O tratamento completamente irresponsável da Televisa com o material produzido por R.G.B., que ocorre desde os primeiros anos das gravações (e esculhambando totalmente dos anos 80 pra frente), se confirma totalmente, com diversas provas de adaptação das fitas originais, recortes de frames (e até cenas completas) e arquivamento de episódios considerados "minimamente danificados". O fato de CH ter subitamente saído do ar mundialmente em 2020, após 50 anos consecutivos em rede, só comprova que a Televisa queria, há muito tempo, se desassociar à CH.
O que impedia a Televisa de ter feito isso antes, talvez, era o fato do grande criador das séries, R.G.B. (Chespirito) ainda estar vivo, e apesar da enorme falta de caráter da Televisa com suas obras, ainda expressava um mínimo de gratidão pelo "velho". Isso explica o porquê da última renovação de contrato dos direitos de uso dos personagens de Chespirito pela Televisa foi assinado com o próprio envolvido nas negociações
Como o contrato apenas iria se encerrar em meados de 2020, a Televisa, após o falecimento do R.G.B., teve todo o tempo e espaço para preparar o terreno, e assim não mais lidar com o material CH - apenas para negociar transmissão em outras emissoras, e pra bloquear os vídeos CH na Internet; só pra isso a Televisa realmente deu atenção para o material. Só ver, desde o falecimento do Chespirito, não houve nenhuma grande revelação de CH por parte da Televisa, nenhum episódio perdido restaurado (e voltar à transmissão), nada relacionado a um novo "Chaves animado" (o Chaves Kart foi só cortina de fumaça mesmo), nenhum vazamento intencional, nada. Basimente, a Televisa só arregaçou as mangas para as produções mais recentes delas, novas, do zero. Aos poucos livrando-se do que
era antigo, pra ela, como CH.
O filho, R.G.F., que com certeza sabia desse tratamento indiferente da Televisa com as séries de enorme sucesso que ali foram desenvolvidas, queria seguir outro caminho, e com razão. Ele, de todos ali que o Fórum conseguiu interagir, foi um dos pouqíssimos realmente dispostos a recuperar algo do material de CH, e talvez o único que fez isso na prática, foi lá, revistou todo seu acervo particular, e não duvido que tenha feito reinvidicações à Televisa sobre o material arquivado. A relação entre eles já não era boa, e faz tempo. Mas ainda acho que isso não foi decisivo pra Televisa não querer renovar o contrato para transmitir CH. Como eu disse, a Televisa queria fazer isso há muito tempo atrás. Se duvidar, bote décadas nisso. A Televisa queria garantir que não iria ter prejuízos grandes ao tirar CH de sua grade, e que as novelas (e o resto) compensariam o lucro do anterior. E como postaram aqui no tópico, realmente isso aconteceu, a Televisa não sentiu no bolso tal processo. Aparentemente, apenas no Brasil o interesse em CH era realmente relevante, enquanto em outros países, o público era um pouco mais restrito (não sei se o público jovem dos outros países tem tanta afinidade com CH igual se tem aqui no Brasil, onde a maioria das pessoas abaixo de 18 anos com televisão em casa já assistiram CH)
Vem aí o ponto-chave:
o esforço infindável da Televisa para limar CH e sua "descentralização generalizada" antes do fim do contrato. Basicamente, até 2016, CH era um conteúdo completamente descentralizado. Um multiverso legítimo. Se podia assistir CH pela televisão, pelo Youtube, pelo streaming, pelo DVD, os downloads de episódios eram liberados, se bobear passava CH até no visor do micro-ondas - enfim, CH estava em tudo, e o papel da Televisa em meio a isso tudo era basicamente irrelevante. Seria necessário combater essa livre distribuição de CH. E assim, começou pela proibição de downloads de episódios por parte de fóruns parceiros (e em qualquer outro meio de acesso - apesar de, em fóruns muito específicos, você ainda acha os links de download dos episódios). Depois, a censura deliberada de episódios CH no YouTube (focado intensamente no Chapolin, não sei por quê, mas...). E por sim, com o fim do contrato, saindo dos meios de streaming de vídeos e séries, canais de rede fechada, e no final, todas as redes de televisão e distribuição (só o que ainda sobrevive de CH livremente é o YouTube, talvez porque pela quantidade absurda de conteúdo CH na plataforma, já era um caminho sem volta, e a Televisa preferiu não se desgastar a ponto de usar ferramenta de exclusão geral de vídeos, até porque fazer isso já seria demais, a revolta seria muito grande.
Definitivamente, começou uma nova era na Televisa - e na televisão mundial em geral.
A Televisa não é mais a emissora do Chaves/Chapolin/etc. Finalmente, se desassociaram do antigo, do velho, do que é bom, mas que não era mais plausível à nova política de produção de conteúdo da emissora. Como sabem, 2020 é o ano em que nada mais será o mesmo, e talvez, quase tão impactante e divisor de águas quanto 1945. 2020 também é o famigerado ano dos "cancelamentos". Os cancelamentos mais direcionados seguem premissas de combate a temáticas consideradas "tradicionais" e "estabelecidas". O público jovem, cuja maioria não concorda com o que se considera "tradicional", possui muita resistência a conteúdos, por exemplo, dos séculos anteriores, do começo do século, dos anos 70, 80, 90 e se bobear até mesmo do início dos anos 2000, considerando que pra eles o conteúdo dessa época é inevitavelmente carregado de ideias culturais de dominação, opressão de minorias e privilégios de gênero - mesmo que tal conteúdo não replique em nenhum momento tais comportamentos "de época". Prova disso, é a incessante tentativa de grupos jovens de internet tentar "cancelar" Chaves, e sempre falhando. Trazendo argumentos absurdos e falaciosos que pouco comprovam que o programa realmente deveria ser "cancelado" e boicotado pela juventude por trazer algo de "tóxico".
Aliás, se esses grupos realmente assistissem CH e conhecessem a maioria dos episódios, conseguiriam achar momentos pontuais dentro desses programas que soam realmente inadequados pros dias de hoje e assim queimar de vez a imagem de CH pros mais jovens - mas felizmente são só pessoas que viram uns 3 episódios, e não gostaram só por se tratar de um programa antigo.
"Programa antigo", aliás, é a razão da qual a Televisa quis "aposentar" o programa e não renovar os direitos. Talvez preocupada com a possível queda de audiência do programa entre o público da próxima geração, totalmente aversa à conteúdos pré-2000? Talvez vendo que, sem o R.G.B. pra possivelmente cobrar a renovação dos termos e de manter seu legado vivo nas televisões, não devia mais satisfação a ninguém (nem mesmo ao Fernández) e se via livre para eventualmente tirar o programa de seu catálogo?
O que sabemos é que a Televisa, com toda certeza, está focando no público mais jovem, e isso condiz inclusive com a temática de sua programação, livre do "velho" e abordando mais e mais "temáticas da nova sociedade" (inclusive é a mesma coisa que a Globo tá fazendo, se desassociando do "velho", "tradicional" e "conservador" - que não faz nem 20 anos que a mesma tanto propagava - e abraçando as novas abordagens). Realmente, CH ficou "velho" para os interesses da emissora. A prova de que a Televisa lucrou mesmo após o fim da transmissão de CH só prova que a aposta realmente deu certo, e o público majoritário da empresa é realmente indiferente à CH.
Triste pra todos nós, fãs de CH, que teremos que aceitar que viramos uma fan-base de conteúdo "histórico" e "restrito". Tipo aqueles fãs de Doctor Who, ou fãs de animações dos anos 80, entre outras relíquias...
CH voltará um dia? Difícil dizer. A quase certeza é que se voltar, não será o mesmo. E, pra CH realmente voltar e ser relevante na nova sociedade, terá que abandonar sua essência "setentista", e abraçar o politicamente correto. Qualquer outro meio que envolva a volta de CH com a mesma essência do passado, ou talvez até a volta do material original, será de forma muito restrita e sem praticamente nenhum apoio de qualquer grande emissora.