O DIÁRIO DO SEU MADRUGA - CONCLUÍDO

[Antonio Felipe]

Tenho pensado muito na edição final do Diário e o projeto para transformar isso em livro. De pronto, muita coisa deve mudar. Capítulos deverão ser fundidos, passagens reescritas e outras excluídas.

Os capítulos que relatam a saída do Madruga da vila deverão ser bem maiores do que o habitual. Não comecei a escrevê-los, mas não vejo a hora disso acontecer.

[Antonio Felipe]

Um aviso: o Diário não será atualizado esta semana

[Jader]

Tenho pensado muito na edição final do Diário e o projeto para transformar isso em livro. De pronto, muita coisa deve mudar. Capítulos deverão ser fundidos, passagens reescritas e outras excluídas.

Os capítulos que relatam a saída do Madruga da vila deverão ser bem maiores do que o habitual. Não comecei a escrevê-los, mas não vejo a hora disso acontecer.

Seria muito interessante se tu lançá-lo em livro algum dia, como mesmo disse, acrescentando capítulos, tirando algumas coisas...
Eu apoio desde já, as histórias estão sendo bem contadas, tem boa ligação com o seriado, parece mesmo como se o Seu Madruga estivesse contando

[João]

Tenho pensado muito na edição final do Diário e o projeto para transformar isso em livro. De pronto, muita coisa deve mudar. Capítulos deverão ser fundidos, passagens reescritas e outras excluídas.

Seria uma boa mesmo, isso de passagens reescritas e excluídas seria uma forma de "edição final" para o diário o que é necessário para qualquer obra. Desejo que dê certo

[Antonio Felipe]

Mais um capítulo, pra encerrar o ano:

46. Amor Cafona

Crianças podem ser um grande motivo de alegria. Principalmente quando elas nascem, trazendo felicidade para toda uma casa. Mas também podem ser um verdadeiro terror! Isso quando são moleques arteiros e travessos, ainda mais se a gente dá liberdade demais pra eles. No meu caso, eu sou adepto da rédea curta. Tem que manter a criança por perto e assim evitar confusão. Como o que ocorreu há alguns dias atrás, quando aqueles moleques idiotas, Kiko e Chaves, resolveram brincar no outro pátio e acabaram abrindo um rombo no chão, estourando um cano. Resultado: falta d’água por várias e várias horas. A gente teve que ir ao outro cortiço buscar água em baldes e mais baldes até que alguém viesse resolver o problema. Pois bem, Dona Florinda chamou os bombeiros e enfim, eles resolveram o problema. E eu aproveitei pra resolver à minha maneira. Um beliscão no Kiko e um sopapo no Chaves. Isso me valeu um tapa, mas...

E o que pode ser pior do quem um amor cafona? Sim, cafona, por que não há mais ridículo do que esse namorico do Professor Girafáles com a Dona Florinda. E pior ainda é você ficar no meio da confusão, tendo que servir de cupido, de ponte entre os dois “pombinhos”.

Foi bem isso que aconteceu. O pescoçudo acabou se desentendendo com a Dona Florinda. Banalidades, como sempre. Ela não queria mais falar com ele. E a escada de bombeiro decidiu pedir ajuda por garanhão aqui, pra tentar reconquistar a Florinda. Claro, pagando vai bem, é óbvio (e eu não ia usar de meus préstimos em favor de outra pessoa a troco de nada). Pagando eu até acreditaria que ele era a Sophia Loren. O ruim é ter que agüentar gozação por esse tipo de coisa. E dê-lhe choro naquele dia... Choro do Girafáles, choro da Florinda, choro do Kiko que pensava que ia enfim ganhar sua bola quadrada, choro do Chaves (chorando pelos outros aliás...), até eu chorei aquele dia. Mas chorei mesmo de vergonha pela cafonice do Girafáles e da Florinda. Ainda bem que com o papai aqui não tem dessas coisas.


Próximo capítulo: Como Fugir da Responsabilidade?

[Antonio Felipe]

47. Como Fugir da Responsabilidade?

A responsabilidade sempre chama. A gente sempre tem que arcar com as responsabilidades das coisas quando elas acontecem ou mesmo quando elas vão acontecer. Não dá pra fugir disso. Pensando bem... Talvez até dê para fugir. Ou pelo menos se esconder da responsabilidade.

Pelo menos era assim que eu pensava.

Tanto é que resolvi dar a volta mais uma vez no gordo usando um plano interessante para não ter que pagar o aluguel. Pedi ao Chaves que ele me avisasse toda vez que o Senhor Barriga estivesse por perto apenas gritando: “já chegou o disco voador”. Assim eu poderia me esconder no banheiro, que é o único cômodo que está com chave (a chave da porta da frente se perdeu quando estava fugindo da Florinda dia desses e não a encontrei mais, tanto é que uso um bolo de jornais velhos para segurar a porta de noite). Daí o gordo não vai ter como me achar, ou pelo menos, se achar, vai ficar esperando sentado. Quando ele for embora, é só o Chavinho me gritar “já se foi o disco voador”.

Mas não deu certo. Poderia ter dado certo, não fosse a velha maldita do 14 resolver comprar um disco voador de brinquedo pro Kiko e o Chaves ter se metido a besta com ele, brigando, como acabou acontecendo. Logo, no qüiproquó que se instalou, me dei mal e não consegui escapar do gordo.

Dei a volta nele mesmo assim, com muito custo. No final, acabei perdendo o maldito transistor do rádio que eu estava consertando.

Próximo capítulo: Uma Visita Surpresa (ou Duas...)

[Antonio Felipe]

48. Uma Visita Surpresa (ou Duas...)

Sete anos. Exatos sete anos. Sete anos, imagine só, que eu não via meu primo Román. Um bom homem, um bom amigo, uma pessoa em quem se pode confiar. Uma pessoa com quem convivi bons tempos na fazenda do tio Herrera. E ontem, por um golpe do destino, ele resolveu me visitar. Estava bem mudado desde a última vez que o vi. Envelheceu um pouco, é verdade, mas ainda me parece bem de saúde. Era corpulento, devido ao trabalho. Mas está um tanto magro. Conversamos bastante sobre a vida, sobre os rumos que nossas vidas tomaram nos últimos anos, sobre como tudo tem mudado tão rapidamente. Descobri que ele tem uma filha de cinco anos, fruto de seu segundo casamento – o primeiro não deu certo por problemas que ele não quis me contar. Consuelo é seu nome. Uma linda menina de cabelos escuros e olhos verdes, me disse Román.

Román me disse que está trabalhando na cidade e que pouco vai à fazenda do tio Herrera. Ela inclusive já está para ser vendida, já que não é mais uma terra boa para plantar e que o custo dela é muito alto para não haver lucro nenhum. Román não me disse exatamente em quê trabalha. Apenas falou que é algo bem lucrativo. Isso tudo foi de manhã.

Almoçamos juntos num bar perto da vila. Logo depois, disse que teria que sair para resolver algumas coisas que só voltaria para a vila mais à noite. Pedi a ele que, se não fosse incômodo, que pudesse dar uma passada na minha casa só para dar uma olhadela, já que ainda não arrumei a chave para a porta da frente. E ainda resolvi dar-lhe um presente: uma caixa de madeira que está lá no segundo pátio. Talvez possa lhe ser útil.

Bem, a utilidade que eu imaginava não era bem a que acabou ocorrendo. A presença de Román causou certo alvoroço. As crianças deitaram e rolar, ele acabou até discutindo (para isso, lhe ensinei a dar um sopapo no Chaves) e levando tapa da velha carcumida. Não fosse só isso, a Dona Clotilde resolveu se assanhar com Román - parece que ela tem mesmo uma queda por quem é da família. O que se sucedeu depois foi um terror: o Kiko resolveu se esconder dentro da caixa de madeira, que acabou lacrada pelo Román. O resultado? Confusão, obviamente. Ele me disse que prefere não voltar à vila. É demais pra ele. Mas me prometeu visitas para breve, desde que longe daqui.

E vejam só, depois quase sete meses (bela coincidência de números), a minha filhinha voltou para casa! Ela até mandou uma carta me comunicando do retorno, a qual chegou com um atraso considerável. Pior ainda foi o Chaves lendo a carta, já que não me agüentava de tanta ansiedade. As tias dela, ao que parece, se irritaram com as travessuras da menina. Bem que imaginava que a família de Cahétmoc não iria gostar muito da milha filha por lá. Por isso ela voltou, apesar de dizer que queria mesmo era voltar para o meu lado. Tive que ir correndo busca-la na estação e enfim a trouxe de volta para casa.

Duas visitas surpresa em uma semana, uma para ficar. Maravilha!

Próximo capítulo: O Assassinato do Massacote

[Cavallari]

Muito bom Antonio, muito bom!

[E.R]

Muito bom o capítulo sobre o Seu Madroga, primo do Seu Madruga.

Aliás, você podia citá-lo em outros capítulos, ele pode não ter aparecido mais na vila, mas pode ter se comunicado com o Seu Madruga, através de cartas.

[Antonio Felipe]

É a ideia.

Bom, eu fiz esses três capítulos por que tinha tempo hábil. Agora tô meio sem tempo de novo...Mas quando sobrar algum, eu escrevo novos capítulos.

[Fabiano Bonaparte]

Mais 3 ótimos capítulos como sempre.
Meus parabéns, você tem muita criatividade.

[Tchory]

Li todos os capítulos e gostei bastante. Estou ansioso para os próximos capítulos!

[Antonio Felipe]

49. O Assassinato do Massacote

Eu bem que tento, mas não consigo arranjar um emprego que preste. Tento alguma oportunidade numa fábrica, numa armazém, em qualquer lugar que seja e nada. Isso me desanima. E de certa forma só piora meu estado e acabo ficando parado, esperando a oportunidade bater à minha porta. Talvez por isso alguns daqui da vila achem que eu não gosto de trabalhar. De fato, não há nada mais trabalhoso do que ter que trabalhar. Mas o que mais dá trabalho é ter que procurar trabalho! A gente sai por aí, bate em cinco, dez portas e quase sempre ela se fecha à nossa frente. É triste. Mas de vez em quando até que as coisas acontecem. Como agora, que arranjei um trabalhinho de carregador de lenha. É, não é um emprego de grande categoria, mas dá pra colocar o dinheiro no bolso. O ruim é ter que levar quilos e quilos de lenha em cima de uma bicicleta, ás vezes subindo ladeiras, ou então descendo ladeiras (quase deixei a bicicleta cair no primeiro dia).

Mas o pior não é isso. O pior é quando esses moleques da vila ficam se metendo onde não são chamados e pegam as suas coisas sem nem pedir. Caso da bicicleta (que nem é minha, é do meu chefe). Primeiro, chego na vila depois de conseguir esse trabalho e tenho que aguentar as brincadeiras - como ser chamado de futebolista, só por que fico descendo a lenha... (até que essa foi engraçada). Depois, vejo que o Professor Girafáles foi à vila levar um massacote... digo, um mascote ao Kiko de presente (o moleque fez aniversário anteontem). O bochechudo ficou todo animado com o bicho. Mas no fim das contas, eu que pago o pato. O bicho fugiu e Kiko e o Professor foram procurar o gato na rua. O Chaves resolveu se meter e pegou minha bicicleta pra procurar. E o que aconteceu? Ele atropelou o gato!

Que situação! Pelo menos não ficou muito ruim... a bicicleta, no caso. Só tive que passar uma água e pronto. Mas ruim ficou pro Chaves. Agora, resolveram fazer uma espécie de "julgamento", pra ver se o Chaves é culpado mesmo do "assassinato do massacote", digo, do mascote. Tipo aquilo que dá na TV, no Pede mais um, digo, no Perry Mason. E eu acabei encarregado de fazer a defesa do Chaves. Não sei se vai dar certo, mas vamos ver. O julgamento é semana que vem, na casa da velha.

Próximo capítulo: O Julgamento

[Antonio Felipe]

50. O Julgamento

Não entendo nada de julgamento. Nem mesmo de advocacia. Só sei mesmo que tenho direito a algumas coisas e o máximo que sei é o que sai no jornal e na televisão. Mas pra esse "julgamento", até que dá pro gasto. Fiquei três dias tentando instruir o Chaves a se portar diante do Professor e dos demais, dizendo o que ele deveria falar, fazendo o possível para botar toda a culpa no Kiko (que burro desse jeito, perde até uma tartaruga). O Chaves ficava tentando me interromper, querendo dizer algo, mas mandava ele calar a boca. É isso: vamos botar a culpa no Kiko e pronto. É mais fácil para todos! E a culpa é dele mesmo...Vamos ver agora como se dá esse julgamento...

(algumas horas depois...)

Foi melhor do que eu pensava. Não ocorreu tudo aquilo que eu esperava, não consegui livrar a cara do Chaves. Ele livrou a própria cara. Na hora não entendi o porquê: o Chaves atropelou o gato por que foi desviar de um homem que estava parado no meio da rua feito bocó vendo uma dona bonita. Logo depois, ele me contou o que houve:

- Foi isso mesmo que aconteceu, Chaves?
- Sim.
- Mas quem era esse homem?
- Mas como você é tonto, Seu Madruga!
- O quê?
- Digo, é que o tal homem que tava parado na rua vendo a dona bonita era o Professor Linguiça...
- Puxa!
- Sim, daí ele tava lá paradão feito bocó, de boca aberta, vendo a aquela dona que era muito bonita...Eu tava passando, tive que desviar e quando vi, esmaguei o massacote do Kiko.
- E por que não disse isso antes, Chaves?
- Mas faz três dias que tô tentando!

É...Eu deveria ter ouvido o Chaves. Se bem que não fez muita diferença. No fim o Chaves escapou ileso, o Kiko ficou sem o gato e o Professor teve que se virar com a Dona Florinda, explicando por que encerrou subitamente o julgamento. E eu continuo descendo a lenha!

Próximo capítulo: Aniversário Macabro

[Antonio Felipe]

51. Aniversário Macabro

Hoje acordei com uma sensação estranha. Acordei sentindo algo como o peso da idade. Sinto que os anos estão fazendo diferença no meu corpo. A cabeça já não é tão pensante, o corpo vai meio que secando, a cara fica pálida, os ossos doem. Mas não é isso tudo que mais me incomoda. É que parece que todo mundo sabe mais do que eu. Parece que todos ao meu redor já sabem que estou muito doente, sem mesmo que eu saiba! Todos hoje estão me olhando estranho, perguntando se me sinto mal. O pior é que me sinto mesmo! O que eu sinto só vai aumentando conforme os outros vão dizendo. Por que parece mesmo que estou doente! Já não sei mais o que pensar...

(...)

Meu Deus! Acho que vou morrer! Todos estão falando coisas estranhas a meu respeito, como se eu já estivesse com os dois pés na cova! Parece que minha própria filha vai me matar, para acabar meu sofrimento! Mas como? Ontem eu me sentia tão bem! Parece até que já compraram o caixão, as velas e até o cafezinho pra Dona Florinda preparar! O que vou fazer? Puxa, estão falando lá fora de novo, o que será desta vez?

(horas depois...)

Não era nada do que eu estava pensando. Graças a Deus e Nossa Senhora de Guadalupe. Eu mesmo não me lembrava do que significava este dia! Hoje é meu aniversário! E que data especial. Este velho está comemorando cinquenta anos! Imagine, há cinquenta anos, neste verão mexicano, aos dois dias de setembro, nascia Ramón! Que saudades de minha mãezinha que me deu agora...Tivemos uma pequena festinha aqui em casa, com um franguinho, um bolinho e o cafezinho da Dona Florinda (que ao menos hoje me tratou respeitosamente). Pior foi para as crianças. Chiquinha e Kiko sofreram na mão do Chaves, que realmente achava que eles iam me matar (e por alguns momentos realmente achei isso).

Pois bem, são cinquenta anos de vida. E sinto, de certa forma, que estou longe de onde queria chegar nessa idade. Desde que vim para a vila, minha vida só regrediu. Perdi Maribel, mas ganhei Chiquinha. Perdi empregos, mas ganhei experiência. Perdi amigos. E outros não ganhei. Tudo tem sido diferente. Quanto tempo mais vou durar? Só o próprio tempo poderá dizer. Mas que aniversários macabros assim não se repitam.

Próximo capítulo: Desjejum Difícil e a Nova Vizinha