Na semana passada a página Chespirotadas teve acesso a uma entrevista do Ramón para a revista Vea, do Chile, em novembro de 1980. Nela o Ramón fala mais sobre a sua primeira saída e também critica o Villagrán.
Repórter: “Qual foi a razão da sua saída do grupo?”
Ramón: “Eu queria minha independência, jovem. Mas também foi porque Chespirito mudou um pouco. Já apaixonado pela Florinda, lhe deixou as rédeas soltas, então a mulher que lhe soltam as rédeas, acaba correndo. Eu saí a tempo, agora sei que ela é a diretora, a editora, a que chega em tal horário, enfim, é a patroa. E isso, você sabe, não funciona.”
Repórter: “O Quico saiu pelo mesmo motivo?”
Ramón: “Quico teve a desgraça, rapaz, de ter romance com a Florinda. Depois, quando brigaram, ela andou com Enrique Segoviano, o diretor. E aí começaram os problemas para o Quico. Segoviano o fazia repetir as cenas uma ou outra vez. E se eram baldes d’água, melhor nem falar! Agora, quando a Florinda se meteu com o diretor autêntico, com Chespirito, já não era vida para Quico, ainda por cima ELE PROCURAVA PROBLEMAS DE GRAÇA PORQUE SE SENTIA A ESTRELA DO PROGRAMA E QUERIA MAIS PORCENTAGENS E TUDO ISSO.”
Repórter: “Foi aí quando Chespirito decidiu patentear seus personagens?”
Ramón: “Sim, e nisso ele tinha razão. Ele era o autor dos personagens. Ao Carlos Villagrán, ele deu o Quico, lhe escreveu o diálogo, lhe disse o que deveria fazer, o vestiu com o traje de marinheiro. A única graça do Quico era inflar as bochechas. AGORA QUANDO O QUICO CRESCEU COMEÇOU COM IDIOTICES, COM CAPRICHINHOS, QUERIA GANHAR MAIS. Quando Chespirito patenteou os personagens, se Villagrán queria trabalhar como Quico, devia pagar direitos autorais. E isso é tudo.”
Repórter: “E ‘don Ramón’ também ficou patenteado?”
Ramón: “Não, porque me chamo Ramón. Esse foi o erro de Chespirito e a minha sorte. Se ele tivesse colocado ‘don Pepe’, eu estaria perdido. Eu sou Ramón Valdés e inclusive me visto igual como saía no Chaves.”
Repórter: “Foi difícil a decisão de se retirar do grupo de Gómez Bolaños”?
Ramón: “Olha, campeão, eu nunca tive medo da vida. Se minhas entradas econômicas tivessem se acabado por deixar de ser ator, eu teria preferido isso a viver uma vida assim. A continuar atuando num ambiente tão mudado. Além do mais eu me conheço, poderia perder a paciência e a coisa ficar feia.”
Repórter: “A etapa do seu Madruga é a mais importante?”
Ramón: “Sim, este personagem me deu a fama. Fama que é tão difícil ter neste ambiente. Você pode estar mil anos nisso e ficar na escuridão.”
Repórter: “O que significa ter um público infantil?”
Ramón: “Olha, eu sempre fui muito carinhoso. Por mim, teria 450 filhos. Aos sete filhos que tenho, eu os banhava, passava talco, ajudava a criá-los. Eu gosto de crianças. Para eles não se pode mentir.”
Repórter: “É emocionante trabalhar com eles?”
Ramón: “Bom, rapaz, alguns se põem a chorar quando me veem. E aí tem que ser forte par anão chorar também. É uma experiência... que qualquer ator queria ter.”
Repórter: “Quais são as projeções artísticas que o senhor tem agora?”
Ramón: “Nada além do programa com meu irmão e minhas apresentações pessoais.”
Repórter: “Mas pelo fato de ser ‘seu Madruga’, já chegou a receber ofertas de trabalho?”
Ramón: “Sim, tenho trabalho para o momento. Agora mesmo fiz um filme muito bom com Tony Aguilar e está para estrear outra que fiz com a Índia María. Ficaram muito bons esses filmes. Além do mais, essas viagens a esses países tão bonitos, caramba.(...)”
Créditos a página Chespirotadas. Obrigado ao Jônatas Holanda por ter encontrado e disponibilizado essa rara entrevista!
Muita coisa que o Ramón disse nessa entrevista bate com a primeira entrevista dele, em 1979.
Eu acho que o Chespirito pode ter se enganado quando disse que o Ramón e o Carlos se uniram depois da primeira saída. Pode ser que ele tenha acreditado nos boatos da época de que o Ramón saiu para trabalhar com o Carlos, quando na verdade não foi bem isso. O Carlos tentou fazer um programa no México nessa época mas, aparentemente, sem o Ramón.