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Mãos nas coxas, no sutiã e nos seios de estudantes menores de idade. Esse é o teor de alguns relatos feitos por ex-alunas do Colégio Santo Inácio contra um professor do ensino médio. As acusações de assédio vieram à tona na semana passada, através de denúncias anônimas feitas pelo Twitter e reveladas por VEJA Rio, que conversou com cinco estudantes formadas na tradicional instituição de ensino do Rio. A pedido das entrevistadas, seus nomes foram mantidos em sigilo.
Universitária, Z* tinha 14 anos e cursava o 1º ano do Ensino Médio quando, conta ela, começou a ser assediada pelo professor que hoje é alvo de acusações. “Desde o início do ano letivo, ele me assediava dentro da sala, às vezes no meio da aula mesmo. Primeiro, ele perguntou se eu tinha alguma irmã mais velha que se parecesse comigo. Quando disse que não, falou que era uma pena. Ele disse isso no meio da aula, com amigas minhas presentes, fiquei muito constrangida”.
Segundo Z*, neste mesmo ano, deu-se outro episódio. “Eu estava fazendo um exercício na aula dele, e ele estava passando pra conferir o dever das pessoas. Quando chegou a minha vez, ele disse que tinha alguma coisa nas minhas costas e perguntou se eu queria que ele tirasse. Obviamente falei que não. Mesmo assim, ele botou a mão nas minhas costas e puxou a alça do meu sutiã sem o menor pudor. Ele ainda me encarou e riu. Desde então, fiquei com muito medo de ficar perto dele”, relembra ela, que se formou no Santo Inácio em 2016, hoje tem 21 anos e é estudante de ciências da computação.
Z* revelou que seu tormento continuou até o 3º ano. A coragem de contar aos pais só surgiu na semana passada, quando o colégio divulgou um comunicado e um endereço de e-mail para receber denúncias de possíveis vítimas. Sua mensagem foi uma das primeiras enviadas. “Só consegui falar com meus pais recentemente devido a esse alarde todo e por eles terem me perguntado se eu sabia de alguma coisa. Eu tinha muita vergonha. Ele já me abordou para falar que eu estava com um corpo bonitinho e que queria saber o que eu fazia pra ficar assim”, contou a VEJA Rio.
Y*, outra ex-aluna, formada em 2016, relatou que foi vítima do mesmo professor aos 15 anos. “Depois da entrega de uma prova corrigida, fui até a mesa dele pedir revisão. A aula havia acabado, os outros alunos já tinham saído da sala. Ele estava sentado e me envolveu com o braço. Ficou me segurando pelas coxas enquanto revia a minha prova. Fiquei paralisada, tensa, com medo de me mexer”, diz. Dois anos depois de se formar no colégio, Y* soube de uma aluna que estava reunindo depoimentos contra o docente e decidiu romper o silêncio. “Em 2018, essa aluna estava no 3º ano e queria entregar os relatos à coordenação”.
W*, que hoje trabalha como pesquisadora da UFRJ, contou a VEJA Rio que já havia levado as acusações de assédio contra o professor à coordenação em 2016. “Fiquei indignada quando li a carta enviada pela direção do colégio aos pais na semana passada, revelando surpresa com ‘recentes denúncias em relação a supostos casos de assédio envolvendo profissionais e alunos’. Eles já sabiam”.
A pesquisadora contou que, ao levar as denúncias adiante em 2016, ouviu como resposta que a coordenação estava ciente do problema e que o acusado estaria tendo uma última chance: “A gente acreditou. Dois anos depois ele continuava fazendo as mesmas coisas. O colégio sempre soube, mas abafou o caso.”