o momento mais interessante desse dia de volta às aulas foi o que aconteceu quando o Professor Girafáles pediu que eu cuidasse da sala enquanto ele ia falar com a Dona Florinda. Diante da bagunça dos alunos, soltei meu lado "Girafáles" e mandei ver. Disciplina é a palavra de ordem. De vez em quando a gente tem que usar um pouco de rigidez e assim fiz. Consegui calar a boca deles e segurá-los em suas cadeiras até que o professor voltasse. Na falta de conhecimento prático sobre o que falar, resolvi inventar: falei sobre o prerigo dos venenos, com direito a uma interpretação improvisada. Até o Professor me aplaudiu depois dessa. Seria interessante se ele fosse mais interativo com as crianças, com certeza seria bem melhor pra ele e para elas.

E quanto à escola? Não vou voltar. Não fará diferença daqui pra frente. O importante é que a Chiquinha estude e não siga meus passos nesse sentido.

Próximo capítulo: Epidemia de Machucados

[E.R]

Muito bom, Purcino !

Parabéns !

[KRCH]

Muito bom,parabens

[Jader]

Muito bom mesmo, parece que a gente tá vendo até as cenas
"Seria interessante se ele fosse mais interativo com as crianças, com certeza seria bem melhor pra ele e para elas", concordo todos deveriam ser como Don Ramon

[Bgs]

Parabéns Antonio, está excelente

''não vai fazer a mínima diferença saber mais ou menos da matemática ou saber que a França é a capital de Paris.''


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Tenho certeza ainda que o Diário vai virar um livro

[Antonio Felipe]

55. Epidemia de Machucados

Parece que todo mundo resolveu ficar doente ou se machucar, ou parecer isso, nos últimos dias aqui na vila. E isso deu cada susto no pessoal, foi algo inacreditável. Primeiro, as crianças resolveram brincar de atropelamento. O Chaves fez o papel de atropelado, a Chiquinha usou esmalte como sangue e Kiko me traz lingüiças do açougue pra parecer as tripas que ficaram de fora. A cena foi tão real que me fez passar mal. Vão ver só quando forem atropelados de verdade, quero ver se brincam de novo!

Depois, eu que resolvi criar doença. Sabendo que o gordo ia vir aqui cobrar o aluguel, resolvi usar de uma tática não muito correta, mas que eu sabia que surtiria efeito: fingir que a Chiquinha estava doente, com um sarampo raríssimo, contagioso ao mínimo toque. Claro que isso funcionou à primeira oportunidade. O problema é quando você tem uma filha que acaba fugindo do controle e por vezes, estraga tudo. Foi o que aconteceu. A Chiquinha resolveu sair de casa e tocar o terror como se ela tivesse mesmo sarampo. O que se deu foi uma balbúrdia como pouco se via. E o pior estava por vir: a Chiquinha acabou pegando mesmo sarampo! Quem diria que antes de eu inventar isso, ela já tinha pegado de um menino na escola (parece que o mesmo de quem ela já tinha pegado catapora um tempo atrás). Logo, todo mundo ficou doente na vila, inclusive eu. Sorte (ou infelicidade) do Chaves, que não pegou o sarampo.

Passado isso, ocorreu uma verdadeira epidemia de machucados. O Chaves resolveu catar insetos pela vila e matá-los com gasolina. O Nhonho tomou gasolina pensando que era guaraná. Eu, Dona Clotilde e Chiquinha comemos insetos que estavam em um saquinho de pipoca, pensando que era pipoca. Depois, vem a Dona Clotilde com um belo bolo, o qual não pudemos aproveitar, por que o Chaves sumiu com ele e comeu tudo. Ao final, todo mundo estava manquitolando, por que teve algo derrubado em seus pés (eu bem que tentei passar roupa, mas o ferro caiu, o mesmo á Chiquinha).

Pois bem, esqueçamos isto. Agora tenho que cuidar da mobília...

Próximo capítulo: Não se Pode Pintar Móveis na Vila

[Barbano]

Pô Antonio, mas pegar a versão dos insetos de 79 para o livro?

Mas tá legal sim, contine...

[G@BR!&L]

Por que vc não fala para editora fazer um livro para seus textos??Melhor, ganha dinheiro...

[Antonio Felipe]

Por que primeiro eu preciso terminar essa história pra daí pensar em lançar. De nada adianta eu levar meio trabalho pra uma editora.

[Cavallari]

Parabens Antonio, como sempre, muito bom!

[Antonio Felipe]

Aviso: editei o capítulo 55 e mudei a história (era catapora, virou sarampo). Isso por que o tonto aqui esqueceu que tinha falado da catapora.

Outra: agora que voltei a escrever, vou fazer o possível pra pelo menos, publicar um capítulo por dia. E nos fins-de-semana, tentar publicar o máximo possível. Quero terminar o Diário o quanto antes.

[Filipe Chambón]

Tá muito bom, parabens, continua assim que um dia você poderá ser como o Mestre Linguiça.

Vlw.