São Paulo acordou neste 6 de abril sob a “fase vermelha”. A medida foi antecipada pelo governador do estado de São Paulo, João Doria (PSDB) que alegou o descontrole nos contágios, mortes e o virtual colapso do sistema de saúde para defender a implementação das medidas restritivas. Isso significa que os principais pontos de aglomeração, os serviços de transporte público, sofrerão alguma mudança? De maneira nenhuma. Serviços não essenciais como igrejas e escolas, tampouco fecharão, assim como fábricas e obras de construção civil não irão parar. É possível uma farsa mais grotesca?
Em meio à absoluta falta de ações sérias por parte do governo de São Paulo, que tem o segundo maior orçamento do País, uma caracterização jocosa do coronavírus como um vírus “boêmio” ganhou força, em razão das medidas demagógicas restringirem a circulação das pessoas em determinados horários a noite, mantendo a aglomeração no transporte coletivo, nas fábricas e locais de trabalho, os principais locais de transmissão do vírus. Isto tudo num momento em que o estado ultrapassou 2 milhões de infectados e 61 mortos por coronavírus.
Longe de atacar um fio de cabelo dos interesses da burguesia que lucra com o genocídio, Doria ataca o comércio de rua, academias, bares e negócios tradicionalmente geridos pelas camadas mais frágeis da pequena burguesia. E que os operários nas fábricas, nos canteiros de obras e nos transportes não tenham a ideia esquisita de tomar uma cerveja após um dia fatigante de trabalho, o mesmo valendo para professores e demais servidores da educação, pois serão todos transformados em bodes expiatórios.
Afinal, cerca de 8 milhões de trabalhadores, diariamente espremidos nos ônibus, trens e metrôs de São Paulo, não são tão atraentes ao contágio pelo coronavírus quanto 8 trabalhadores em uma mesa de bar. E quem melhor do que a Polícia Militar para corrigir infratores, os trabalhadores e o comerciante, que por ventura forem capturados cometendo tamanha desfeita contra os esforços de Doria para manter tudo como está?
Aqui, um ponto importante para lembrar a utilidade política da “fase vermelha”, que em grande medida, não passa de um eufemismo para “Estado de sítio”. Como pode ser visto no caso do rapper MC Salvador da Rima, os abusos da PM – enormes em condições normais – tem se intensificado com o avanço do surto de contágios. O uso constante das forças de repressão tem feito da PM o mais destacado instrumento de Doria para lidar com a pandemia. Com a fase vermelha, a grande mudança a ser sentida pela população é justamente o crescimento da repressão.
Podemos, portanto, esperar mais “flagras” de festas clandestinas, de “desrespeito às instituições”, ao “isolamento social” e o que servir de propaganda para justificar o real interesse da burguesia: incrementar a violência contra o povo para culpá-lo pela omissão dos governos e de sua política genocida. E claro, conforme a propaganda da burguesia se desenvolver, podemos esperar também a esquerda pequeno-burguesa aplaudindo os métodos fascistas usados por Doria e pelos demais “científicos”, desde que seja para “combater” o “negacionismo”.
A pandemia, nesse sentido, constituiu uma oportunidade para a burguesia colocar em prática a máxima brutalidade a título de controlar os escravos modernos, que com o desenvolvimento da crise capitalista, fatalmente tenderiam ao descontentamento.
Os trabalhadores não devem se deixar confundir pela propaganda da burguesia. É preciso mobilizar-se contra as medidas ditatoriais implementadas por Doria e exigir o fornecimento de vacinas em massa e auxílio emergencial baseado no salário mínimo vital de R$ 5.500 reais, ou seja, medidas capazes de efetivamente superar a crise sanitária por um caminho que atenda aos interesses da classe trabalhadora, que para sobreviver precisa derrotar os golpistas, tanto quanto o coronavírus.
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