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Quase um mês após a eliminação da Alemanha da Copa do Mundo, o meia
Mezut Özil emitiu neste domingo, via Twitter,
um comunicado oficial, em tom de desabafo, declarando que não mais jogará pela seleção do país. Campeão mundial no Brasil, em 2014, com 92 partidas disputadas desde 2009 pela equipe nacional, o meia do Arsenal, de 29 anos,
justificou a decisão por se considerar perseguido e discriminado pela Federação Alemã de Futebol (DFB) devido à sua ascendência turca e, principalmente, por expressar suas opiniões favoráveis à imigração e ao multiculturalismo na sociedade alemã.
A crise entre Özil e a Federação Alemã ganhou força depois que o jogador posou, junto com o meia Ilkay Gündogan, também da seleção alemã, com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, no dia 13 de maio, em Londres. A possível conotação política do encontro desagradou a Federação. Özil disse que não quis alimentar a polêmica antes e durante a Copa, mas revelou agora seu descontentamento com a maneira como tem sido tratado - desde antes do episódio - pelos dirigentes esportivos do país, entre outras pessoas.
Özil encerrou o longo comunicado, com quatro páginas e publicado em duas postagens, aumentando ainda mais o tom do desabafo:
- É com o coração pesado e após muita consideração que devido aos recentes eventos, eu não vou mais jogar pela Alemanha em nível internacional, já que eu tenho esse sentimento de racismo e desrespeito. Eu costumava vestir a camisa da Alemanha com tanto orgulho e animação, mas agora não mais. Essa decisão foi extremamente difícil para mim porque eu sempre dei tudo por meus colegas, comissão técnica e o bom povo da Alemanha.
Suas maiores críticas foram direcionadas ao presidente da Federação Alemã, Reinhard Grindel.
- Em 2004, enquanto você (Grindel) era membro do Parlamento (alemão), você reclamou que "o multiculturalismo é na verdade um mito, uma mentira duradoura", enquanto votava contra a legislação favorável às duplas nacionalidades e às punições por subornos, e também disse que a cultura islâmica se tornou muito entranhada em muitas cidades alemãs. Isto é imperdoável e não se pode esquecer - declarou Özil num dos trechos da carta de três páginas.
- Pessoas com histórico de discriminação racial não deveriam ter permissão para trabalhar na maior federação de futebol do mundo, que tem muitos jogadores com famílias com dupla ascendência. Atitudes como as deles simplesmente não refletem os jogadores que supostamente eles representam - continuou Özil em outro momento.
Também via Twitter, após o anúncio da aposentadoria internacional de Özil, a Fifa publicou uma foto dele com a Copa do Mundo, no gramado do Maracanã, após a conqusita do título em 2014, e deu os parabéns ao jogador pela carreira vitoriosa.
Destacando suas "raízes na Turquia", o alemão falou também sobre a repercussão do caso na mídia. Incomodado, Özil disse que a imprensa acha mais importante noticiar sua foto com o presidente turco, do que falar sobre as ações sociais que ele participa, como a feita recentemente na Rússia. Na ocasião, o meia se engajou em um projeto social que ajuda a mudar a vida de crianças pelo mundo.
- Para mim, ter uma foto com o presidente Erdogan não tem a ver com política ou eleições, mas com o respeito que tenho ao mais alto cargo do país de minha família. Meu trabalho é ser um jogador de futebol e não um político. De fato, nós falamos sobre futebol sempre que nos encontramos, já que ele também era jogador na juventude – diz um trecho do documento. - Eu sei que isso pode ser difícil de entender. Um líder político não pode ser separado da pessoa. Mas neste caso é diferente. Eu faria a foto novamente.