100 anos de Raúl "Chato" Padilla, o carteiro Jaiminho
Enviado: 17 Jun 2018, 00:00
100 anos de Raúl "Chato" Padilla, o carteiro Jaiminho
Ele foi o último ator a ingressar no elenco das séries Chaves e Chapolin, em 1979. Mesmo assim, sua marcante participação e, depois, presença regular no Programa Chespirito, garantiram seu lugar no coração e no imaginário do público latino.Há exatamente 100 anos nascia um dos grandes atores mexicanos: Raúl Padilla Mendoza. Ou, como foi conhecido artisticamente, Raúl “Chato” Padilla. O mais velho do grupo de Chespirito e que, agora, torna-se o primeiro a completar seu centenário.
Para celebrar essa data, o Fórum Chaves apresenta este especial com um pouco da história do nosso eterno carteiro Jaiminho. Acompanhe!
Raúl Padilla Mendoza nasceu em 17 de junho de 1918, na cidade de Nuevo León, estado de Monterrey, no México. Desde muito cedo, seu destino já estava ligado às artes. Foi educado artisticamente para ser integrado à companhia teatral criada por seu pai, Juan B. Padilla. Dessa forma, ele começou a trabalhar no teatro em 3 de setembro de 1923, quando tinha apenas cinco anos – e um dia depois do nascimento de Ramón Valdés, o Seu Madruga.
Padilla, no entanto, queixou-se de não ter exatamente uma vida normal, por estar desde tão pequeno imerso no teatro.
“A vida de todos foi normal, a minha não. Todos tiveram seu lugar, se desenvolveram, foram educados. Eu não. Minha vida foi muito chata. Comecei no teatro em 1923. Desde então não foi mais do que teatro, teatro e teatro“, disse.
Sua primeira peça foi uma apresentação infantil chamada “Aurora”. Além de Raúl, seus irmãos Juan, Lupe, Ricardo e José Luís também foram para o teatro. Ao lado da irmã Lupita, estreou em 1926 no Teatro Principal em uma temporada de comédia. Nos anos 1920, fez várias peças com sua família, como “La Mujer X”, “La enemiga”, “La Madre”, entre outras.
Raúl “Chato” Padilla atuando em uma peça com Carlos Villagrán, em 1968.
Mas foi em 1979 que tudo mudou para Raúl “Chato” Padilla. Nesse ano, Roberto Gómez Bolaños enfrentava um dilema, após a saída de Carlos Villagrán e Ramón Valdés das séries Chaves e Chapolin.
“A ausência de Ramón Valdés me fez pensar na necessidade de conseguir outro ator de mais idade, principalmente para os programas do Chaves. Mas eu não queria que substituísse o Seu Madruga. Queria que interpretasse outro personagem, cujas características defini: se chamaria Jaiminho, teria alguns anos mais que Seu Madruga e trablharia como carteiro“, disse Bolaños.
E o ator escolhido era ninguém menos que o “Chato” Padilla. “Ele era o ator apropriado para isso. Participou de todos os filmes que fiz. E sua integração ao elenco foi instantânea, devido a três fatores: seu talento como ator, sua enorme capacidade para caracterizar todo tipo de personagens e sua enorme qualidade de ser humano“, ressaltou Chespirito.
Jaiminho faz sua estreia no seriado Chaves, no episódio “Nasce uma Bisavó"
No episódio “Vinte mil beijinhos para não morar com a sogra”, do Chapolin
Chapolin
1. O futebol é minha melhor medicina/Vinte mil beijinhos para não morar com a sogra
2. A troca de cérebros
Chaves
1. Nasce uma bisavó
2. Eu sou a mosca que caiu na sua sopa
3. Caça ao rato – parte 2
4. Reivindicação salarial para o Chaves
5. Os hóspedes do Senhor Barriga – parte 2
6. Os hóspedes do Senhor Barriga – parte 3
7. Os hóspedes do Senhor Barriga – parte 4
8. Antes um tanque funcionando que uma lavadora encrencada
Depois do episódio da lavadora, Raúl participa de alguns esquetes em 1980 e deixa o Programa Chespirito. De acordo com Bolaños, ele não estava plenamente convencido de ter um personagem fixo na série. Algo que só mudou depois que o elenco participou, em 1981, da Caminhada da Solidariedade, na Colômbia. Mais de um milhão de pessoas acompanharam a visita do elenco à cidade de Bogotá, algo que mexeu bastante com o ator. Com isso, ele retornou ao programa.
Elenco do Chaves, incluindo Raúl, na Caminhada da Solidariedade, em 1981, na Colômbia.
No programa, ele ganhou outro personagem fixo: o delegado Morales, do quadro Los Caquitos. “Era o agente do Ministério Público, que se distinguia por sua honestidade e, sobretudo, pela caridade que mostrava no exercício de suas funções, além da infinita paciência com que suportava todo mundo“, definiu Bolaños.
Interpretando o Delegado Morales, no quadro “Los Caquitos”, do Programa Chespirito
Jaiminho, Prof. Girafales, Sr. Barriga e Dona Clotilde na turnê que fizeram sem o restante do elenco.
Bolaños, então, decidiu fazer um gesto de solidariedade para o companheiro de elenco: organizou uma turnê do Chaves, cuja renda seria destinada à família de Raúl, para que pudessem comprar uma nova casa. E assim aconteceu: com o dinheiro, eles foram viver em um lugar melhor e com tranquilidade.
Ainda na década de 1980, Raúl teve a oportunidade de conhecer a sua “terra natal”. Em 1983, a convite do comerciante Francisco Arroyo, visitou Tangamandápio. A presença do ator foi motivo de grande festa na comunidade, a ponto de causar congestionamento na estrada. Padilla foi recebido com foguetes, sinos e música.
Raúl “Chato” Padilla em visita a Tangamandapio
Raúl sofria com diabetes desde os anos 1970. E a evolução dos problemas de saúde causados pela doença acabaram por vitimar o ator, em 3 de fevereiro de 1994. Dias antes, Padilla foi ao médico, reclamando de dores na garganta e ouvido, que lhe fizeram perder o equilíbrio. Depois de fazer um eletrocardiograma, verificou-se que sua condição não era boa. Ele então foi hospitalizado por alguns dias. Quando estava para receber alta, acabou sofrendo um infarto. Aos 75 anos, o eterno Jaiminho evitava a fadiga para sempre.
Seu corpo foi velado em uma funerária da Cidade do México e, depois, cremado no Panteón de Dolores, como foi seu desejo. Deixou sua mulher, Lili Inclán, de um casamento de 54 anos, além de dois filhos: a escritora e diretora de TV Aurelia “Maye” Padilla”, e o filho e também ator Raúl “Chóforo” Padilla.
Raúl “Chato” Padilla, sua esposa Lili Inclán e seu filho, Raúl “Chóforo” Padilla.
Chóforo, curiosamente, estreou antes do pai nos seriados de Chespirito, participando do esquete “Arruaceiros”, do Chapolin, em 1972. Já na segunda fase do Programa Chespirito, ele fez algumas participações em episódios. O ator também já é falecido, desde 2013.
Raúl “Chóforo” Padilla, filho do “Chato”.
“Meu filho Roberto [Gómez Fernández] me deu a notícia por telefone. Foi uma perda irreparável, não só para nosso programa, mas para toda a arte dramática do México“, contou Chespirito.
Em sua autobiografia, Bolaños lembra de Padilla como uma pessoa de enorme caráter e talento. “Não era possível lembrar uma só ocasião em que Chato se atrasou no teatro, cinema, televisão, o que fosse. Estava sempre com todo o roteiro na memória. Nunca atrapalhava a atuação ou desempenho de seus companheiros. Uma vez, ele sofreu um acidente considerável antes de uma apresentação de Títere. Só após o fim do espetáculo soubemos do fato, apontado um técnico que trabalhava conosco. Além disso, sua perna sangrava muito, mas ele atuou assim mesmo“, contou.
Inauguração da estátua em homenagem ao Jaiminho
O município inaugurou uma estátua do Jaiminho, que está localizada em uma das ruas principais. A iniciativa foi uma maneira de agradecer pela projeção mundial que o personagem trouxe à cidade.
Uma justa homenagem a uma das figuras mais queridas da América Latina, responsável por milhares de sorrisos até hoje. Obrigado por tudo, Raúl “Chato” Padilla!
Texto por Antonio Felipe/Fórum Chaves