http://esportes.estadao.com.br/noticias ... 0001897062
Grandes times do futebol nacional começam a se planejar para construir seus próprios estádios ou reformar os que já têm.
Flamengo, Santos, Atlético-MG e Fluminense apresentaram publicamente propostas de nova arena, enquanto o Coritiba discute internamente alternativas de um novo estádio.
Os clubes puderam aprender com os erros que outros times cometeram ao construir na "primeira onda" de construções de estádios, antes da Copa 2014.
Assim, apresentam projetos diferentes, com outras maneiras de financiar e utilizar o espaço. Outra grande diferença está no tamanho : entre os times que já apresentaram seus projetos publicamente, apenas o Atlético-MG deseja uma arena com capacidade superior a 30 mil - será algo em torno de 50 mil.
Ainda assim, o consultor de marketing e gestão esportiva Amir Somoggi se mostra cético. "Depois do fiasco que foi a primeira onda, não sei porque ainda pensam nisso. Todas as administradoras dos estádios estão tendo prejuízos, mas ainda assim desejam fazer novos. E também me surpreende que ainda falem em 'estádio multiúso' como se fosse a salvação. O estádio do Palmeiras é o melhor nessa área no Brasil, porque faz jogos e shows, mas não tem exploração comercial de lojas, museus, eventos corporativos. Quem administra os estádios da Copa está apresentando perdas".
O especialista diz o que considera adequado a um clube fazer. "O correto seria fazer um business plan com antecedência, para decidir se vale a pena ter um estádio e não para ter o estádio. Vendo a viabilidade do plano, discutir com torcedores, conselheiros e imprensa, com transparência, e só então iniciar algo. Caso contrário, seria melhor ficar nos estádios que já existem, como o Pacaembu (caso do Santos) ou Mineirão (para o Atlético)".
O Flamengo apresentou em 11 de maio um compromisso de construir um estádio na Gávea, em parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro. O clube ainda não tem o planejamento pronto, mas avança por ele. "Há um grupo de arquitetos trabalhando em cima disso. Toda semana nós temos três ou quatro reuniões, para que a gente possa finalizar o detalhamento do projeto", diz o vice-presidente de patrimônio do clube, Alexandre Wrobel.
O dirigente justifica a opção pela Gávea, e garante que o clube se preocupa em não atrapalhar os moradores da região, que iniciaram um abaixo-assinado contra a construção. "O bairro do Leblon cresceu em torno da Gávea, que já foi utilizada como estádio algumas vezes, inclusive com arquibancada. Então, o Flamengo entende que é um projeto viável. Seria um presente para a cidade do Rio de Janeiro, revitalizaria toda essa área. O clube já teve conversas [com a associação de moradores do Leblon] num passado recente, e quando o projeto for detalhado em sua plenitude, voltaremos a conversar, pois nosso intuito é buscar um meio termo que seja bom para todo mundo".
Sobre a capacidade reduzida (entre 20 e 25 mil pessoas), Alexandre Wrobel diz que a intenção do clube é utilizar o estádio próprio em partidas menores. "Nosso foco continua sendo brigar pelo Maracanã e ter um estádio de pequeno porte, um estádio auxiliar, para jogos de pequeno apelo, de categorias de base".
Financeiramente, o clube procura parceiros e confia na torcida para viabilizar a construção. "Há um business plan que vem sendo trabalhado, estudado, mas a ideia é que o Flamengo consiga viabilizar a construção através de campanhas que serão feitas junto a sócios, junto à grande Nação Rubro-Negra, e em conjunto com grupos que já se mostraram interessados em investir no negócio e ser parceiros do clube na exploração do estádio", esclarece o vice-presidente.
O Santos também já escolheu o terreno ideal : a sede da Associação Atlética dos Portuários, com quem o clube dividiria a utilização do estádio e das áreas sociais a serem construídas.
Entretanto, parte do espaço que seria construído pertence à União, e o Santos negocia para obter controle dessa parte.
O clube oferece uma área no Guarujá, onde o Governo Federal deseja construir moradias para o programa "Minha Casa, Minha Vida", e seria adquirida por investidores que desejam ajudar no projeto.
Reformar a Vila Belmiro não seria uma alternativa. "A Vila é um problema. Ela tem só 17 mil m² de área, e não poderíamos construir para cima graças ao código urbano, pois atrapalharia a insolação da área" explica Modesto Roma Júnior, presidente do Santos.
No projeto, o Santos prevê um estádio para 30 mil pessoas, capacidade insuficiente para sediar finais de torneios da Conmebol. "Não podemos construir um estádio pensando em um único jogo", comenta o presidente.
Dessa maneira, o clube ainda levaria jogos para o Pacaembu e até para a Vila Belmiro, dependendo do apelo da partida. A capacidade foi escolhida, segundo o dirigente, pois um estádio maior demandaria a construção de outros anéis e os custos da construção subiriam em demasiado.
Custos que devem ficar entre R$200 e 300 milhões de reais. "Não sairá um centavo do clube, será tudo bancado por investidores", garante Modesto, afastando também a possibilidade da torcida ajudar a pagar a construção. "Temos um plano de investimentos que irá garantir o retorno aos fundos", afirma o mandatário. A Arena do Santos será multiuso, com espaço para shows e eventos.
Com uma das piores médias de público do Campeonato Brasileiro, Modesto demonstra otimismo de que o número de pessoas nas partidas do Santos irá aumentar com a nova arena. "Se não tivesse essa esperança, não faria um novo estádio".
Em Minas Gerais, o Atlético-MG pretende apresentar em 7 de agosto todos os detalhes do projeto de seu estádio aos conselho deliberativo do clube para receber o aval para a construção do estádio. "A Diretoria Executiva do Atlético vem trabalhando, já há alguns anos, para lhe apresentar um projeto que viabilize a construção do Estádio do Galo. A esta altura, todos os estudos técnicos para a sua realização já se encontram devidamente concluídos", diz carta enviada pela diretoria aos conselheiros do clube.
No Fluminense, Pedro Antônio, ex-diretor de projetos especiais do clube, apresentou alguns detalhes da arena que seria construída aproveitando o espaço e materiais do Parque Olímpico da Barra. O estádio teria capacidade para um público entre 18 mil e 22 mil pessoas e custaria menos de R$ 100 milhões de reais. Porém, do conselho do clube ficaram descontentes com a exposição e Antônio perdeu o cargo.