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Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 11:03
por Bgs
Pesquisando os mais diversos artigos científicos para pautar minha pesquisa acadêmica, resolvi tentar buscar coisas que remetessem a Chespirito e a criação das suas séries, apenas como curiosidade. Existem alguns poucos trabalhos que tem como tema principal as séries CH, mas um deles em especial me chamou a atenção. O trabalho foi escrito pela estudante Priscila de Andrade Rodrigues pela Universidade Federal de Santa Catarina como Trabalho de Conclusão de Curso de História, e tem como título: Movimentos friamente calculados: política, televisão e cultura em Chapolin Colorado (1970-1979). O mais interessante é que a Priscila usou o fórum como fonte (Lista CH), e me pergunto se ela chegou a criar uma conta por aqui.

O trabalho pode ajudar a entendermos a dimensão política da obra de Chespirito, que insistia em se proclamar apolítico, e esse trabalho deixa bem claro o quanto isso não existe.

Vocês podem ler o trabalho completo aqui: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/179193

Vou resumir alguns pontos:
Como se dá o processo de criação de personagem
A imaginação do autor no momento da criação do personagem é limitada pelas suas experiências sociais, por sua memória, pelo o que o autor chama de seu universo inicial

Chapolin como obra saítirca
Ao analisarmos a forma como Bolaños trata determinadas questões sociais em sua obra, podemos considerar que o autor faz uso da sátira como um recurso linguístico para apresentá-las sob a ótica de um juízo negativo. Ora apresentando os indígenas de forma estereotipada, como uma civilização ‘atrasada’ que não conhece as ‘benesses’ do progresso, ora satirizando a intervenção estadunidense no México na figura do ganancioso herói Super Sam, a sátira é um elemento que perpassa a obra de Bolaños, sendo o próprio personagem Chapolin uma visão satiríaca do que seria um modelo de herói latino-americano: tonto, estúpido, atrapalhado, sem recursos, medroso, porém com um bom coração e rígidos valores morais.

Bufallo Bill, resistência armada e indígenas
Entretanto, a moral que esta cena busca construir mediante a fala de Chapolin é de que mesmo que muitos crimes tenham sido cometidos contra as populações indígenas ao longo da história, estas não somente despossuem o direito de usar da violência como um instrumento de luta, como a solução apontada é a da conciliação e da institucionalidade democrática – pois subentende-se que Bufallo Bill é preso por Chapolin no final do episódio. Acreditamos que esta concepção de moral em Bolaños possa estar intimamente relacionada com a sua forte devoção ao catolicismo e sua descrença na luta
revolucionária.

Episódio Limosnero y Con Garrote: relações de trabalho, mendigos e criminalidade
Em um prezado momento, este rouba o dinheiro de sua própria filha que recém havia pedido uma esmola para comprar comida. Abalada por ter sido roubada por seu próprio pai, ela pede pelo auxílio de Chapolin. Podemos perceber na construção do personagem do pai, uma representação deturpada daqueles que se encontram em situação de rua, os apresentando como indivíduos perigosos, oportunistas e que tendem facilmente a criminalidade.
Assim que Chapolin chega ao local, começamos a perceber os limites da caridade do herói na forma com a qual este se relaciona com a moradora de rua. Chapolin logo faz piadas com o gênero desta e com sua aparência, primeiro colocando que gostaria de conversar “de homem para homem” com esta, para depois afirmar que gostaria de falar “de homem para espantalho”. A personagem como uma moradora de rua é assim negada de sua identidade feminina por Chapolin ao momento em que para este ela ‘parece homem’, ou mesmo um objeto inanimado e não-humano como um espantalho
Em seguida, Chapolin entrega a pedinte uma pequena quantia em dinheiro e diz que se era para isso que ela o chamou, a situação estava resolvida. Entretanto, a moradora de rua insiste que o herói precisa lhe ajudar a recuperar o dinheiro que o seu próprio pai roubou dela. Chapolin concorda com uma condição que o herói coloca nos seguintes termos: “você vai me prometer que esta foi a última esmola que você pegou. E que de hoje em diante vai procurar trabalho honrado”
O interessante é que essas visões do Chespirito não estão óbvias na tela, e por isso um olhar atento de uma pesquisadora pode nos ajudar a compreender melhor a forma conservadora como ele pensava e nos auxiliar a não perpetuar preconceitos. A piada em relação a homossexualidade do Batman e Robin que gerou polêmica e foi alterada pelo Multishow é outro dos pontos que poderiam caber nesse artigo. Pensando melhor hoje, apesar de achar a discussão exagerada, devemos entender Chespirito como um produto do seu tempo, e nos educarmos a não repetir esses comportamentos que hoje já estão ultrapassados.

Coloquei o título do tópico como uma pergunta pra que vocês pudessem acrescentar mais exemplos. Quem leu a autobiografia do Chespirito, tipo o @James Revolti, pode colocar mais exemplos aqui, pelo que sei ele termina seu livro falando da eleição do Vicente Fox.

Quem é jovem e tem a pretensão de iniciar uma graduação pode ter nesse tópico um primeiro contato com a vida acadêmica e quem sabe servir de inspiração para futuros trabalhos.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 13:56
por Zenon CH
Acho que é interessante notar o posicionamento do Professor Jirafales nas duas versões de "O dia da criança" de 79 e 91 diante o protesto das crianças. Enquanto no primeiro o professor apenas diz concordar com as crianças, no outro o Bolaños aproveita pra incluir na fala dele a repulsa pelos protestos de rua, que causariam prejuízos de várias maneiras.

Poderia ser um caso de mudança de posicionamento dele quanto ao assunto, ou simplesmente se aproveitou da versão de 91 pra deixar claro algo que sempre pensou.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 14:04
por Chaves do 8½
Há casos bem mais explícitos também, como as várias versões de O professor apaixonado.

Roberto era propenso a fazer piadas com deficientes ou simplesmente pessoas diferentes do que era aceito como o "normal".

Ao mesmo tempo, ele se arrepende de ter criado a personagem Pópis, com sua voz fanha. Ao receber cartas do pai de um telespectador que expõe a situação de seu filho, gozado na escola por causa do mesmo problema de fala, ele resolve reapresentá-la mais tarde sem essa característica vocal.

Por isso, para Roberto, assim como para muitos, ao jogar uma toalha sobre o indivíduo, ao retirar seu senso de unidade consciente, ele pode livremente fazer humor às custas dele. É a desumanização do sujeito que gera essa comicidade.
A partir do momento que você volta a percebê-lo humano, a humanizá-lo, com suas dores e sofrimentos, consequência das piadas, já não há graça.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 15:45
por Misterpom
Em Chespirito as mulheres geralmente são mais inteligentes e sensatas do que os homens, apesar de também rolar o caso de ter "damas em perigo". Seria Chespirito um machista ou alguém que admira as mulheres e seus direitos? Chespirito também fala muito da ganância e dos dilemas da vida de privilegiados. Seria ele anticapitalista ou só é seu lado católico? Complicado.

A piada do Batman e Robin não é homofóbica de forma alguma e sequer é pejorativa. Não há nada de errado na sugestão de um casal homoafetivo ir para uma lua de mel. A piada obviamente funciona pelo fato ser inesperado, já que Batman e Robin não são LITERALMENTE parceiros. O resto é exercício imaginário de justiceiro social e outros juízes da moral e decência.

Se por um lado um mendigo é retratado como ladrão em Chapolin, sua maior criação, um órfão que não deixa de ser mendigo, é tratado de forma bastante humana.

Fora que existe a sugestão de que o simples fato de um personagem mendigo ser ladrão significa que NECESSARIAMENTE Chespirito acha que todos os moradores de rua são mendigos. É uma generalização sem base. Infelizmente, como é comum, há pouco rigor lógico em muitos trabalhos acadêmicos de humana. Esse é mais um caso de "criatividade acadêmica". Também não passa pela cabeça dessa gente que nem todo personagem que um autor escreve é uma expressão do seu credo político.

Esse é o problema dessas interpretações acadêmicas. O escritor lê o que quer, extrapola bem além do razoável até conseguir chegar à conclusão desejada. Por isso se aproveita muito pouco dessas monografias.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 15:54
por Dona Florinda cheirando cola
Ótimo tópico pra ler tomando café

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 16:03
por Bgs
Zenon CH escreveu:Poderia ser um caso de mudança de posicionamento dele quanto ao assunto, ou simplesmente se aproveitou da versão de 91 pra deixar claro algo que sempre pensou.
É verdade, Zenon.
Dom Chapolin de la Mancha escreveu: Por isso, para Roberto, assim como para muitos, ao jogar uma toalha sobre o indivíduo, ao retirar seu senso de unidade consciente, ele pode livremente fazer humor às custas dele. É a desumanização do sujeito que gera essa comicidade.
A partir do momento que você volta a percebê-lo humano, a humanizá-lo, com suas dores e sofrimentos, consequência das piadas, já não há graça.
Meu querido, estou adorando seus posts aqui no fórum. Foi uma grata surpresa você ter (re)aparecido por aqui. =)
O Disco Voador escreveu:Ótimo tópico pra ler tomando café
Tô fazendo isso agora, coincidentemente. :P

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 16:17
por Bgs
(ow não juntem os posts, pfv)
Misterpom escreveu:Em Chespirito as mulheres geralmente são mais inteligentes e sensatas do que os homens, apesar de também rolar o caso de ter "damas em perigo". Seria Chespirito um machista ou alguém que admira as mulheres e seus direitos? Chespirito também fala muito da ganância e dos dilemas da vida de privilegiados. Seria ele anticapitalista ou só é seu lado católico? Complicado.
A Priscila aborda essa questão dos privilegiados na sua monografia referenciando o episódio O Presente de Casamento. Quando o Chapolin toma a decisão de convencer o advogado a presentear tanto a filha do ministro quanto a filha do porteiro com uma televisão, ele se mostra preocupado com as relações de desigualdade social e distribuição de renda. Segundo a Priscila, não é um discurso anticapitalista ou comunista, mas de caridade, o que está diretamente relacionado a moral cristã.
Misterpom escreveu:Fora que existe a sugestão de que o simples fato de um personagem mendigo ser ladrão significa que NECESSARIAMENTE Chespirito acha que todos os moradores de rua são mendigos. É uma generalização sem base. Infelizmente, como é comum, há pouco rigor lógico em muitos trabalhos acadêmicos de humana. Esse é mais um caso de "criatividade acadêmica". Também não passa pela cabeça dessa gente que nem todo personagem que um autor escreve é uma expressão do seu credo político.
Mas ficou claro o preconceito em relação a quem vive em situação de rua, o que é um pensamento totalmente comum, tanto naquela época quanto hoje em dia. Não é porque alguém vive em condições de rua que não quer trabalhar, como ele afirma no episódio.
Misterpom escreveu:Esse é o problema dessas interpretações acadêmicas. O escritor lê o que quer, extrapola bem além do razoável até conseguir chegar à conclusão desejada. Por isso se aproveita muito pouco dessas monografias.
mas você chegou a ler o artigo?

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 16:59
por Andre Cabral
Não vejo o Chespirito como um socialista/comunista ou coisa do gênero, ele coloca os personagens como humanos normais ao invés de meros mocinhos ou vilões, mas que todos tem um lado bom e outro mau. Isso é visível principalmente em Chaves onde os personagens tem seus momentos de caridade ou avareza; sabedoria ou burrice; agressividade ou mansidão; força ou submissão É uma das poucas obras de comédia na ficção que pinta o ser humano como de fato é. Vejo o Chespirito como um reacionário, muitas vezes nos episódios se valoriza a meritocracia o esforço próprio, patriotismo e por aí vai.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 17:03
por Rafael - Kiko botones forever
Misterpom escreveu: A piada do Batman e Robin não é homofóbica de forma alguma e sequer é pejorativa. Não há nada de errado na sugestão de um casal homoafetivo ir para uma lua de mel. A piada obviamente funciona pelo fato ser inesperado, já que Batman e Robin não são LITERALMENTE parceiros. O resto é exercício imaginário de justiceiro social e outros juízes da moral e decência.
Por si só, esse questionamento sobre o relacionamento dos dois já é questões de debate. Pelo o que eu sei, essa história deles serem homossexuais começou no seriado dos anos 60, quando houve muita amenização do personagem e um carinho além do normal do Batman com o seu parceiro. Isso só foi piorando ao passar dos anos, quando os quadrinhos foram na mesma vibe de mostrar um Batman mais politicamente correto (o Comics Code Authority ajudou também). Os fãs mais hardcore do Batman não gostaram nem um pouco nisso e quem já era mais velho e malicioso já ficava tirando uma justamente por causa dessa relação que transpareceu "colorida". O Batman só voltou a ficar sério com Batman: The Dark Knight (1986), mas houve tentativas anteriores de apagar essas gracinhas e deixar o tom do personagem mais sério (com as fases do Don Newton, Jim Aparo ainda nos anos 70). A série fez muito sucesso e um monte de gente fazia piada (como o Chespirito fez).

E falando do Chespirito, temos que levar em consideração o mesmo que fizeram com Hergé: Tudo foi feito no seu tempo. Mas é claro que muita coisa envelheceu mal. No caso do Hergé, há o famoso caso de Tintim no Congo (em que sua versão integral foi publicada pela Globo em 2016) em que o preconceito contra os Africanos é absurdo. Houve uma mexida ali e acolá no texto em versões posteriores e até a republicação original, mas isso demorou muito tempo. Mas mesmo lendo essas obras, é correto crucificar e querer "mexer" nelas? Tudo o que vemos e que consideramos errado, era totalmente normal até pouco tempo atrás. Precisamos ter a mente mais aberta e ter vontade de estudar ainda mais esse material para ver a evolução do mundo, tanto política como social. Apesar de que, do jeito que tá as coisas... :vamp:

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 17:05
por Chaves do 8½
Borges escreveu:Meu querido, estou adorando seus posts aqui no fórum. Foi uma grata surpresa você ter (re)aparecido por aqui. =)
Fico feliz com isso, meu caro. Obrigado. :)
É muito gratificante lê-lo também.

Este post é maravilhoso. Li o começo da monografia, mas tô meio atarefado aqui com um trabalho pra faculdade também... aí vou deixar a leitura do resto pra depois.
Enfim, obrigado por ter compartilhado a descoberta. Já já sou eu que estou escrevendo a minha própria monografia. Não tenho um tema já definido. Quem sabe isso ajuda... :P

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 30 Mai 2018, 17:12
por Rafael - Kiko botones forever
Borges escreveu:
Misterpom escreveu:Fora que existe a sugestão de que o simples fato de um personagem mendigo ser ladrão significa que NECESSARIAMENTE Chespirito acha que todos os moradores de rua são mendigos. É uma generalização sem base. Infelizmente, como é comum, há pouco rigor lógico em muitos trabalhos acadêmicos de humana. Esse é mais um caso de "criatividade acadêmica". Também não passa pela cabeça dessa gente que nem todo personagem que um autor escreve é uma expressão do seu credo político.
Mas ficou claro o preconceito em relação a quem vive em situação de rua, o que é um pensamento totalmente comum, tanto naquela época quanto hoje em dia. Não é porque alguém vive em condições de rua que não quer trabalhar, como ele afirma no episódio.
Sim, isso fica meio que explícito, e é ainda pior que não teve nenhuma reação mendigo ou da filha dele, como uma diálogo deles falando que não tem condiçoes de trabalhar ou algo similar. Do jeito que acaba, parecem que eles concordam que são vagabundos e que estão na rua por querer.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 31 Mai 2018, 00:14
por Bgs
Entrei em contato por e-mail com a Priscila pra saber se há possibilidade dela entrar aqui e agregar na nossa discussão. Outra coisa que descobri sobre a Priscila ao buscar sobre seus trabalhos é que ela é provavelmente uma fã como a gente e escreveu muitos outros artigos sobre as séries CH que eu não tinha encontrado na minha primeira pesquisa ao criar o tópico:

1. Sem querer, querendo: catolicismo e política na autobiografia de Roberto Gómez Bolaños: http://eventos.udesc.br/ocs/index.php/S ... le/741/466

2. Que bonita vizinhança: Projetos urbanos em disputa no seriado Chaves

3. Sigam-me os bons: representações sociais do latino-americano em Chaves e Chapolin Colorado

4. Não contavam com a minha astúcia: Chapolin Colorado e a edificação do monopólio Televisa


Não encontrei o link dos outros artigos que colei aqui. Pra quem quiser se aprofundar de verdade na obra de Chespirito através de um olhar com senso crítico, ler esses trabalhos é super interessante.
Rafael Sales escreveu: E falando do Chespirito, temos que levar em consideração o mesmo que fizeram com Hergé: Tudo foi feito no seu tempo. Mas é claro que muita coisa envelheceu mal. No caso do Hergé, há o famoso caso de Tintim no Congo (em que sua versão integral foi publicada pela Globo em 2016) em que o preconceito contra os Africanos é absurdo. Houve uma mexida ali e acolá no texto em versões posteriores e até a republicação original, mas isso demorou muito tempo. Mas mesmo lendo essas obras, é correto crucificar e querer "mexer" nelas? Tudo o que vemos e que consideramos errado, era totalmente normal até pouco tempo atrás. Precisamos ter a mente mais aberta e ter vontade de estudar ainda mais esse material para ver a evolução do mundo, tanto política como social. Apesar de que, do jeito que tá as coisas... :vamp:
Eu também acho, Sales. É como você disse, a gente precisa entender as obras como um produto do seu tempo, retratando um contexto social da década de 1970.

E legal você ter explicado o lance do Batman, não sabia da onde tinha surgido essas piadas sobre o suposto romance entre os dois.
Dom Chapolin de la Mancha escreveu: Este post é maravilhoso. Li o começo da monografia, mas tô meio atarefado aqui com um trabalho pra faculdade também... aí vou deixar a leitura do resto pra depois.
Enfim, obrigado por ter compartilhado a descoberta. Já já sou eu que estou escrevendo a minha própria monografia. Não tenho um tema já definido. Quem sabe isso ajuda... :P
Qual o curso que você tá fazendo?

Ah, mas espero que inspire mesmo :P, ou que pelo menos alguém saia desse tópico entendendo que esses conceitos de pessoas apolíticas ou livres de ideologia não existem nem em séries tão simples quanto Chaves e Chapolin.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 31 Mai 2018, 03:20
por Misterpom
Borges escreveu:(ow não juntem os posts, pfv)
Mas ficou claro o preconceito em relação a quem vive em situação de rua, o que é um pensamento totalmente comum, tanto naquela época quanto hoje em dia. Não é porque alguém vive em condições de rua que não quer trabalhar, como ele afirma no episódio.
Ficou claro o preconceito do personagem escrito por Chespirito para aquela esquete. Isso não significa necessariamente que ELE pense dessa forma. Nem todo personagem escrito por um autor é um proxy para as suas opiniões políticas. Essa extrapolação quem faz é a autora. Esse é o meu principal problema com essas interpretações acadêmicas. Nas entrelinhas existe essa coisa de que todo microcosmo esconde uma motivação política ulterior. Uma personagem feminina é X? Então deve ser porque Chespirito considera mulheres X. Um personagem pobre é Y? Então isso revela que Chespirito pensa que todo pobre é Y. Essa generalização/extrapolação quem faz é a autora.

Dona Florinda e os outros personagens de Chespirito vivem chamando o Seu Madruga de vagabundo. Apesar do comportamento preguiçoso do mesmo, ele é DE LONGE aquele que mais trabalha na vila. Já teve todo tipo de profissão. Se ele tem um defeito é que ele trabalha demais em coisas demais em vez de focar em uma coisa só. Sem considerar que a Dona Florinda vive de pensão do marido. Por esse ângulo dá pra interpretar a Dona Florinda como alguém que defende a visão de Chespirito que pobreza é fruto da vagabundagem/consequência natural da "meritocracia" ou como alguém que que representa o contrário: uma crítica velada de Chespirito às pessoas elitistas que se acreditam superiores às outras por estarem em uma situação econômica mais privilegiada, quando no final das contas elas sequer trabalham e vivem de renda. Resumindo: vai prevalecer a ideologia de quem estiver escrevendo a crítica. Por isso eu acho de pouco rigor lógico achar que existe uma resposta definitiva do que Chespirito pensa.

Esse é o meu problema com esses academicismos. Eles raramente são razoáveis. Geralmente possuem uma visão ideológica que tentam encaixar de qualquer jeito. Isso me lembra aquela obra ridícula chamada "Para ler o Pato Donald" em que absolutamente TUDO que as porras dos patos fazem revela uma motivação ulterior imperialista americana malvadona. Evidentemente essa interpretação sobre Chespirito não chega nem perto da cafonice marxista da obra dos chilenos. É algo muito mais leve e razoável, mas que ainda assim comete o mesmo erro e procurar elementos para conseguir extrapolar e chegar à conclusão que convém à autora.

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 31 Mai 2018, 04:00
por BOLAÑOS ERA MAÇOM
nenhuma

Re: Chespirito e Política: qual a relação?

Enviado: 31 Mai 2018, 12:06
por Bgs
Misterpom escreveu: Ficou claro o preconceito do personagem escrito por Chespirito para aquela esquete. Isso não significa necessariamente que ELE pense dessa forma. Nem todo personagem escrito por um autor é um proxy para as suas opiniões políticas. Essa extrapolação quem faz é a autora. Esse é o meu principal problema com essas interpretações acadêmicas. Nas entrelinhas existe essa coisa de que todo microcosmo esconde uma motivação política ulterior. Uma personagem feminina é X? Então deve ser porque Chespirito considera mulheres X. Um personagem pobre é Y? Então isso revela que Chespirito pensa que todo pobre é Y. Essa generalização/extrapolação quem faz é a autora.
Sim, um personagem não necessariamente representa os ideais políticos do autor, mas nesse caso é. O Chapolin faz um julgamento moral sobre quem é mendigo e pede esmola, o que não acontece com o personagem do Seu Madruga.
Misterpom escreveu: Esse é o meu problema com esses academicismos. Eles raramente são razoáveis. Geralmente possuem uma visão ideológica que tentam encaixar de qualquer jeito. Isso me lembra aquela obra ridícula chamada "Para ler o Pato Donald" em que absolutamente TUDO que as porras dos patos fazem revela uma motivação ulterior imperialista americana malvadona. Evidentemente essa interpretação sobre Chespirito não chega nem perto da cafonice marxista da obra dos chilenos. É algo muito mais leve e razoável, mas que ainda assim comete o mesmo erro e procurar elementos para conseguir extrapolar e chegar à conclusão que convém à autora.
Se a gente compreender que o processo de criação de um personagem se dá através das experiência sociais do autor, então afirmar coisas do tipo são válidas. O Chapolin, por ser um herói completamente carente de recursos (assim como o Chaves, aliás), representa um contexto social de uma América Latina pobre e subdesenvolvida, como o próprio Roberto já mencionou em certas ocasiões. Da mesma forma, é impossível desassociar a figura do personagem do Super Sam a uma visão que Chespirito tinha dos Estados Unidos, principalmente num contexto de Guerra Fria. A autobiografia do Roberto deixa bem claro alguns desses pontos que se refletem claramente em sua obra, principalmente no que se refere a ética e condutas morais.

É impossível separar a obra do autor. Em Peanuts, por exemplo, os quadrinhos refletiam aspectos da vida de Charles Schulz, em Robinson Crusoé, existe todo um contexto de Grandes Navegações e tráfico de escravos, que reflete diretamente o período em que a obra foi escrita.
Anchorhead Kid escreveu:nenhuma
vdd luke