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Quando o novo coronavírus ainda era um problema principalmente chinês, ao qual pouca gente dava a dimensão planetária que viria a ter, o drama do transatlântico Diamond Princess foi uma das primeiras janelas para a pandemia que já mostrava sua face.
Com 3 700 pessoas a bordo, muitas apresentando sintomas típicos da Covid-19, o navio Diamond Princess passou 39 dias ancorado no porto de Yokohama, no Japão, sem que ninguém tivesse permissão para sair — o governo temia que os passageiros e a tripulação contagiassem os japoneses.
Quando enfim puderam desembarcar, cercados de medidas de segurança, mais de 700 estavam de fato infectados, dos quais treze vieram a morrer.
O Diamond Princess virou um símbolo e, daí para a frente, as viagens de cruzeiro só se complicaram.
Dentro da combalida indústria do turismo, praticamente paralisada pelas medidas de combate ao vírus, os navios de cruzeiro, agora acrescidos do estigma de ambiente propício para a disseminação da Covid-19, foram os que mais acusaram o baque : as ações dos três gigantes do ramo — Carnival, Royal Caribbean e Norwegian, responsáveis por três em cada quatro viagens no mundo — desabaram 80%.
Agora, todos os navios estão recolhidos no porto, não só porque os deslocamentos foram impedidos, mas também pelo perigo que representam ao confinar um grande número de pessoas em espaço reduzido durante dias, semanas ou meses. Mesmo antes da Covid-19, eram comuns os relatos de surtos em embarcações do gênero — os Centros de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos registram, em média, treze por ano, a maior parte por norovírus, que ataca o trato gastrintestinal. “Os navios realizam limpeza frequente, mas é impossível zerar os riscos”, diz Tara Smith, epidemiologista da Universidade de Kent, no Reino Unido. No caso de um patógeno respiratório, como é o novo coronavírus, a situação se agrava, já que ele se espalha tanto por superfícies contaminadas quanto pela interação entre pessoas. “Basta um doente para que a situação saia de controle”, explica.
Nos Estados Unidos, o maior mercado, novas viagens estão vetadas pelo menos até julho, decisão que deve ser seguida também na Europa e no Caribe.