Até pouco tempo atrás, a China só chamava atenção pelo seu potencial de consumo. Entretanto, entre 2000 e 2011, suas importações de vinho cresceram inacreditáveis 26 000%. Com isso, a China tornou-se o quinto maior mercado de produção de vinho no mundo.
Os chineses colocaram no mercado 9,3 milhões de hectolitros da bebida em 2018 (o décimo maior volume do planeta). Embora a qualidade média ainda seja baixa, algumas garrafas já recebem elogios de críticos e menções em revistas especializadas.
Os chineses aprendem copiando o que há de melhor no mundo. No caso do vinho, o modelo copiado é o da França.
Uma garrafa produzida com a uva cabernet franc, tirou a nota 96 (de 100 pontos possíveis) no último World Wine Awards, realizado pela revista Decanter, uma das publicações mais respeitadas do segmento. Outro prêmio tradicional, o Concours Mondial de Bruxelles, concedeu na edição de 2019 cinco medalhas Grande Ouro, sua maior honraria, a vinhos da China, três deles de cabernet sauvignon de Ningxia. “É inegável quanto os chineses estão evoluindo nessa área”, atesta Manoel Beato, chef sommelier do restaurante Fasano, uma das maiores grifes gastronômicas brasileiras.
Como tudo na China, a expansão das vinícolas locais tem um importante incentivo governamental. Em 1996, o então primeiro-ministro Li Peng brindou os demais participantes do Congresso do Partido Comunista com uma taça de vinho tinto, dizendo que o consumo do produto, além de uma forma de economizar outros grãos (a bebida mais popular do país é o baijiu, um fermentado de arroz barato de alto teor alcoólico), era benéfico à saúde e ao incremento do que ele chamou de “ética social”. Em outras palavras, o premiê pregava a necessidade de refinamento do paladar de seus cidadãos.
Desde então, o governo tem estimulado a desapropriação de centenas de pequenas propriedades rurais no norte e no noroeste do país para a produção de vinho.
A região de Ningxia, na China, situada próximo à fronteira com a Mongólia e escorada pelas montanhas de Helan, possui um terroir similar ao do solo de Bordeaux, na França, de onde saem algumas das mais prestigiadas garrafas do mundo. “Lá o terreno é rico em calcário, argila, pedra e potássio. Além disso, naquela latitude as quatro estações são bem definidas”, afirma Anna Rita Zanier, sócia da loja paulistana Vinum Est. “Eles têm as condições climáticas e o dinheiro. Faltava mão de obra experiente, que os chineses começaram a importar.”
Para absorver o know-how, empresários do país compraram vinícolas em território francês. Esses empreendedores têm encontrado donos de châteaux simpáticos ao seu dinheiro, tudo porque os impostos sobre herança na França tornam muito caro transmitir o patrimônio às novas gerações.