Educação

[Scopel]

E o Cristovão Buarque querendo aprovar aquela lei que obriga os filhos de políticos a estudarem em escola pública [onde foi que vi isso? ]. Doce Ilusão.

[Antonio Felipe]

Essa lei é ridícula. Como se isso servisse pra melhorar a educação...

[Scopel]

Eu não acho. Acho que é uma obrigação e um compromisso.

[Antonio Felipe]

A partir do momento em que existe educação pública e educação em instituições privadas, eu sou contra qualquer tipo de Lei que defina que qualquer cidadão, seja político ou não, esteja obrigado a matricular seus filhos na escola pública. Isso fere a liberdade individual de escolha.

A melhoria da educação não se faz obrigando os políticos a matricularem seus filhos em escola pública. É um processo muito mais complexo.

[Scopel]

Sim, exatamente por isso. Esse ideal de liberdade individual é utopia burguesa¹, é datado e deve ser superado, porque como se vê em todos os lugares, isso não existe para todos, mas tão somente para quem tem como pagar por ela. Temos que pensar em termos de liberdades reais, nos libertar de por exemplos estarmos condenados à educação e saúde no estado em que se está.

A saída não é apelar para o "indivíduo". Isso tem que ser superado porque é parte de um processo datado, qual seja, a superação do regime antigo [sec. XVIII], no qual todos estavam sujeitos aos "senhores" [da terra]. Esses ideais de liberdade individual e propriedade privada faziam sentido naqueles tempos. Naqueles tempos eram revolucionários.

Nos moldes atuais, a liberdade está baseada e ancorada ao acesso a bens e serviços, e como todo mundo sabe, além de ser impossível o acesso de todos à riqueza, isso não faria sentido, uma vez que a posse da maioria das coisas tem apenas valor artificial, ou seja, só faz sentido enquanto alguém não tem. Precisamos superar isso, assim como a burguesia revolucionária superou o "antigo regime" feudal.

Portanto não faz nenhum sentido apelar para "liberdades de escolha", pois não há nenhuma. O que tem que se fazer é obrigar, é controlar, é reconduzir as coisas de uma forma social. Na ausencia de um modo de destruir todo o sistema, apelamos para o reformismo. Obrigar os politicos a utilizarem o serviço público é obriga-los a ter mais compromisso com o que controlam, com o que fazem com este serviço, é faze-los sentir na pele o que nos fazem sofrer desde sempre. Mas não é pra punir: é para que assim tenham compromisso e se importem com a res publica.

(1) aqui não no sentido pejorativo, mas no sentido histórico, pois estamos na era da dominação burguesa, ou seja, a dominação daqueles que são donos do capital em contraposição a quem só é dono de sua força de trabalho. Se fosse há uns 300 anos, eu falaria em senhor feudal.

[Antonio Felipe]

Como a liberdade individual é uma utopia burguesa, essa recondução das coisas igualmente é utópica.

[Scopel]

É mesmo? Eu não acho. Se você acha isso é porque acha que sempre houve capitalismo e sempre haverá. Mas não. A história mostra que este é um modo de produção dentre os demais que tende a ser superado assim como todos foram. Se lutando é quase impossível, ficar parado certamente não vai mudar nada.

Eu não acredito na "revolução", isso é utopia. É ultrapassado. Mas acredito que as mudanças ocorrem quando estão maduras para ocorrer. O próprio sistema de produção [assim como todos os outros] cria a sua destruição: o capital vai mal e estamos vendo isso em todos os lugares, todos os dias; crack, violência, desemprego, revoltas, cortes de direitos básicos, miséria em metade da terra, fome, pestes, falta d'água guerras infindáveis, destruição do meio ambiente, etc. Porra, isso não é normal. É sintoma que o modo de produção de nossa existência está em colapso, ou no mínimo não está cumprindo com seu "papel".

Isso tem limite. Se a barbárie não consumir esse sistema e a todos nós, o colapso ambiental há de o fazer. Vamos tentar evitar? O século XXI promete e nós vamos viver pra ver.

[Tá bom, saiu um pouco da educação. Mas é parte do debate melhorismo x revolução [ou recondução]]

[Will CH]

Sou totalmente à favor da lei, como disse o Marcelo Tas no CQC, também podia servir para a saúde pública.

[Scopel]

Reza a lenda que quando Florestan Fernandes estava com sua doença de morte, FHC, então presidente, lhe ofereceu um tratamento nos EUA. Como alguém que sempre lutou e escreveu pelo povo, Florestan preferiu se tratar num hospital público. Alguns exageram dizendo que ele morreu na fila.

Florestan, um socialista, é o mestre intelectual de FHC, seu maior admirador e mais genial pupilo.

[Antonio Felipe]

A chance de uma lei dessas passar é zero. Vai ficar só no papel...

[Barbano]

A partir do momento em que existe educação pública e educação em instituições privadas, eu sou contra qualquer tipo de Lei que defina que qualquer cidadão, seja político ou não, esteja obrigado a matricular seus filhos na escola pública. Isso fere a liberdade individual de escolha.

Que liberdade de escolha? Você acha mesmo que alguém escolhe estudar em escola pública? (me referindo aí a ensino básico, fundamental e médio)

A questão é que quem pode melhorar ou piorar nossos sistemas de saúde e educacional são justamente os políticos. Como disse o Scopel, não é nenhum castigo. Eles tirariam proveito de eventuais melhorias, e seriam prejudicados em caso de piora.

O problema é que, mesmo no sistema público, há boas e más escolas, e há bons e maus hospitais. Quem garante que o acesso deles não seria justamente ao que há de melhor no sistema público?

A chance de uma lei dessas passar é zero. Vai ficar só no papel...

Óbvio. Quem vota são eles... Não vão votar contra o interesse próprio.

[Rafinha]

Fabão disse tudo. Ninguém opta em estudar em escola pública. Estuda pela falta de oportunidade social. Uma pessoa que recebe um salário mínimo, não tem condições nenhuma de pagar uma escola cara para seus filhos.

Agora, a maioria das minhas professoras (que dizem ganhar mal) têm filhos em escolas caras... Deve ser o marido rico...

[Antonio Felipe]

Eu entendo a proposta do projeto. Contudo, é mais uma dessas ideias que não vai resolver o problema como se deve. É só um paliativo. Além disso, só buscar consciência dos políticos para o problema da educação não é o bastante, tem que buscar consciência de toda a sociedade.

Rafael e Fabão, tem gente que opta sim pela escola pública, eu conheço muitos que os pais optaram pela pública.

[Rafinha]

Mas essas pessoas são bem remuneradas e mesmo assim optaram pelo ensino público? Bom, também há escolas públicas de qualidade. Aqui em Niterói, por exemplo, tem o Pedro II (escola federal), mas o acesso a ela é bem limitado. Não é qualquer um que entra. Ou também essas pessoas escolheram por pura avareza...

[Scopel]

Eu entendo a proposta do projeto. Contudo, é mais uma dessas ideias que não vai resolver o problema como se deve. É só um paliativo.

A solução mesmo é superar o capitalismo. A falta de investimento em Educação e Saúde são faces das políticas economicas adotadas desde sempre, sejam elas de entreguismo [ditadura], neoliberalismo [anos 90 e 2000], desenvolvimentismo [Vargas]. Tanto faz: o capital sempre foi priorizado. E está acontecendo o mesmo em toda a Europa: o assalto aos direitos mais básicos conquistados pelas lutas sociais [pois nada foi de graça né]. E as taxas juros aumentando...

Mas como eu disse, não se supera assim como fizeram em Cuba. Não no Brasil. Aqui só a luta popular, pela reforma agrária, a greve geral, pela manutençao e ampliação de direitos básicos, pela punição dos corruptos é que poderam reverter o quadro. E olhe lá. Mas isso requer um grau de consciência hoje impossível. O que fazer?

Mas sem isso, nada vai mudar. Estamos há 20 anos trocando de gestores de governo e o Brasil continua a mesma merda: dependente, desigual e com a população no limite.

Além disso, só buscar consciência dos políticos para o problema da educação não é o bastante, tem que buscar consciência de toda a sociedade.

Pra você qualquer coisa que venha depois de "mudança" é comunismo. Assim fica difícil. Superar o capitalismo está muito além de socialismo e comunismo, isso são crenças utopicas, ideais de organização. Superar o capitalismo é mais profundo: é a condição para que a humanidade continue existindo num planeta habitável e que seus 7 bi sofram o mínimo possível. Como dizia Marx, o pior do capitalismo não é a exploração do trabalho pelo capital, mas a destruição de tudo que nos torna humano: a livre criação.

Rafael e Fabão, tem gente que opta sim pela escola pública, eu conheço muitos que os pais optaram pela pública.

Vamos nos ater à dinâmica real, não ao particularismo, às exceções.