Mensagem
por Antonio Felipe » 17 Jul 2009, 16:54
Uhn...Escrevi uma crítica sobre HP6 e acabei mudando algumas coisas que pensava. Segue minha crítica, que mandei para o CinePlayers:
"Harry Potter e o Enigma do Príncipe" foi feito muito mais para os fãs do que para o espectador comum, que não leu os sete livros da saga de J. K. Rowling. Apesar do fato de que muito da história desta sexta parte ser perfeitamente compreensível para o espectador comum, muito do que é dito e detalhado só fará sentido para os fãs. E da mesma forma, só o fã sentirá falta de algumas coisas que foram ceifadas pelo roteiro. Outro fato que denota essa preferência pelo fã incondicional do bruxo é o amadurecimento da trama. Quem leu os livros teve praticamente dez anos da sua vida com a companhia de Potter, Rony, Hermione e cia. As crianças que pegam no exemplar de "A Pedra Filosofal" em 2000 hoje são adolescentes perto dos 18 ou mesmo adultos, como é o meu caso. Logo, sentimentos de melancolia e paixão ficam mais latentes para o espectador que já conhece a saga mais a fundo. Partindo dessa premissa, os produtores ousam em certos detalhes, o que impede até mesmo que crianças assistam a este filme, já que a classificação etária do Ministério da Justiça é de 12 anos - correta, diga-se de passagem.
A história é a seguinte: após os acontecimentos de "A Ordem da Fênix", Voldemort está à solta, assim como os Comensais da Morte. Pessoas estão desaparecendo ou sendo mortas. A linha tênue que separa o mundo trouxa do mundo bruxo acaba sendo rompida, como no ataque à ponte suspensa em Londres (uma das melhores cenas de ação de todos os filmes da saga). Dumbledore precisa da ajuda de Harry Potter para descobrir como acabar definitivamente com Voldemort. Para isso, eles precisarão mergulhar - literalmente - na história do menino Tom Riddle, que se tornou anos mais tarde o bruxo das trevas mais perigoso que já surgiu. A dupla vai atrás do ex-professor Horácio Slughorn, que é convencido a voltar para Hogwarts. Ele guarda importante lembrança para ajudar Alvo e Harry em sua empreitada. Potter ainda vê-se às voltas com um misterioso príncipe, antigo proprietário de seu livro de poções, e acompanha as aventuras românticas de Hermione, Rony e dele próprio, que não esconde mais a sua atração por Gina, irmã de Rony. Para completar, Draco Malfoy é incumbido de cumprir importante missão
O roteiro de Steve Kloves, que retorna a esta sequência, tem praticamente dois pontos de partida: um deles acompanha a jornada de Potter e Dumbledore para perscrutar o passado de Tom Riddle, além de focalizar Draco, a quem foi confiada uma missão do Lorde das Trevas. O outro ponto é marcado pelo clima romântico que paira sobre os heróis da trama. Os hormônios estão aflorando cada vez mais nestes adolescentes de 16 anos. Potter apaixona-se por Gina, enquanto Hermione não esconde sua atração por Rony que, por sua vez, acaba "ficando" com a espevitada Lilá Brown. Destes pontos, ambos têm suas peculariedades e seus defeitos. Mas ambos acabam tendo mais virtudes que sobressaltos e garantem um resultado excepcional. Kloves, entretanto, subtraiu em seu roteiro passagens importantíssimas para o entendimento dos próximos filmes - como uma das sequências na Sala Precisa e quando um importante personagem é assassinado. Só quem é fã, entretanto, vai perceber essas subtrações.
Ainda sobre esses dois pontos, a história que gira sobre a epopéia de Potter e Dumbledore nos permite conhecer um pouco mais de Tom Riddle/Lord Voldemort. Apesar dos sinais, o diretor de Hogwarts não percebeu que o menino no orfanato seria um futuro algoz. Também podemos descobrir como Voldemort se tornou tão poderoso e como é tão difícil matá-lo: sua alma está divida em horcruxes, objetos que contém uma parte da alma e que permitem, em síntese, a imortalidade do vilão. O clima melancólico toma conta dessa parte. O pânico latente pela ascenção de Voldemort é sensível pelos espectadores e está presente na face e na ação de cada personagem do núcleo. Já o ponto romântico mostra o quanto cada personagem cresceu. Se antes Rony e Harry temiam as garotas ("prefiro enfrentar um dragão", disse Potter no quarto filme), agora elas é que vêm até eles. Rony não percebe o amor que Hermione nutre por ele e acaba envolvendo-se com Lilá Brown - quase que sem sua própria iniciativa. Podemos ver uma Hermione mais sensível, que já não pensa tanto nos livros e agora sofre por amor. Amor este que o roteiro não explica como e por que surgiu. Já Harry está cada vez mais atraído por Gina, o que é recíproco. Sentimos uma química espetacular entre os personagens, o que permite completa empatia - apesar de que Harry não se sente mal por causa do sentimento que nutre pela Weasley, ao contrário do que é citado no livro.
O filme tem cenas memoráveis, como a destruição da ponte em Londres, as sequências na penseira e toda a parte que se passa na caverna, assim como a sequência final. As cenas de quadribol estão excelentes, embora não passem do habitual. Os efeitos especiais evoluem a cada filme e aqui eles são espetaculares. A fotografia é a melhor de todos filmes, usando tons em cinza, chumbo e azul. Isso transmite maior melancolia para o público e aprofunda o clima sombrio da trama. A direção de arte segue excepcional e os figurinos continuam lindos.
O trio central tem boas atuações e de certa forma, talvez seja a melhor em oito anos. Daniel Radcliffe conduz Harry com muito mais força e seriedade. Rupert Grint mantém Rony como o bobo da corte e o protagonista de várias cenas hilárias. Mas Emma Watson é a bola da vez. Sua atuação é notável e emocionante. Simplesmente perfeita. Bonnie Wright, na pele de Gina, está incrível. A atriz é linda e transmite um sopro de vida e de amor para a história. Tom Felton, como Draco, tem atuação memorável, já que ele ganha muito mais destaque e mais carga dramática. A turma de mais idade também está muito bem. Michael Gambon conduz Dumbledore como nunca antes visto. E é certo que Richard Harris não teria a compleição física adequada para as cenas que Alvo protagoniza. Alan Rickman está excelente como Snape, em sua melhor participação na saga. O balbuciar demorado de suas falas é incrível. Helena Bonham Carter volta à pele de Belatrix e não decepciona, empregando mais loucura a seu personagem (mas convenhamos, seu figurino está igual ao usado em "Sweeney Todd"). O nome do filme, no entanto, é Jim Broadbent. Na pele de Horácio Slughorn, Jim faz a melhor atuação da película, dando a vaidade e a petulância necessárias à composição de seu papel. Simplesmente perfeito.
"O Enigma do Príncipe", enquanto livro, é um dos exemplares mais complexos, repleto de detalhes que ajudam na compreensão do último tomo. O filme não segue tanto essa linha, mas tem a correção de empregar os detalhes certos nas cenas certas, como na caverna e na penseira, apesar de certos cortes. Se o roteiro de "The Deathly Hallows I e II" não furar em relação ao que apresentou neste filme, perfeito, aplaudirei de pé. Caso contrário, não me cansarei de criticar a ousadia de Steve Kloves. No mais, a saga de Harry Potter chega à sua sexta parte com maestria. Segue a tendência: o segundo filme foi melhor que o primeiro, sendo que o terceiro superou o segundo, sendo superado pelo quarto e após, pelo quinto. Agora, "O Enigma do Príncipe" supera seu antecessor. A série está chegando no clímax e desde já, estamos todos ansiosos pelo final, que só chegará às telas em 2010 e 2011. Nessa balada, as duas últimas produções atingirão o ápice, a perfeição.
• Jornalista
• No meio CH desde 2003
• Um dos fundadores do Fórum Chaves. Administrador desde 2010
• Autor do livro "O Diário do Seu Madruga"
• Eleito pelos usuários como o melhor moderador em 2011, 2012, 2013 e 2014
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