O BRASIL NÃO DEVERIA EXISTIR"
Para quem os “antirracistas” torcerão na Copa do Mundo?
Debate sobre ausência de técnicos negros é pretexto para jogar lama na identidade nacional
“Aseleção brasileira de futebol nunca disputou uma Copa do Mundo com treinador negro”. Poderíamos acrescentar também, a essa brilhante constatação, que nem com técnico anão, nem com técnico gay, nem com técnico entregador do Ifood. Poderíamos, se a afirmação inicial fosse verdadeira.
Nosso querido mentiroso, que atende pelo nome de André Borghi, deu a essa frase o título de um texto seu no portal Mídia Ninja. O que ele não encontrou em sua rigorosa pesquisa foi que Flávio Costa, o escolhido para comandar a seleção na primeira Copa do Mundo no Brasil, não era um alemão, mas um mineirinho com pinta de sambista que começou sua carreira no Flamengo:
Nem que o técnico de uma das melhores seleções de todos os tempos — a célebre equipe de 1982 — tinha como chefe Telê Santana, um homem que tomou menos sol que o necessário para ganhar um elogio de André Borghi e, talvez por isso, tenha ficado com a fama de “pé frio”!
Ora, dirá o leitor, mas será que este Diário não está “pegando no pé” do sábio André Borghi? Será que quando ele diz “negro”, ele quer dizer “retinto”, como o garoto-propaganda da C&A?
A resposta é simples: não. Basta ver que o exemplo de “negro” trazido pelo articulista são jogadores como Ronaldo, Rivaldo e Romário, craques com fenótipos não muito diferentes daqueles mostrados aqui. André Borghi considera que não há técnico negro na história do Brasil nas Copas simplesmente porque quer adaptar a realidade a uma “teoria” que tirou da própria cabeça. Por própria, entenda a cabeça de um “pensador” negro, que tirou suas ideias de outro “pensador” negro, que finalmente tirou suas ideias de um “pensador” branco. E que mora nos Estados Unidos.
Sendo assim, que “teoria” André Borghi procura defender?
Segundo o articulista, haveria um “racismo científico” que determina que o negro só seria “bom” para jogar futebol, mas não assumir posições de comando. Borghi cita um “doutor” (branco ou preto?) e afirma que, na sociedade, “o negro é apto para jogar futebol e praticar exercícios físicos, mas o modo de pensar e a especialidade do futebol fica sob domínio do homem branco”. Essa mesma ideia é apresentada por Silvio de Almeida, autor do livro “Racismo Estrutural”, que afirmou, em entrevista à antirracista Roda Viva: “Eu já ouvi de muita gente que negros não serviriam para ser goleiro. Na verdade, falta aos goleiros negros aquilo que é tido como quase natural nos brancos. Como eu vou confiar no goleiro? Mas ao mesmo tempo, tem que confiar no técnico, no capitão do time, no árbitro e tem que confiar também nos dirigentes”.
Resolvido, então, o mistério! O pseudofato de que só tenha havido técnicos eslavos na história de seleção brasileira é explicado porque os homens foram ensinados a não confiar nos negros! Mas quem ensinou? E como desensinar? A sociedade norte-americana, que “confiou” em um negro a presidência da República, seria, portanto, menos racista que a brasileira? Devemos chamar os norte-americanos para ensinar os burros, preconceitos, bárbaros — e por que não — nazistas brasileiros?
Trata-se de uma tese ridícula, que só pode recorrer aos espíritos para explicar de onde viria o tal racismo estrutural e não apresenta qualquer saída real. Não importa por que ângulo se olhe, a tese é sempre a mesma: a opressão do negro é o resultado de uma ideia. Alguém teve a ideia de oprimir o negro e, a partir de então, a ciência se tornou racista, a política se tornou racista, o futebol se tornou racista, tudo se tornou racista — menos o nosso ilustre professor, o puro André Borghi.
O que Silvio de Almeida, André Broghi e seu “doutor” tentam fazer é, na verdade, forçar a barra com uma teoria que até consegue enganar mais quando é aplicada a outras esferas da vida social. Em vez de falar que não há técnicos ou capitães negros, o que é mentira, nossos antirracistas da Folha de S. Paulo poderiam usar de exemplo o seguinte fato: por que os banqueiros são brancos? Por que a esmagadora maioria dos políticos burgueses são brancos?
A teoria, no entanto, fica ainda mais absurda. Alguém realmente acha que alguém “confia” em banqueiro? Alguém realmente pode levar a sério que o povo confia a sua vida a alguém como Fernando Henrique Cardoso? É óbvio que essa conversa mole de “confiar” no branco e não “confiar” no negro não explica absolutamente nada.
A explicação é mais simples do que parece, e consta no depoimento de um dos jogadores entrevistados por Igor Moreira, o “doutor” de André Borghi. De acordo com sua tese publicada pela PUC-SP, o jogador de futebol aposentado Carioca teria dito:
“Volto naquele ponto que falei: o negro para se destacar ele tem que ser cem vezes melhor que o branco, se ele bater de frente, o cara não vai contratar o negro. O negro vai pelo talento dele, ele tem que se destacar muito para ele conseguir vencer”.
Isto é, a dificuldade que o negro encontra para “subir na vida” e assumir posições importantes de prestígio na sociedade capitalista não porque pintam o negro como inferior, mas porque ele efetivamente é inferior. Não biologicamente, como tentou se provar no passado, mas socialmente. O negro é oprimido porque foi introduzido à sociedade brasileira em uma condição de opressão. Ninguém escreveu teses para demonstrar sua inferioridade, não foram criadas escolas para ensinar que o negro é ruim, nem os cientistas da época se preocuparam em estudar sua genética: o negro no Brasil já nasce como um povo conquistado, obrigado a doar sua força de trabalho para a classe dominante.
A única forma de impedir que o negro seja vítima de qualquer opressão, portanto, é destruindo a opressão estabelecida sobre ele. Do contrário, para deixar o degrau mais baixo da pirâmide social, o negro precisaria pôr outro setor no lugar, o que jamais iria acontecer. A “luta” de um Silvio de Almeida da vida, neste sentido, não é para que os negros que são esmagados pelos poderosos se libertem de sua opressão, mas sim que um ou outro negro — de preferência, ele próprio — seja convidado para se juntar ao clube do punhado de pessoas que oprimem as demais.
O besteirol em torno do racismo estrutural apresentado por André Borghi tem, no entanto, outro objetivo latente. Não só sua tese para a opressão do negro é um beco sem saída, como acaba por se juntar a uma campanha que vem bastante a calhar para o imperialismo neste momento. Isto é, a pressão para que o brasileiro não tenha orgulho de sua seleção e, assim, se volte contra ela. No final das contas, se o Brasil é um país mau, que “nunca” teve técnicos negros, não merece os seus torcedores. Melhor seria nem competir.
E não só o futebol deveria ser deixado de lado. Melhor o país nem existir. Os “antirracistas” de plantão não estão torcendo por mais técnicos negros na seleção. Estão torcendo para que o Brasil deixe de existir.
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