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O ESTADO DE S.PAULO
Em reunião com executivos de grupos como Suzano, Shell, Natura e Itaú, o vice presidente do Brasil, Hamilton Mourão foi pressionado e assumiu compromissos para tentar conter o desmatamento na Amazônia.
Empresas de agronegócio relataram que a soja já enfrenta boicote externo.
A reunião de um grupo de oito empresários brasileiros com o vice-presidente Hamilton Mourão terminou num tom diferente do encontro realizado na quinta-feira com investidores estrangeiros.
Há dois dias, o governo basicamente tentou se esquivar das responsabilidades sobre o aumento do desmatamento na Amazônia. Mas, ontem, sob a pressão de executivos de grupos como Suzano, Shell, Natura e Itaú, acabou assumindo alguns compromissos.
“Hoje (ontem), o vice-presidente foi afirmativo ao dizer que o governo vai fixar metas para reduzir o desmatamento. O discurso está mudando, o governo já entendeu que o combate a atos ilegais e criminosos é responsabilidade dele”, disse Paulo Hartung, presidente da Indústria Brasileira de Árvores (IBA) e ex-governador do Espírito Santo. “Conseguimos avançar, mas só com atos concretos é que criaremos outra visão da opinião pública internacional.”
Segundo um dos participantes do encontro, que pediu para não ser identificado, os presidentes de empresas deram relatos fortes ao vice-presidente sobre os efeitos do desmatamento na Amazônia nos negócios e na economia.
Empresas de agronegócio relataram que a soja brasileira começa a enfrentar boicotes em alguns países, por exemplo.
A saída dos fundos de investimento também tem potencial de causar danos nos financiamentos às empresas privadas de maneira geral.
Os empresários sugeriram a Mourão iniciativas a serem adotadas pelo governo, como assumir o controle do rastreamento de todo o gado.
O governo já teria a expertise e o programa não teria grandes impactos nos cofres públicos.
Para o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, a principal notícia da reunião foi a promessa de um plano de redução do desmatamento na Amazônia com metas semestrais até 2022.
“Houve uma inflexão. É positivo o Estado dizer: reconhecemos que é grave e vamos tomar medidas”, disse Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável .
Após o encontro, a Cargill – que foi representada no encontro pelo seu presidente, Paulo Sousa – divulgou nota defendendo a “aplicação integral das normas aplicadas no código florestal”, assim como “ações claras de comando e controle contra o que foge e que é ditado pelo código”. E reforçou seu compromisso em transformar as cadeias de suprimentos que abastecem a companhia para que não haja desmatamento. “Sabemos que há trabalho a ser feito e estamos acelerando nossos esforços nessa área, incluindo soluções inovadoras economicamente viáveis para os agricultores”, informou a companhia.
Também em nota, o presidente da Suzano, Walter Schalka, disse que a reunião foi positiva. “Reforça a necessidade de dialogarmos e construirmos juntos, entes públicos, iniciativa privada e sociedade em geral, um caminho que permita ao Brasil assumir um papel de protagonismo nas discussões ambientais globais.”