O ESTADO DE S.PAULO
Nem mesmo uma das empresas mais resilientes para atravessar a crise causada pela pandemia da covid-19 deve concretizar seu plano de investimentos neste ano.
Apesar de continuar crescendo nas últimas semanas, quando a economia em geral praticamente parou, o Mercado Livre não deve aportar os R$ 4 bilhões que havia anunciado para o Brasil em 2020, segundo o vice-presidente executivo da companhia, Stelleo Tolda.
Ainda não há definição de quanto desse orçamento deixará de ser executado, diz o executivo.
Estão ameaçados principalmente recursos que seriam usados para promover a carteira digital do grupo, ferramenta que permite o consumidor pagar compras feitas tanto no Mercado Livre como em outros sites ou estabelecimentos.
“Temos mantido o plano de investimento na parte de logística, mas é provável que não invistamos os R$ 4 bilhões que tínhamos anunciado. Incentivos para o uso da carteira digital em restaurantes, a gente suspendeu. Incentivos para pessoas irem a farmácias, a gente manteve. Estamos sendo seletivos”, diz.
A carteira digital da empresa faz parte dos negócios do Mercado Pago, braço financeiro do grupo que tem também maquininhas de cartão de crédito e débito e que vinha acelerando o ritmo de crescimento do grupo como um todo.
No último trimestre do ano passado, por exemplo, enquanto a receita com as vendas do site cresceu 80% na comparação com o mesmo período de 2018, a receita que exclui essas vendas avançou 90%, em um movimento puxado pelos negócios de pagamentos.
Tolda destaca que a carteira digital e a área de maquininha da empresa continuam crescendo, mas em ritmo menor do que em meses anteriores.
Segundo ele, porém, os pagamentos com QR Code, tecnologia lançada em setembro de 2018 e uma das grandes apostas do Mercado Pago, está sofrendo mais – a ferramenta só pode ser usada em compras feitas fisicamente.
As dificuldades que o braço financeiro do grupo enfrentarão foram, inclusive, mencionadas em relatório do Itaú Unibanco que colocava o Mercado Livre como uma das empresas do varejo brasileiro mais bem posicionadas para enfrentar a crise devido a sua base diversificada de vendedores.
“As perspectivas de crescimento do Mercado Pago sofrerão significativamente com a redução de fluxos nas principais cidades onde o Mercado Livre opera. As maiores cidades de Argentina, Brasil e México estão adotando medidas de distanciamento social e, na maioria dos casos, já fecharam lojas não essenciais, o que obrigou o Mercado Pago a suspender seu plano de expansão para 2020”, diz o documento.
O Credit Suisse, no entanto, afirmou, também em relatório, que a queda nas transações com QR Code devem ser compensadas pelo aumento nas vendas no site do Mercado Livre.
O banco suíço apontou ainda que a pandemia deve mudar o modo de comportamento do consumidor, acelerando o crescimento do e-commerce em áreas em que ele ainda é tímido, como consumo de luxo e de alimentos – uma transformação que beneficia o Mercado Livre.